O caso da Procuradora que mandou vigiar jornalistas
Voz às Escolas
2015-02-12 às 06h00
A consciencialização dos efeitos perversos da escola de massas levou, ao longo dos anos, à reflexão e debate de muitos profissionais de educação. Preocupados com a evolução de problemas de natureza pedagógica e social, problemas esses para os quais as soluções encontradas não surtiam os efeitos esperados, levando à proliferação de medidas que promoviam a experimentação de projetos importados, alguns dos quais com comprovado sucesso, embora em contextos divergentes dos nossos.
É inquestionável que as estratégias para o combate de qualquer fator impeditivo de sucesso não podem ser aplicadas de forma generalizada, já que tal como cada ser humano tem a sua anatomia e a sua forma muito específica de reagir, não podendo o médico, em situação alguma, recorrer a qualquer modelo checklist para prescrever, também a escola é uma organização com caraterísticas muito peculiares, condicionadas por múltiplos fatores, de que merece especial destaque o meio em que se insere e do qual é oriundo o seu público-alvo.
Assim, reportando-nos ao sistema educativo português - um sistema que salta de experiência em experiência, importando ideias mais ou menos bem-sucedidas, mas aplicadas em sistemas sociais e económicos condicentes com as soluções encontradas, constata-se que a euforia que resulta da experimentação de um projeto, rapidamente dá lugar à frustração e ao desânimo, decorrentes dos resultados ficarem aquém do expectável, pela simples razão de que não se pode replicar sem, aprioristicamente, ponderar condicionalismos sociais, políticos e económicos e, posteriormente, adequar o projeto à nova realidade.
Um dos mais recentes exemplos da precipitação, e decorrente aniquilamento de uma importação consumida sem o racional tratamento prévio, está a colocar as escolas numa situação extremamente ingrata, e até humilhante, se atentarmos a que acolheram um projeto e têm feito um esforço extraordinário para não defraudar as expectativas que criaram nos alunos e nos respetivos encarregados de educação, a quem venderam um produto de sucesso, embora em contextos diferentes, produto esse que não responde, efetivamente, às promessas feitas.
Na verdade, o lançamento dos cursos de formação vocacional de nível básico, que deveriam constituir-se como alternativa para o maior dos problemas da dita escola de massas, mais não são, na atual conjuntura, do que uma forma encapotada de segregar os alunos com elevados índices de insucesso e, consequentemente, com idade superior ao normalmente esperado para a escolaridade que frequentam.
Todos concordamos que é imperiosa a existência de uma oferta formativa de cariz essencialmente prático, que responda às necessidades dos alunos para os quais a escola, dita normal, não passa de um duro castigo. Mas com o que não podemos estar de acordo é com a forma como estamos a tratar esses alunos e as respetivas famílias, que acreditam que os podemos dotar de ferramentas que os habilitem a ingressar, minimamente preparados, no mundo do trabalho.
A escola tem, indiscutivelmente, condições para responder SE lhe forem dadas ferramentas; SE o discurso que preenche o corpo dos normativos reguladores do funcionamento dos projetos for cumprido; SE as candidaturas financeiras lançadas passarem do papel para os orçamentos das escolas; SE a autonomia for real e as escolas puderem ajustar os curricula e os programas às reais necessidades dos alunos.
Claro que com o cumprimento de todos estes pressupostos conseguiríamos, efetivamente, oferecer uma alternativa honesta ao currículo normal, contribuindo para o cumprimento da missão que assiste à escola pública em possibilitar a qualquer aluno, independentemente do seu estrato social ou das suas capacidades cognitivas, a opção por uma via de ensino pré-profissionalizante, o que garantirá o cumprimento de uma escolaridade básica de 12 anos com algum sentido prático, tendo em conta que uma margem significativa de alunos opta pela frequência do ensino profissional.
De outra forma, não vislumbro grande alteração ao estado a que chegou a escola de massas, com a agravante decorrente de uma escolarização obrigatória de 12 anos.
Porque cada vez mais os nossos jovens são forçados a fazer prospeções do mercado de trabalho, sendo que um número significativo procura conjugar a formação académica com a formação profissional, na esperança de que terá mais hipóteses de evitar as “listas de espera” para a entrada no mundo do trabalho.
Urge repensar a oferta formativa, aquela que se apresenta como alternativa para os alunos que, não fora a existência da escolarização obrigatória, transitariam bem mais cedo para a vida ativa.
Escola de massas? Sem dúvida, porque vivemos num país democrático, em que o acesso à escola deve ser um direito universal. Mas, então, ofereçamos respostas que sejam, efetivamente, alternativas.
21 Janeiro 2021
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