26.ª Conferência Mundial na área da sobredotação, em Braga!
Voz às Bibliotecas
2025-04-17 às 06h00
A leitura é o ato que nos permite compartilhar experiências que eventualmente nunca tivemos, potencializando usufruir vivências em épocas e mundos distintos dos nossos. A leitura, como ato humano, depende da nossa vontade, da nossa predisposição, do nosso querer. A leitura permite-se ser mais conhecedores do Mundo, mais abertos aos sofrimentos alheios, mais conscientes da nossa identidade e da identidade dos outros, da nossa cultura e culturas do Mundo, mais preparados a aceitar a inerente ambiguidade e renovação do conhecimento, gerindo emoções, dando maior resposta às fraquezas da linguagem e da lógica.
A leitura tem sido sempre acompanhada pela palavra escrita. Viajando no tempo. Há mais de vinte e cinco séculos, Platão inventou a fábula do deus Thot no seu texto “A invenção da escrita”. Era o deus egípcio da magia e de todos os ramos de sabedoria e das artes, a quem se atribuiu a invenção da escrita hieroglífica. Segundo Platão, Thot inventou a escrita e nessa altura não imaginava o quanto ela auxiliaria a Humanidade. No diálogo entre o deus Thot e o rei Tamuz, este último duvida da eficiência da escrita. Para o Rei Tamuz, a escrita seria de utilidade duvidosa, visto que ela lançava mão de recursos externos ao homem, como uma ferramenta, e com isto, iria acomodar as mentes preguiçosas a não se esforçarem a reter dentro das suas próprias cabeças o conhecimento necessário sobre os factos e as coisas de uso mais imediato. Mas não pensemos como Tamuz.
Segundo Alberto Manguel, no livro Uma história da leitura, a palavra escrita em qualquer tempo, quer impressa ou digital, sempre foi temida por muitos, pois descobre consciências. As nossas sociedades compostas por cidadãos dotados de razão, temem que outros indivíduos questionem os seus discursos e os alterem, muitas vezes os desvirtuem. Houve tempos em que alguns agentes da sociedade temiam a arte da leitura, porque ela poderia levar a um maior questionamento, e do questionamento à crítica, e da crítica à mudança. Se viajarmos no tempo, há séculos atrás, os esclavagistas proibiam com severas penas aqueles que ensinavam os escravos a ler.
Também será de refletir no tempo presente como é que por vezes um simples “tweet” ou “post” no Facebook ou Instagram, por vezes com frases soltas, às vezes descontextualizado e incoerente, pouco fundamentado e temperamental (ligado ao ânimo e desabafo do criador), tenha mais impacto e peso do que um ensaio (quer seja filosófico, político, literário, por exemplo), este último bem fundamentado e bem escrito, abordando diferentes perspetivas e mais concertador. O primeiro registo instantâneo, pode ser interpretado e sentido como sendo mais autêntico e atual, pois brota espontaneamente dos desabafos emocionais do criador, justamente porque não foi submetido a um escrutínio mais intelectual; o segundo (ensaio) ser considerado mais frio e distante das emoções do leitor. Nas nossas sociedades de consumo, muitas vezes é mais valorizada a “praxis” em detrimento do “logos” (aquilo que é dito, aquilo que é pensado, uma narrativa coerente e coesa, com justificação, valor atribuído, com recurso à linguagem, ao pensamento, a normas). O leitor com menor prática leitora poderá por vezes fazer leituras mais superficiais e não consumir informação de maior qualidade e com maior coesão semântica. É importante lermos diferentes textos, de diferentes autorias, ir à procura das fontes mais primárias da informação, ter um poder de análise e de relacionamento de factos e produzir com algum tempo e maturidade uma opinião. Quer seja pela leitura de textos informativos, quer técnicos, quer literários.
A leitura não nos conduz necessariamente à mudança de comportamento, não melhora forçosamente a qualidade de vida, não nos torna efetivamente melhores cidadãos, nem seres mais inteligentes. Mas poderá com certeza oferecer-nos ainda mais possibilidades de análise de múltiplas perspetivas e escolhas mais fundamentadas. A leitura torna-nos mais humanos. Ao lermos e ao consolidarmos múltiplos autores e respetivos discursos, estamos certos que o nível de entendimento será maior, às vezes de reação não tão imediata, mas com eventual maior sentido de justiça para uma maior e eficaz preparação do ofício de cidadão.
Nesta altura que se avizinha com alguns momentos de maior paragem na Páscoa, vá ao (re)encontro da leitura. Se quiser momentos de maior relaxamento e distanciamento do que o rodeia (refugiando-se do ruído informativo), escolha um livro de ficção (literatura), pois esta é uma arte paciente, autêntico motor provocador de emoções que movem os sentidos com menor cansaço físico, percorrendo narrativas imaginárias. Faça esta sua viagem pelo livro, num local relaxado (casa, campo, natureza). Abra a primeira página, mergulhe no enredo e só termine quando voltar a última página. Algo de transformador terá acontecido em si. Leia mais.
15 Maio 2025
24 Abril 2025
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