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À procura de elites para a TV que (não) temos

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

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Ideias

2013-10-06 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Por estes dias, a preparação de umas provas académicas, a escrita de um livro e a organização de uma conferência em Lisboa levam-me a pensar mais aprofundadamente nos critérios daqueles que são convidados para os estúdios de informação da TV portuguesa. Trata-se de um grupo reduzido de convidados. De uma elite, masculina, de Lisboa, recrutada essencialmente às classes política e jornalística.
Não são muitas as possibilidades para fazer circular uma opinião pelo espaço público televisivo. Os plateaux são palcos extremamente seletivos dos convidados. Num livro que escrevi para os 20 anos da TV privada, tive a oportunidade de conversar com várias personalidades que marcaram os últimos anos da TV portuguesa, confrontando-as com este quadro. As opiniões dividiram-se entre os que negaram esse dado, assegurando que os estúdios televisivos são espaços de assinalável diversidade de opiniões; os que reconheceram esse retrato, afirmando que tal constatação é inevitável por factores diversos; e os que defenderam uma mudança desta persistente tendência.
No primeiro grupo encontra-se o atual Presidente da República que diz ter havido “uma grande evolução” no campo televisivo, que criou um espaço público mais diversificado e mais participado. No segundo grupo está, por exemplo, José Eduardo Moniz, que defende que Portugal não tem muitas pessoas capazes de falar em televisão: “Normalmente são recrutadas dos jornais, porque escrevem artigos interessantes; ouvem-se nas rádios, e vai-se atrás delas; roubam-se noutro canal ou aparece alguém que nos diz que em determinada universidade há alguém com cabeça para isto ou aquilo. Não há outra forma de fazer isto. A TV não funciona como o futebol onde há uns ‘olheiros’ nos campos a ver quem é o melhor jogador.” No terceiro grupo há nomes como os de Francisco Pinto Balsemão para quem “em termos de opinião, o país, para além de Lisboa, estará pouco representado com regularidade”. No entanto, nenhum dos meus entrevistados pareceu favorável a uma abertura indiscriminada dos plateaux de informação. José Alberto Carvalho sintetiza assim essa posição: “A banalização do estúdio é complexa, porque os espectadores não validariam da mesma maneira aquele palco. Se é um palco, nem toda a gente pode lá estar”. Concordo com o diretor de informação da TVI. Há que selecionar com cuidado aqueles que são convidados para comentar a atualidade noticiosa. Mas esse cuidado deve também passar por uma seleção que atenda à especialidade daqueles que falam, à diversidade geográfica daqueles que são escolhidos, ao pluralismo das opiniões dadas.
Hoje, em Portugal, há uma grande profissionalização do comentário televisivo. Por culpa dos responsáveis dos canais de televisão. Por pressão daqueles que lá se instalaram e de lá não querem sair. Há, pois, que reequilibrar forças. Poder-se-ia dizer tal se consegue a partir de um movimento que deveria começar no interior das redações, mas isso também seria possível se o chamado “resto do país” criasse elites. Competentes. Com ideias. Capazes de se impor. Ora, é aqui que começam todos os problemas.

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