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A virar frango

A responsabilidade de todos

A virar frango

Escreve quem sabe

2023-01-22 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Governo e Oposição gozam de popularidade ondulante. Há sempre os indefectíveis, naturalmente, que se apegam com brio ao pouco que os seus façam. Aos indefectíveis não interessa o quadro global, não interessam sequer as nuances, não interessa o peso residual, digamos abstracto, de meia-dúzia de intervenções conseguidas, contra um quarteirão com borlas de saídas da caixa. O que interessa ao indefectível, como sabemos, é não descuidar flanco por onde adversário entre, é não abrir brecha por onde fluidos vitais próprios escorram.

Os indefectíveis são por definição uma minoria. Em termos estatísticos, e dentro do paradigma da distribuição normal, os indefectíveis serão essa tranche de 10% de ponta e de outra, em universo em que 50% possam pender para um lado ou para outro consoante as circunstâncias, de acordo com o maior ou menor desgaste e inoperância de quem governa e de quem aspira a governar, exercendo oposição que abata e cative.
Isto dito, nem Costa está de pedra e cal, a despeito da maioria, nem os demais estão capitalmente arredados da mesa farta, ou da responsabilidade, conforme queiramos cotar a ascensão ao Poder. Costa tem a força do voto, é facto, mas força é que não silencia a miséria gritante do elenco, e a grelha não lhe renderá serviço, quanto mais não seja por ter sido gerada e por vir a ser operada por quem esteja longe de constituir exemplo de virtudes, de competências, sem as quais não se forja estadista que se perpetue em boa memória.

Fosse Costa arguto, estivesse Costa devidamente comprometido com o avanço do País, e não lhe faltariam tenores e sopranos que não dessem nota falsa, que não cilindrassem o tempo, que não se espalhassem na carga emocional do trecho. Mas não, Costa é uma espécie de júri de parada de autodidactas com aspirações, um que outro com jeito para playback e cantoria papagueada de auricular embutido.
De igual envergadura podemos tomá-lo a ele. Nós, que nele votamos, é que não ficamos bem na fotografia. Corre a ideia de que Costa tenha sido onerado com maioria gratuita, isto à conta dos receios entrevistos em Rio e Ventura, parelha digna de substancial horror. Cumpre que nos interroguemos, porém, de que fontes engrossa o caudal de um grupelho de verve chungosa e disjunta. Há quem se afadigue na profissão de que tal montada irrompa de pecados do PSD, de delírios de grandeza sem substância do CDS, mas melhor a procuraríamos na falência anímica de um eleitorado maltratado pela Geringonça, de um eleitorado de reacção mais emocional que ideológica, de um eleitorado pronto para aderir à novidade e ao desabafo do «todos já me enganaram, agora testo estes».

Quinta-feira. Viajo entre países em greve. Não dispõe Macron da maioria de que goza Costa, mas farta-se Costa com os amargos que os francos levam a Macron e seus ministérios. A França que se revolta contra Macron, diga-se, outra não é que aquela que nele votou de pinça no nariz, evitando eleger Marine Le Pen. Eles e nós, os mesmo trocar de pés, e crível é que eles e nós sejamos chamados a urnas antes que findos os mandatos.
Por cá se diz que o PSD não faz ondas, por todavia não estar capaz de se qualificar como vencedor. E não o será, por voltas que dê, que não se vê que uma maioria qualificada de portugueses engula Montenegro e entourage. Apurem-se os partidos, se quiserem, mas apuremo-nos nós, que passar a vida a escolher de tripa revolta não é solução.
Entrementes, fiquem os socialistas com a grelha, que será sucata antes de uso, a menos que Costa a empregue nuns virares de frango sobre brasa murcha, por fado de quem mexe e não sai do sítio.

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