O hospedeiro e o parasita
Voz à Saúde
2020-09-08 às 06h00
A pandemia de Covid-19 trouxe implicações sem precedentes na prestação de cuidados de saúde primários. Provocou alterações que contrariam a filosofia da Medicina Geral e Familiar: a personalização, a acessibilidade, a globalidade e a continuidade de cuidados que definem esta especialidade e tem tanto de clínica quanto de relacionamento humano. Em tempos de pandemia, esta medicina pessoal e de proximidade ficou comprometida, com todas as repercussões que daí advêm.
A consulta presencial que é o cerne da atividade do Médico de Família, não mais o é. Agora praticamos uma espécie de consultadoria ou telemedicina.
Do ponto de vista clínico, na prestação de cuidados à distância, há muita informação que se perde, desde logo a ausência do exame físico, do aspeto geral do utente e da própria condição de saúde/doença, através da forma como entra pelo consultório. Do ponto de vista relacional, a pedra basilar da interação médico-doente é, sem dúvida, a comunicação que se vê igualmente prejudicada com este distanciamento. Ora basta pensarmos que a comunicação compreende muito além daquilo que é verbalizado. Os gestos, as expressões e microexpressões faciais, a postura, isto é, a comunicação não verbal, pode corroborar a veracidade do discurso, alertar para outros problemas ou mesmo denunciar motivos ocultos de consulta. Uma vez mais, informação omissa.
As queixas físicas que motivam a procura de ajuda médica são habitualmente fáceis de entender na telemedicina, mas as emoções que as acompanham poderão passar despercebidas, e a empatia, enquanto ferramenta essencial na relação clínica, não ocorre. Deste modo, a intervenção médica até poderá ser tecnicamente correta, mas a forma como é comunicada irá certamente influenciar o resultado do ato médico e a satisfação do binómio médico-doente.
Além disto, se atendermos a que a atividade preventiva é, em si, essencialmente uma tarefa comunicacional1, também a efetividade do intuito preventivo da nossa prática clínica sai prejudicada.
Também, do ponto de vista do doente, emocionalmente mais vulnerável e fragilizado pela sua condição, a ausência do toque e da figura do médico, traz certamente mais insegurança e insatisfação, porque os utentes apenas apreciam o que compreendem: o trato humano, a educação, o sorriso.2
Quando no nosso quotidiano impera o distanciamento, a telemedicina surge como uma forma de aproximar os profissionais de saúde dos seus utentes e permitir a acessibilidade aos cuidados de saúde, mas o que desejo, pelas razões apontadas, é que não se torne a prática corrente em Medicina Geral e Familiar, atendendo aos seus princípios, pois são inegáveis as vantagens em outras especialidades médicas.
1Nunes, J.M.M. Comunicação em contexto clínico. 2010.
2Silva, P. O. Processo de comunicação interpessoal. Parte I – Relação, comunicação e consulta. MGF 2000.
19 Janeiro 2021
16 Janeiro 2021
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