Pensado pelo Arcebispo de Braga Dom Rodrigo de Moura Telles em 1720, em 1722 é inaugurado o “Recolhimento de Santa Maria Madalena” , também conhecido como Recolhimento das Convertidas. Com o intuito de albergar “mulheres de má vida, pecadoras que se convertem a Deus”.
Localizado na avenida central, este edifício com mais de 300 anos vê a sua história esmorecer ano após ano, esperando apenas cair no esquecimento dos bracarenses, desde que fechou as suas portas em 1998. Felizmente nem todos estamos dispostos a perder um marco da história da nossa cidade, e existem diversas entidades a defender a valorização e preservação deste Recolhimento, assim como da sua Capela com o retábulo barroco em talha dourada.
Numa breve pesquisa sobre o recolhimento é possível perceber que os dois anos da construção deste edifício no século XVIII foram, ironicamente, o único projeto a ser concretizado, e também o de mais rápida ação. Foi mais breve construir este edifício em 1720 do que preservá-lo em 2025.
Em 2012 é classificado como Imóvel de Interesse Público, o que garante um estatuto de preservação e proteção ao edifício.

Em 2013 é apresentado pela Câmara Municipal de Braga o projeto “Quarteirão das Convertidas”, que transformava o imóvel num equipamento de apoio à juventude. Ainda neste ano escrevemos uma das nossas primeiras crônicas sobre este imóvel, abordando a expropriação dos terrenos anexos às Convertidas iniciada no mandato anterior da CMB. Questionamos o destino deste imóvel falando-se de uma possível Pousada da Juventude, dada a sua estrutura em “celas”. Falava-se ainda de tornar o espaço num Museu, num Centro de Artes, e até numa Casa da Cultura. Destacando a importância de preservar e dar vida a este imóvel que merece abrir portas à comunidade.
Em 2015 houve uma intervenção no edifício de forma a travar o avançado estado de degradação, acabando por intervir na fachada e no telhado, obras que desde o início se mostravam insuficientes, mas que ainda assim seriam necessárias. Nesse ano, tal como nos anos seguintes, fomos sempre escrevendo sobre a incógnita do futuro do Imóvel de Interesse Público.
Em 2016 chega a notícia da intenção de venda do imóvel. Desde logo se levantaram vozes contra a venda do imóvel a um particular, pois o mesmo deveria ser de fruição pública e fala-se já nesse ano de atribuir a gestão do espaço à CMB após obras de restauro. Ainda nessa data o MAI demonstra interesse na recuperação e transferência do imóvel.
Alguns anos passaram, onde fomos sempre expressando o desejo de ver o Recolhimento das Convertidas receber o devido reconhecimento, para voltar a abrir as suas portas, voltando a servir a cidade como sempre o fez ao longo da sua história.

Em 2022 surge o projeto da construção de um Hotel nos terrenos anexos às Convertidas, um projeto exuberante na sua construção que diversas associações, previam danificar o Imóvel. Nesse ano a CMB, através do atual edil da cidade, voltava a projetar as Convertidas como um equipamento cultural.
Em 2024 é inaugurado o Hotel, e tal como previsto a sua construção acabou por danificar o Imóvel de Interesse Público. Apenas após a denúncia pública dos danos é que foram aplicados os devidos cuidados de restauro, nomeadamente a colocação da cruz original daquele local, que além de ter sido derrubada e partida, viu ainda a sua substituição acontecer por uma outra cruz sacerdotal, isto é, de apenas um braço, quando a original tem dois braços.

O que podemos concluir é que até a construção do hotel conseguiu ser um projeto mais ágil e até prioritário em relação à preservação e valorização deste espaço.
A preservação dos monumentos da nossa cidade é uma forma de mantermos a nossa identidade cultural, de transmitirmos a nossa história às gerações futuras, e de nos mantermos numa cidade viva com dinamização turística e económica. Esta preservação parece-nos urgente, e deveria ser uma prioridade. Contudo ainda hoje continuam as negociações sobre a permuta, indicando apenas que o desfecho pode estar para breve.
Qual será o destino do Recolhimento de Santa Maria Madalena?