António Braga: uma escolha amarrada ao passado
Ideias
2020-06-08 às 06h00
Num momento de angustiante crise sanitária e de inescrutáveis crises políticas e sistémicas, seria pertinente procurar na teologia natural ou na biologia evolutiva respostas para todos os porquês que nos desassossegam. O ser humano de 2020, de modo empírico e arrasador, vem concluindo, no entanto, não serem necessários grandes exercícios filosóficos para compreender o carácter único dos acontecimentos que o arrastam num turbilhão contínuo: vírus mortais, lideranças políticas perigosas e risíveis, economias em derrocada fatal. Perante a expressão da morte e da destruição da maioria dos valores tradicionais, o ser humano posiciona-se diante de aventuras que, provavelmente, não nasceriam da sua repousada imaginação.
Acabo de ler algumas reflexões sobre as consequências da covid-19 no ser humano, sobre como o nosso corpo reagirá em caso de infeção, e sobre a hipótese de que nunca mais volte a ser o mesmo corpo. Problematiza-se se Dybala, por exemplo, continuará a ser o mesmo jogador, com as mesmas capacidades físicas e técnicas, e de que tipo de adaptação ficará doravante dependente. Dada a circunstância de o vírus se ter universalizado, e de todos sentirem as suas consequências, obrigando a novos comportamentos e transportando temores, é lícito perguntar se as nossas ações não ficarão dependentes de tais temores ou de transformações físicas que o futuro se encarregará de relevar. A história da humanidade prova que, perante as mais impactantes adversidades, o ser humano se adapta, como uma flor na aspereza do asfalto. A forma como a maioria dos governos vem tentando instruir o cidadão sobre novas formas comportamentais mostra que, em determinados âmbitos e com alicerces científicos, lideranças esclarecidas contribuem para uma adaptação positiva.
Se, individualmente, os problemas se põem nestes termos, como se transportam os considerandos da adaptabilidade para as empresas, motor indiscutível das economias? Sofrerão elas doenças irreversíveis em decorrência desta crise? Estudos recentes afirmam que a maioria das empresas portuguesas se sente com elevada capacidade de adaptação, recetíveis e prontas para a mudança. A este propósito, é extraordinário verificar como, sob o chapéu de um Decreto-Lei relativo ao tema (nº 20-G/2020, de 14 de maio) - cujo objetivo é o da adaptação dos estabelecimentos, dos métodos de organização de trabalho, do relacionamento com clientes e fornecedores, a condições específicas de distanciamento físico -, uma boa parte das empresas têxteis conseguiu, num espaço de tempo muito reduzido, saltar da confeção de vestuário diverso e especializado para a confeção de máscaras protetoras, certificadas por entidades competentes, exportáveis, transformando défices e dificuldades em oportunidades nada despiciendas. A olho nu, não se veem grandes doenças, muito menos irreversíveis.
O tempo presente é, sem dúvida, de adaptação e de inovação, seja no âmbito imediatamente humano ou familiar, seja no âmbito organizacional, com relevo para os indispensáveis sistemas de saúde e de educação. O avanço na consideração do digital, sentido na forma de comunicação com os utentes dos sistemas e em novas fórmulas de ensino a distância, evidencia que não há barreiras de conser- vadorismo invencíveis, e que é sempre possível, dentro de limites éticos que garantam a mais elevada humanidade, inovar e evoluir.
No que respeita ao retalho, confirma-se o que já se vislumbrava. Novos contextos e novas condicionantes implicam movimentos porventura imparáveis: e-commerce em ebulição, redução de rendas, comutação da tipologia laboral, tudo no sentido de um futuro em constante movimento. É nas crises que o conhecimento e a humanidade mais avançam. Sempre soubemos disso. Aproveitemo-las, pois.
*com JMS
11 Dezembro 2024
11 Dezembro 2024
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