Entre a vergonha e o medo
Ideias
2021-06-22 às 06h00
Se é usual dizer-se que não existem candidatos providenciais, há por cá um exemplo que quer mudar esse lugar comum.
Como é sabido, a política é “a arte do possível”, composta, como sempre tem de ser em democracia, por equilíbrios difíceis e estratificação de prioridades. Se é certo que entre o investimento na saúde ou na cultura, um político terá pouca margem de manobra para preterir o primeiro em favor do segundo, também não se deve cair na demagogia de considerar que a pintura de uma parede numa arrecadação de um hospital se sobrepõe à possibilidade de dotar um espaço cultural de um equipamento de som imprescindível para a sua plena operacionalidade. No fundo, não se podem confundir prioridades abstratas com prioridades concretas.
A gestão de um concelho e, sobretudo, de um concelho com a dimensão de Braga, exige esse trabalho de filigrana diariamente, sem prejuízo da perspetiva estruturada que nos é dada pelos pressupostos orçamentais anuais.
É por isso que é especialmente complexa a definição do catálogo de compromissos eleitorais com que os candidatos que verdadeiramente têm hipóteses de vencer se tendem a vincular.
Já aqui sublinhei elogiosamente a coragem da Coligação Juntos por Braga em disponibilizar aos cidadãos um site onde podem acompanhar a execução desses compromissos, facto que decorre desde a primeira vitória autárquica para a Câmara Municipal, em 2013.
Essa transparência e coragem servem como testemunho da frontalidade com que um projeto político se apresenta ao eleitorado, uma nota de maturidade democrática que é bem-vinda e deve ser replicada.
O paradigma da abertura, da assunção de responsabilidades e de contínua prestação de contas é raro na política, conhecida que é a ideia feita de que o julgamento político se faz apenas em eleições periodicamente convocadas para o efeito.
Não, não é assim e de tal modo o não é que existem órgãos competentes para a fiscalização constante do trabalho dos executivos, como as assembleias, a que acresce a insubstituível vertente do ativismo cívico e atento, que em Braga tem conhecido repetidos e relevantes exemplos.
Independentemente do maior ou menor acerto que cada um reconheça a essas iniciativas cidadãs, o que não pode ser negado é a sua profusa atividade em domínios tão díspares como o cultural, o desportivo, o social, o religioso ou ambiental.
Este sinal de maioridade cívica e política no atual contexto de relação entre eleitores e (potenciais) eleitos deve, por tudo isto, fazer estranhar o mais crente dos bracarenses quando é sujeito a mensagens providenciais, tão vagas quanto inconsequentes, vindas de candidaturas assumidas por antigos responsáveis autárquicos. Dizer que “há solução” não é uma certeza alicerçada em propostas concretas, mas a tradução do fracasso de quem, podendo oferecê-la no passado, se absteve de o fazer.
Há solução para o trânsito? Então porque não apresentá-la quando se assumia a condição de “super-vereador”. Talvez essa inação se explique pela simples condição de que os super-vereadores, como, de resto, os super-heróis só existem na banda-desenhada.
Reconhece, ao menos, o candidato Hugo Pires, que o atual executivo lançou iniciativas estratégicas de resolução dos congestionamentos deixados pela “obra socialista”, como a do Nó de Infias ou a do segundo troço da variante do Cávado que ainda recentemente entrou em construção?
E reconhece o intenso e extenso trabalho de valorização da rede pública de transportes e sua frota, a par do simultâneo e complexo saneamento das contas dos TUB, deixadas depauperadas pela gestão do executivo de que fez parte?
Há solução para a falta de creches? Porque não apresentar os resultados do contributo dado, enquanto deputado, para a ultrapassagem dessa carência? Talvez o não faça porque ele nunca existiu.
Conhece sequer, o candidato Hugo Pires, a resolução do Conselho Nacional de Educação, já de 2011, onde claramente se afirma que “As Autarquias devem ser capacitadas financeiramente para poderem exercer um planeamento da rede de educação e cuidados às crianças dos 0 aos 3 anos que seja eficaz”? Interveio nesse sentido?
Há solução para o disparar do preço das casas? Que iniciativas tomou em mãos para baixá-los ou contê-los?
Desconhece o candidato socialista o imenso esforço que foi posto em Braga na requalificação da habitação social e dignificação das condições de vida de quem mais precisa, um objetivo que se prolongará pelos próximos anos e em que já foram investidos vários milhões de euros?
É um facto que a diferença entre haver solução e procurar a solução é gramaticalmente singela. Retire-se ao “há” o “h” e mude-se o acento de agudo para grave e passamos rapidamente da promessa para a ação.
E essa, sim, deveria ter sido a grande mudança que o PS em Braga deveria ter empreendido, passar de um candidato e de um paradigma de promessas vãs e currículo político duvidoso, para um outro de concretização e provas dadas. Não foi assim, pior para todos.
13 Junho 2025
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