Antropoceno avant la lettre: a Sétima Época da Terra
Ideias
2012-05-30 às 06h00
Temos vindo a assistir a um proliferar de iniciativas de recolha de resíduos em troca de apoio monetário, casos como a recolha de tampinhas, de óleos alimentares e, mais recentemente, de papel e cartão para causas mui nobres.
A Braval não pode apoiar, por norma, este tipo de iniciativas. O nosso objetivo é que tudo o que é reciclável vá para os ecopontos, é essa a nossa função, é esse o nosso trabalho, nós não somos destino final, também nós precisamos dos resíduos para continuar a nossa atividade.
Temos de ter noção que este é um caminho perigoso, corremos o risco de estar a dirigir-nos para uma situação em que comecem a proliferar os “catadores de lixo” tão frequentes noutros países considerados de Terceiro Mundo.
Um em cada 1000 brasileiros tira do lixo o seu sustento. Em Angola o sistema a implementar oficialmente baseia-se precisamente nesta lógica dos catadores, o Estado irá pagar pelo lixo recolhido por particulares.
Nestes países a reciclagem sustenta-se mais no trabalho informal desse segmento do que na consciência ecológica. Há quase uma inexistência de sistemas municipais de recolha seletiva, os catadores contribuem com mais de 90% de todo o material que alimenta a indústria brasileira de reciclagem.
O catador tanto pode recolher o lixo diretamente na fonte como catando recicláveis na rua e nas lixeiras, tirando os recicláveis do lixo que os outros não tiveram a preocupação de separar.
No entanto, esta atividade tem condições de trabalho desumanas pois não obedece a horários, podendo trabalhar mais de 12 horas por dia, e carregar mais de 200 kg de lixo, muitos dos catadores são crianças e são mal remunerados.
Não podemos correr esse risco, não podemos deitar a perder tudo o que foi conseguido ao longo dos últimos 15 anos em Portugal: o encerramento das lixeiras, uma rede excecional de recolha seletiva de resíduos e um sem número de soluções de valorização de todo o tipo de resíduos.
Temos todas as infraestruras, todo o investimento feito ao longo dos últimos anos, muitas vezes com apoio da União Europeia não pode ser desperdiçado.
A reciclagem, a valorização de resíduos deve ser um ato de cidadania, de consciência social e ambiental e não um ato pelo qual se recebe algo em troca.
Mas, é importante que haja também uma consciência económica desta questão. Os valo-res de contrapartida que as empresas pagam a estas instituições estão abaixo dos valores do mercado, há sempre um perspectiva de negócio por trás destas ações.
Os sistemas já estão implementados com as suas estruturas físicas operacionais, os orçamentos já estão no terreno. Portanto, quanto mais resíduos forem retirados do circuito municipal de reciclagem, se não houver resíduos nos ecopontos, aliando-se ao não cumprimento das metas impostas para a reciclagem em Portugal, pelas diretivas comunitárias, mais se corre o perigo de se aumentar as taxas de resíduos pagas pelos munícipes.
A Braval não pode apoiar, por norma, estas iniciativas pois ao pagar também se está prejudicar, correndo o risco de ter aumentar as tarifas que se mantêm inalteradas desde 2000.
Assim, mais uma vez refiro que, apesar da nobreza das causas destas campanhas de recolha de resíduos, há que pensar que retirando estes materiais do circuito de recolha de recicláveis, o munícipe não dá um apoio monetário direto mas poderá acabar por pagar tarifas mais elevadas de resíduos.
Ajude, ajudando-se!
18 Abril 2021
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