Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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A possibilidade da qualidade

Entre a vergonha e o medo

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Ideias

2012-12-19 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Parece quase obrigatório, nos dias que antecedem as festividades de dezembro, termos que nos sujeitar a uma reflexão interna daquilo que foi o nosso último ano. Iniciam-se os votos de lá para cá (e de cá para lá), os desejos para que, os tempos depois de uma qualquer meia-noite sejam melhores e que o próximo ano, se não for mais agradável, pelo menos que seja igual.

É uma azáfama social quase como extenuante, para alguns de boa vontade, mas para outros de grande contrariedade. Especialmente após a leitura atual de algum jornal, ou a visualização de um telejornal (seja em que canal televisivo for…). Aproximam-se tempos difíceis, segundo dizem alguns. Outros dizem que são tempos de mudança. Eu pergunto: serão tempos que nos darão a possibilidade de viver a qualidade daquilo que somos?

Parto do pressuposto que o ser humano, por si só, apresenta e possui qualidade. E qualidades. Se assim não o acreditasse, não teria enveredado pela profissão de Enfermagem e pelo trabalho que optei, neste momento, por desenvolver. Foram escolhas que me foram demonstrando, ao longo deste últimos anos, que a qualidade que o ser humano disponibiliza (e sem muitas das vezes estar consciente disso) deve ser aproveitada para a construção de algo melhor.

Como enfermeira ajudo os Outros nas suas fases de transição, e de acordo com o Conselho Internacional de Enfermeiros, esses Outros são os indivíduos, as famílias, os grupos e as comunidades, com doença ou saudáveis, em todos os contextos. Com todos estes Outros podemos (Nós!) construir melhor e com qualidade. Mais saúde e com qualidade. Mais qualidade na melhor construção da Enfermagem.

Na área da saúde, assim como nas outras áreas, assiste-se a uma crescente e constante preocupação da qualidade dos cuidados, qualidade das unidades terapêuticas, qualidade do atendimento, entre outras qualidades, com o principal objetivo de assegurar o melhor desenvolvimento dos serviços de saúde. Não poderia concordar mais com esta construção, porém, ao mesmo tempo, questiono-me qual será o preço de toda esta frenética procura.

A possibilidade da qualidade passa a ser obrigatória, o que significa que não há escolha. Pergunto-me novamente se as pessoas que trabalham nos sistemas de saúde nacionais, sejam eles privados ou públicos, estão preparados e conscientes para esta situação. Porque para existir qualidade, a sua construção também deve ser efetuada com o uso das nossas qualidades e com o uso da nossa vontade.

As organizações de saúde, ao exporem os planos de melhoria e manutenção de qualidade aos seus colaboradores, deveriam primeiramente esclarecer conceitos, apresentarem definições e os riscos de tais planos. Torna-se necessário envolver os trabalhadores na ideia da qualidade de cada sistema de saúde onde se encontram a desenvolver funções. Criar o espaço para que os colaboradores possam retirar dúvidas, propor novas ideias e projetos. Ver em cada colabora-dor um aliado na construção dessa mesma qualidade.

Esta poderá ser uma construção na área da Enfermagem. Uma daquelas muitas que poderão ser efetuadas nos nossos sistemas de saúde portugueses, que promovem a envolvência, o crescimento do pensamento crítico aquando da tomada de decisão, a formação profissional e o desenvolvimento do conhecimento científico da-quilo que é a Enfermagem. Porque, afinal, é com qualidade que formamos os nossos enfermeiros portugueses - assim é o que nos dizem os países estrangeiros que os vêm recrutar.

Voltando ainda ao início, aquilo que somos ou poderemos vir a ser, tanto em Enfermagem como em todas as outras áreas, é marcado pela nossa procura de satisfação. Não nos devemos acomodar ou simplesmente nos entregar ao “sabor da corrente”. É que o problema surge…E por vezes não há corrente. Devemos estar cientes de que, a luta pela escolha da possibilidade de fazermos mais e melhor construção da qualidade, tanto nas nossas vidas como nas profissões, não se pode esgotar.

Para já, deixo-me ir arrastando, de boa vontade, na azáfama social dos dias que vivemos atualmente. Acredito que o próximo ano será melhor, não pelo meu otimismo ou até irrea-lismo, todavia por saber que, embora se avizinhem tempos difíceis, estes poderão ser vividos na procura da melhor qualidade. E na possibilidade de a poder escolher.

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