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Afetos meus, afetos mil

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Afetos meus, afetos mil

Voz aos Escritores

2025-02-21 às 06h00

Fabíola Lopes Fabíola Lopes

Celebrou-se um pouco por todo o lado, na passada sexta-feira, o dia de S. Valentim, agora também batizado de dia dos afetos. E no campo dos afetos cabem todas as relações, não apenas as dos namorados, embora seja difícil descolar essa imagética tão aproveitada e desdobrada pelos apelos comerciais, quase numa imposição do amor feito medida e preço. Uma espécie de investimento financeiro imposto, como se fosse preciso um dia especial para celebrar o amor, a amizade, o carinho e presentear caras metades valiosas ou pouco valerosas, que isto do amor também tem muito de desamor quando mal edificado.
A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género define a violência no namoro como "um ato de violência, pontual ou contínuo, num contexto de uma relação de namoro. Todas as formas de violência no namoro (física, psicológica, sexual, social, verbal) têm por base uma relação de poder desigual entre os/as parceiros/as e são usadas como estratégias de controlo." E mais informa que desde 2013 o crime de Violência Doméstica passou a conter a Violência no Namoro.
No passado dia 14 foi divulgado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e pela referida comissão (CIG) o Estudo Nacional de Violência no Namoro de 2025 com um aumento noticiado, mas que dado o contexto periclitante em que se encontra o mundo, com tanto a acontecer no panorama político e económico mundial, pode ter passado despercebido. Ainda pensei que, por motivos de declínio de casamentos, cada vez há mais relações de namoro e talvez essa mudança no comportamento social amoroso pudesse ter influenciado este aumento de números, mas a minha esperança rapidamente se revelou vã. A amostra de 6732 jovens com idades entre os 12 e os 22 anos, sendo 53,8% meninas, 44,9% meninos, 0,8% outros géneros e 0,5% não se quiseram identificar. No pódio temos o controlo (63,6%), perseguição (35,4%) e violência psicológica (35,3%), logo seguidos pela violência sexual (34,2%). Ainda há espaço de destaque para a violência através das redes sociais (19,4%) e para a violência física (8,4%). Não vos vou maçar com mais informação percentual, podem procurar a restante informação do estudo online para continuarem a chocar a esperança que têm nas gerações vindouras e na tanta informação e acessibilidade de crescimento pessoal e cultural disponível.
Onde é que isto tudo acontece? Quando?
Acredito que seja mesmo debaixo dos nossos narizes, sem olfacto ou instinto treinado.
E o problema maior é que há muitos comportamentos que estão a ser legitimados pelos nossos jovens, a julgar pela amostra inquirida. 43,8% consideram normal que o parceiro deambule pelo seu telemóvel ou entre nas suas redes sociais sem autorização.32,9% sentem como normal haver pressão para beijar e não me parece que estejam a falar de um beijo roubado e inusitado.Insultar no meio de uma discussão é compreensível para 29% e, pasmem, 7,7% aceitam serem empurrados ou esbofeteados sem deixar marcas.
A normalização de comportamentos agressivos são o solo fértil para os agressores, a terra adubada para a violência doméstica, a desestruturação e destruição daquilo que se almeja que seja a vida familiar, um dia, e que começa nestes relacionamentos construídos em bases tóxicas com comportamentos de ervas daninhas. E ainda que um dia se consigam livrar deles, os fantasmas não abandonam os corpos depois de os habitarem.
Como disse Saramago, nós, o ser humano, matamos mais do que a morte.

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