Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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Abrunhos, abrolhos e abortos

Entre a vergonha e o medo

Ideias

2010-10-02 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Gostamos muito de abrunhos e do seu sabor adocicado e polpa macia, uma drupa muito agradável de mesocarpo carnudo e endocarpo duro, formando caroço. Fruto do abrunheiro, uma árvore ou arbusto da família das rosáceas, tem chegado à nossa mesa nesta época, ainda que nem sempre com a frequência desejada, diga-se, porque a algumas falhas no mercado há que aliar toda uma carestia de vida.

Que aliás está difícil para todos, e, ante um qualquer desejo de abrunhos, há que pensar no défice, nos aumentos dos impostos e na incontestável miséria da actual situação. E poupar !...

Mas lá que os abrunhos são muito agradáveis é facto incontroverso, sendo que com as suas mais diversas formas e cores vêm sendo um oásis neste país em que abundam abrunheiros, mas bravios, espinhosos, de fruto erecto e azedo, para além de um considerável número de abrolhos e de uma assinalável multidão de “abortos” nas suas monstruosidade de vida e defeituosa formação de carácter, com as deformações e imperfeições próprias dos produtos inacabados, deficientemente direccionados e (ou) malevolamente programados.

É óbvio que não se está a falar do aborto como acto interruptivo de uma gestação que uma irresponsável pléiade de políticos congeminou e aprovou para se ter por vanguardista e “progressista”, mas daqueles outros monstrengos e autênticos “abortos” que pululam nas nossas sociedade e vidas política e governamental, uns projectando-se pelo aspecto mastodonte e bovóide onde a inteligência, sensatez, honestidade e personalidade entram em manifesta perda, outros afirmando-se por todo um ananismo, e não apenas físico, de vida, de exemplo, de carácter e acção, para já não referenciarmos certos outros monstrengos de pensar quadrado, inteligência estriada, tola prosápia e vaidade oblíqua que vêm enchendo as nossas TVs e entrando nas nossas casas, alapados em sorrisinhos de circunstância e esgares de aparvalhada inteligência.

E que apenas existem, reconheça-se, porque suas mães não tiveram na altura a percepção dos “abortos” que iriam parir, passando agora o tempo a iludir o povo, a insultar inteligências e a ofender impunemente pessoas e instituições com a conivência e compadrio de outros da mesma laia, amigos, conhecidos e aproveitadores de deficiente formação e mau carácter. Uns como apresentadores e outros mesmo como escrevinhadores e pseudo-comentadores, note-se!...

Nos últimos tempos, aliás, temos sido confrontados com muitos abrolhos, escolhos e “abortos” nos caminhos da realidade e da verdade de vidas, lamentando-se o despudorado e brutal espectáculo dos falares, comentários e dizeres com que certos “abortos” nos vêm massacrando a propósito do acórdão do processo da Casa Pia, sendo certo que às arrogância insultuosa e atrevida e má formação de alguns advogados se seguiu a atitude incomprensível, inóspita, descabida e inepta dum bastonário de fácil e tola verborreia, e convencido, e ainda um inapropriado, inoportuno, intencionalmente dúbio, perverso e questionável “Prós e contras” da D. Fátima Ferreira, da firma «Sistemas e Conveniências, L.da».

Aliás se a inocência deve e tem mesmo de ser sempre “gritada”, não é de modo nenhum admissível que se descambe num arruaceirismo barato e de canalha miúda e em ofensas grosseiras e torpes, bolçadas pelos atingidos e seus defensores, na esperteza saloia de ultrapassar decisões e convicções através dos media, iludindo o povo, “preparando” recursos e procurando condicionar decisões finais. Se ainda houver tempo para tal face à prescrição ou leis de conveniência, alinhavadas à pressa e hoje muito em voga.

Mas o povo, e as pessoas inteligentes, há muito alcançaram a verdade e a realidade das muitas poucas vergonhas em que o país tem estado mergulhado. Aliás, diga-se, se tem valido bem a pena o jornalismo de investigação e a coragem duma Felícia e outros, para mais quando no domínio da investigação criminal os seus intervenientes se vêem confrontados com tantos abrolhos, escolhos, dificuldades e mesmo abrunhos azedos de abrunheiros bravios e demais arbustos espinhosos, alguns já secos e esquálidos mas ainda prenhes de dependência, compadrio e falhas na isenção, afigura-se-nos que a concorrência entre os média e a necessidade de audiência não podem extravasar os limites do razoável nem cercear uma informação séria, correcta, firme, isenta, prudente e cauta no seu desenvolvimento. Uma informação que, diga-se, não pode ir ao sabor das conveniências ou dos interesses de certos mercenários do direito, alguns já projectados como autênticos “abortos” da toga.

Mas continuando a falar em “abortos”, escolhos e abrolhos, que pensar e dizer dos esconsos interesses que envolvem o caso Duarte Lima e todo o seu “barulho” mediático, dos que estiveram presentes no caso das docas e da Motta-Engil do camarada Coelho e que agora originaram um processo, dos que realmente subjazem ao cancelamento do TGV entre Lisboa e o Poceirão e à manutenção do trajecto Caia-Poceirão ( um “poceirão” de milhões!...), e ainda dos que sustentam as problemáticas das Scuts, as questiúnculas da aprovação dum orçamento, etc., etc.?

É sabido que há companhias que são perigosas e que muitas doenças se transmitem por contágio, mas não há já pachorra para perceber, compreender e aguentar as palavrosas e doentias arrogâncias duns António Valente e Paulo Campos das O.P., a inteligência dum Valter Lemos no seu relacionamento com estatísticas e realidades, o ar convencido e presunçoso dum Conde alapado a um Rui Pereira que se vê como um “reformista iluminado”, o ar seráfico, sorridente, mavioso mas enganador duma Alçada cada vez mais controversa, a ternura maternal, toda inocência, duma perturbada Ana Jorge, ou ainda as fictícias sisudez, competência, “verdade” e respeito dum Santos cujos cabelos brancos já nada significam, pois vai aumentar os impostos.

Na verdade são mesmo muitos os “abortos” e os abrolhos, alguns “saltitantes” como rãs num charco, pulando de ministério para ministério e mudando de competências e funções, que estão a tornar intransitáveis e a encher de escolhos e abrolhos os caminhos deste país, cada vez mais espinhoso e de todo escabroso, um país, diga-se, com uma dívida pública a crescer 2,5 milhões de euros à hora e numa contínua vivência de expectativa, dependência e espera.

De Bruxelas, do F.M.I. ou de um qualquer “D.Sebastião” honesto, competente, com inteligência e coragem para “pegar os bois pelos cornos” e “chutar para escanteio” todos os muitos “abortos” políticos, abrolhos e drupas azedas que bravios abrunheiros vêm debitando nas aridez e secura que Abril provocou.

Cá por nós, e enquanto for possível, continuaremos a procurar e a saborear os abrunhos de polpa macia e doce a que nos habituaram os bons abrunheiros que ainda vêm sobrevivendo graças a uma cultura de sensatez, seriedade, honestidade e verdade.

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