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À Semana

António Braga: uma escolha amarrada ao passado

À Semana

Ideias

2020-03-01 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Solteiros contra casados. Encaixo a derrota. Com solenidade inversa teria celebrado a vitória. Há razões que concorrem para um desfecho, e explicações simétricas para a eclosão do resultado contrário. Enuncio a mais insidiosa das causas que preside às belas sortes no relvado: a frescura mental, a disponibilidade incondicional para enfrentar um episódio de compe- tição, a conservação da frieza e do discernimento ao longo da partida.
Quatro que caem com estrondo, epidémico fenómeno que varre a nata do futebol nacional. Para vergonha pátria similar teríamos que descer ao ultimato inglês, às peneiras perdidas em Alcácer Quibir. Quatro de uma varada! Estariam todos fatigados, à beirinha de um esgotamento? Teriam reagido como quadrigémeos, por simpatia entranhada, ao excesso de espectativas? Já cheirava a final, dizia-se, quiçá dobrada. Quão imune é uma equipa à ecologia mediática da glória por encomenda, a vaidades clubísticas que crescem de modo canceriforme?
O vírus do nosso descontentamento. Ele há raça que nem para cair doente é boa. Andamos para aqui, tristes de todo, sem um cordão sanitário para apresentar, sem folgas forçadas à escala de uma região: pare-se o País, que o País escapa para a província, ou para borda d’água. Não fosse o amigo Maranhão, que andava embarcado a fazer pela vida, e ainda hoje não conhecíamos os méritos de um assento no tombo da moda. Eu, não é por nada, mas acho que as autoridades vão contratar meia dúzia de actores sem papel, duplos calejados em salto sem pára-quedas, para corona adoecerem. Entretanto, a doutora que trata destas coisas, prevê para cima de vinte mil infecções semanais no pico de lusa epidemia, com um milhão de infectados por grosso, e eu me pergunto: com que modelo estatístico? Não tarda nada temos painéis coronavirais em tudo quanto é canal de “informação”.
Fiéis à tradição. O PS vai acumulando derrotazinhas por soberba. Mais umas voltinhas e temos ressuscitadas as arrogâncias do dândi que por lá passou. Tal como as coisas se vão pondo, eu nem para encontrar a saída de emergência tomaria indicações de um oficial creditado do Largo do Rato. Quanto não se disse das virtudes coloquiais de Costa e seus príncipes! Porque pagos favores se apostam em canas rachadas? Com que finuras de mastim se esperam êxitos parlamentares que implicam cedências mútuas e reconhecimento de razões alheias? A Razão somos nós, dizem as vozes sonantes do PS, como um Luís de outros tempos terá dito «l’état c’est moi». Generoso me faço e, qual Quixote, lanço-me contra os moinhos de maré que escolham a pista do Montijo: o Montijo é um aeroporto, sim senhor, com terminal para hidroaviões ligeiros e molhe de iates de recreio, com acessos por passadiço rolante de bambu, obra com coberturas de ferro e vidro temperado, para panorâmico deleite de aves e sapais.
Polido e valente. Leio para o presente, para captar uma nuance a que não tivesse sido sensível, ou que de todo me tivesse escapado. Lemos, para que nos possamos apropriar do que está para lá dos nossos olhos. Temos sempre tempo para ler no passado. Poderei sempre reler Pulido Valente, o que já não poderei – e isso o lamento – é lê-lo no presente. Quantas vezes não me disse: gostava de escrever assim! Fogo bizantino. Que arda a Síria, que se desmorone, diz um turco de maus fígados. A Turquia é companhia arruaceira, do tipo que parte montras e incendia carros pela calada. A Turquia não quer perder o Curdistão, e para isso precisa que a instabilidade na região se mantenha. Vamos de arrasto, somos cúmplices.

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