Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2021-04-06 às 06h00
O respeito é algo bonito. Elegante. E, mais do que belo ou gracioso, o respeito é um alicerce. Talvez por isso seja, às vezes, tão difícil de manter ou cumprir: porque nos obriga a um certo alinhamento, o respeito é difícil de conservar. Não é algo que se possa comprar numa loja ou cultivar num quintal. O respeito implica uma doação e uma certa concessão, discrição até, o que pode forçar a uma reflexão sobre o nosso papel na comunidade que nos alberga – o que nem sempre é agradável realizar.
1.Fiquei muito surpreendida com algumas notícias desta última semana. O Serviço Nacional de Saúde (SNS), estrutura que assegura o bem-estar e a saúde dos portugueses, foi colocado novamente em risco. Antes desta pandemia os recursos humanos do SNS eram escassos, mas têm vindo a ser reforçados durante este período. Parcamente reforçados, diga-se de passagem, visto que as carências se mantêm. Ainda assim, surgiram uns rumores noticiados de que se estava a planear a dispensa de mais de dois mil enfermeiros. Surpreende-me, este abandono de trabalhadores necessários (indispensáveis) ao bom funcionamento do SNS. Mais do que a ausência de respeito perante estes profissionais, parece-me de particular importância a ausência de respeito ante a saúde da população, que merece ser bem cuidada. Honestamente, quero acreditar que estes rumores não passam disso mesmo, uns burburinhos que serão devidamente colmatados. Esperemos que sim, que aqui o respeito prevaleça.
2.O teletrabalho mantém-se. Até aí nada de novo. Todavia, o que parece manter-se, de forma intrusiva, é o prolongamento do horário de trabalho pela noite dentro e a marcação de tarefas sem grandes regras. Pelos vistos vale (quase) tudo, inclusive exigir o cumprimento dessas tarefas sem que se atenda à qualidade de vida dos trabalhadores. Sou daquelas que vê o «copo meio cheio» e gosto de acreditar que esta ausência de respeito pelos funcionários das instituições é transitória. Este abeiramento do limite pode tornar-se perigoso, tanto para aqueles que dirigem, como para aqueles que são dirigidos: os primeiros podem facilmente perder o bom senso, os segundos podem não se sentir dignos. Tudo isto é preocupante, em especial porque a legislação existente/criada neste âmbito ainda é escassa, assim como é reduzida a nossa experiência neste contexto. Se, por um lado, a criatividade é uma boa aliada destes processos, por outro lado, a precipitação e a incoerência podem ser fatores de risco para a diminuição da produtividade e da satisfação laboral. Talvez, aqui, seja necessário ensinar e formar para o respeito, visto que parece existir um défice do mesmo na base educacional de alguns.
3.Está previsto que as aulas presenciais no ensino superior iniciem a meados de abril. Se o cenário no restante ensino é preocupante, então no ensino superior a situação não está melhor. Fico especialmente alerta quando são pedidas avaliações aos estudantes durante a pausa letiva ou, no caso desses últimos, quando são efetuados pedidos aos professores para reunir no domingo de Páscoa. Como diz o ditado «nem sempre, nem nunca»: haja equilíbrio. As responsabilidades dos docentes no ensino superior vão muito além das atividades letivas, e a sobrecarga que os mesmos apresentam está a ser ignorada. O corpo docente da academia está envelhecido, isso é um facto, mas não é por isso que têm sido realizadas contratações de pessoas mais jovens para trabalhar nas universidades e nos politécnicos ou que o número de estudantes tenha sido reduzido – pelo contrário. Os professores que se têm reformado não têm sido substituídos e os que se vão mantendo acarretam com uma insanidade de horas de trabalho; para agravar esta situação, são exigidas horas de investigação e horas de produção científica, sem que para isso exista uma diminuição da carga letiva. Nesta esfera o respeito também sido parco e, pessoalmente, continuo sem entender muito bem porque não existe uma atenção sobre estas questões, parecendo que tudo é para continuar sem grandes alardes. Fechar os olhos, é o que parece ser proposto. No entanto, pergunto: até quando esta situação desrespeitosa poderá ser mantida?
Após o exposto, talvez o respeito (ou a falta dele) também seja preocupante. Em algumas situações até alarmante, pois a continuidade de determinadas circunstâncias permite valorizar a mediocridade e a apatia. E aí já não vejo um «copo meio cheio», mas sim um depósito para a privação do otimismo e da esperança – que nestes tempos são precisos. Se o respeito é sustentável? Espero que sim, porque isso significa que pode ser trabalhado e aperfeiçoado, logo permite criar boas expetativas e bons desejos para o futuro. E isso cabe a todos, otimizar a sustentabilidade do respeito e mantê-lo elegante e gracioso, leve de conduzir.?
15 Junho 2025
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