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Ideias

2025-05-16 às 06h00

Margarida Proença Margarida Proença

Estou certa que a generalidade das pessoas já passou por esta experiência: manhã muito cedo, ao toque do alarme, lembramos mil e uma possíveis razões para o incumprimento! Claro que a realidade, os compromissos, tudo isso acaba por ser mais forte, e lá acabamos por aceder à chamada!
É desta forma que me descubro perante estas eleições. A leitura que faço do último ano é de uma sucessão de políticas de curto prazo, típicas da fase final dos ciclos políticos. Face à benevolência dos decisores políticos, interessados fundamentalmente na fidelização, digamos, de grupos profissionais e faixas etárias, foram mantidas todas as distorções da nossa economia, sentidas no longo prazo. Neste contexto favorável, as informações, gota a gota, do enquadramento empresarial do Primeiro Ministro permitiram o recurso a eleições, procurando maximizar as vantagens políticas criadas.
Um reputado economista italiano, A. Alesina dizia em 2014 que os políticos podem ser descritos como determinados por duas motivações principais: a sua reeleição, e as suas preferências ideológicas. E acrescenta que a combinação de “partidarismos com ciclos eleitorais pode facilmente gerar resultados socialmente indesejáveis”.
A campanha eleitoral decorreu morna e sem chama. A Iniciativa Liberal, por exemplo, anuncia que com eles no governo, tudo ficará resolvido; os problemas da área da saúde, provavelmente também da educação e da habitação, ficarão resolvidos. De que forma, através de que políticas em particular, nunca é tornado explícito. O debate político foi, no geral, construído desta forma – palavras de ordem, promessas de tudo e o seu contrário. E quase parece que estamos numa ilha isolada, do tempo e dos processos de mudança global. Com a velhice, descobri-me cada vez mais chateada com a manipulação!
Fui acompanhando a campanha eleitoral de muito longe. Aproveitei a semana passada para cumprir um dos sonhos mais antigos. Depois de ter passado anos a falar a alunos da mítica Rota da Seda, fui conhecer as suas cidades mais importantes, sempre com a presença da RTP Internacional e da TVI!.
Na verdade, um exemplo de globalização arcaica foi a Rota da Seda, uma rede de vias de comunicação que teve uma importância enorme durante séculos, na ligação entre a Ásia e a Europa Ocidental. Remetendo para figuras lendárias como Genghis Khan ou Marco Polo, ao longo de cerca de 8.000 km e por mais de um milénio, as caravanas de camelos cruzavam radialmente o espaço, com grupos de mercadores ligando a Rússia, a India, a Pérsia. Principalmente entre os séculos VII e XIII, foram trocados bens como a seda, papel, porcelana, vidro e vinho, mas também foram disseminadas ciência, tecnologia, cultura, arte, religião - e doenças. Por outro lado, as viagens eram muito demoradas, e envolviam todo o tipo de perigos, o que condicionava o tipo de mercadorias transacionadas. A famosa viagem de Marco Polo, por exemplo, demorou 24 anos. Era essencial a cooperação, e isso veio a levar ao estabelecimento de alianças mútuas, mas que dependiam muito de questões políticas e militares, como por exemplo a Liga Hanseática,  que estabeleceu e manteve um monopólio comercial sobre quase todo norte da Europa e Báltico, entre os séculos XII e XVII.
Estive então no Uzbequistão, um país lá bem na Ásia Central. Samarcanda, Bukhara ou Khiva são cidades míticas, pontos nevrálgicos nessa Rota da Seda. Para além da beleza extraordinária de muitos dos seus edifícios, com centenas e centenas de anos, fica muito clara a importância central que tiveram nos processos de aquisição de conhecimentos científicos e tecnológicos. Olhamos para nós, Europeus, como detendo uma superioridade intelectual. Mas nos primeiros séculos do milénio anterior, a Europa não era, de forma alguma, a região mais rica do mundo; o pêndulo estava do lado do Oriente, onde a agricultura era mais produtiva e a tecnologia e qualidade dos produtos superior. Chineses, árabes, arménios, indianos, persas e outros deslocavam-se e comercializavam livremente por toda a Ásia. Já os navios europeus não navegavam muito para além do Mediterrâneo, do Mar Báltico ou do Mar Negro; os mercadores europeus não tinham uma presença forte, ou constante, para além dos limites induzidos pelos Otomanos.
Vieram depois as descobertas de Vasco da Gama, Colombo, Pedro Álvares Cabral e muitos outros, com importantes mudanças nas rivalidades político-económicas, e que conseguiram transformar um país pequeno e muito periférico, o nosso, num centro notável de um império: “um dos maiores enigmas da história” como dizia Plumb em 2017.
Pois é: temos enormes responsabilidades históricas face aos nossos filhos e netos. Não há volta a dar – domingo lá estarei para votar. Levando nas mãos não as milhentas promessas, mas as minhas preferências para o futuro. Um mundo passível de ser sonhado e construído para todos.

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