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' A Primavera nunca tem final', por Isa Meireles

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

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Conta o Leitor

2011-08-01 às 06h00

Escritor Escritor

Eu gostava de ter palavras, de conseguir dizer-te tudo o que não digo ou o que devia dizer. Eu gostava de ser sábia e escrever-te tantas coisas belas e infinitas, mas não posso. Não posso porque o nosso tempo acabou, porque os nossos olhos já não se cruzam mais em simultâneo; Porque o nosso jeito já não é o mesmo; Porque o meu sorriso já não se desnuda quando te vê; Porque as tuas palavras já não se encostam a mim antes de adormecer...

Simplesmente, as coisas mudaram e só restou o sal das lágrimas que choramos os dois, num tempo que outrora nos pertenceu, que outrora nos fez sonhar em conjunto com mil e uma ambições: Hoje já não.

Nós podemos pensar que as coisas nunca vão mudar e tomamos tudo por garantido, a verdade é que nem a Primavera dura para sempre e o Inverno é rigoroso.

Restou-nos a nós esta saudade, de uma despedida que acabou por não acontecer, de um ‘‘adeus’’ que ficou por dar ou por falar...

As despedidas nunca foram fáceis. Quem disse que eram? As despedidas deixam um sabor amargo na boca, um rasto de lágrimas pelos olhos ínfimos de desejo e um vazio incalculável no coração. As despedidas nunca foram breves ou repreensíveis...

Todos nós já tivemos vontade de nos despedirmos, de dizer adeus, de sonhar sozinho e abandonar todas as pessoas que nos acompanham. Sim, todos nós já tivemos em nós um lado de abandono, de frieza e incompreensão. Nunca tivemos coragem de explicar o porque da sua existência, o porque de sermos assim ou de outra maneira qualquer. A verdade, é que a culpa é das despedidas que ficam implícitas sem nunca chegarem a acontecer. Dessas dolorosas criaturas que nos assaltam de noite a casa e nos fazem sonhar com monstros nas restantes luas que se escondem no céu...

E nós protegemo-nos. Como somos frágeis, nós... Protegemo-nos porque somos seres-humanos com um medo imenso das despedidas, do dito ‘‘adeus, até um dia’’ ou simplesmente, porque odiamos promessas. Promessas daquelas que ouvimos quando nos ligam para o telefone, nós não atendemos e deixam mensagem:

-Tenho saudades tuas.
E desligam, desligam porque para eles ter saudades basta.
Depois, mais tarde, já nos dizem:

-Nada vai mudar, prometo.
E não soa bem. Nós sabemos que as coisas mudam, que a vida é uma montanha russa e que é impossível permanecer intacto nela.

A cor dos nossos olhos permanece igual, mas o seu brilho vai-se esbatendo ou fortalecendo; O nosso cabelo cresce ou é cortado; O nosso sorriso muda de feições; A nossa cara fica mais envelhecida.

O tempo passa e nós vamos com ele. Não sei como serão as vossas despedidas, ou como serão as minhas, sinceramente, aprendi que não podemos calcular quando elas chegam ou quando elas vão, quem fica e quem parte, quem merece e quem não é digno. Sinceramente, meus caros, sinto que nunca vamos saber, que cairemos sempre em erros comuns, vulgares e que por mais livros e ensinamentos que recebamos, será sempre igual.

A minha explicação é que nós, seres-humanos, temos uma imensa vontade de viver e quando alguém nos magoa, quando alguém se despede de nós sem um contacto físico, um olhar, um jeito, e se esse alguém for alguém que amemos muito, é duro, magoa e ficamos por aqui, sozinhos, com medo de quem virá.

Eu penso assim, que nós nascemos para nos proteger a nós próprios e, se às vezes, nós somos frios, não significa concretamente que estamos magoados, mas sim que temos medo de ser magoados e às vezes é mais fácil fugir desses Outonos que prevêem que as folhas caiam da nossa árvore, porém, deixando um rasto de tons avermelhados que nos apetece sentar e contemplar uma última vez.

Por isso, que mil Primaveras nos abracem após todo este Inverno de desgosto que nos assaltou a casa e nos escondeu a lua da janela... Porque hoje, eu quero ver as estrelas juntamente com as flores a germinar dessa terra que me resguarda os pés descalços; Flores essas, que murcharam e morreram e hoje, sem porquês, ressuscitam após uma despedida.

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