A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2022-12-05 às 06h00
Nem sempre é fácil andar a pé nas cidades portuguesas. Em determinadas artérias, mesmo em zonas centrais, o desenho urbano parece estar mais ajustado ao trânsito automóvel do que à circulação pedonal. E mesmo os espaços pensados para os peões nem sempre reúnem características que façam deles lugares onde temos prazer em estar.
Tenho um gosto especial por andar a pé em contextos urbanos. Em passo mais descontraído e com tempo para nos perdermos sem destino, encontramos inesperadamente uma cidade que não vem nos roteiros, mas que sempre esteve ali, disponível para quem quisesse observar pormenores imperscrutáveis por quem segue apressado. Acontece que nem sempre os espaços estão pensados para bem acolher quem anda a pé.
Comecemos por olhar para os passeios. Quantas vezes me interrogo as razões por que as políticas locais desvalorizam o chão das suas cidades. Já não falo dos buracos que permanecem ali anos a fio ou das marcas de obras que não são apagadas depois das construções estarem concluídas. Falo dos pavimentos sem qualquer gosto estético, em ainda em acabamentos toscos. E nós perguntamos como é isto possível. Imaginem a marca identitária que uma cidade construiria, se tivesse passeios cuidados, com desenhos criativos e materiais inovadores...
Também me pergunto com frequência por que são tão escuras determinadas cidades. Alguns autarcas poderão argumentar com a poupança energética. É aceitável a explicação, mas isso não justifica tudo. Num tempo em que se procura criar mais espaços verdes, muitas cidades optaram por não podar as árvores e estas lá vão crescendo. Nós achamos isso bem, se tudo isso fosse acompanhado por um ajustamento da iluminação pública que, em muitos casos, está por fazer. A luz continua a ser ligada à hora do costume, mas aqueles espaços surgem agora envoltos numa estranha escuridão porque as lâmpadas passaram a estar tapadas por uma densa vegetação. Ao passarmos por esses sítios, sabemos que ainda pode ser cedo para estar em casa, mas percebemos que é tarde para andar por ali.
Em determinadas vias, arrisca-se mesmo construir zonas pedonais lado a lado com artérias para circulação automóvel. Quem anda a pé tem de fazer sempre um permanente exercício de abstração relativamente à velocidade dos carros e aos riscos que essa estranha coabitação comporta.
Claro que nenhum autarca consegue, em pouco tempo, transformar cidades que, durante longos anos, não foram pensadas para cidadãos que querem andar a pé. No entanto, hoje, mais do que nunca, exige-se um planeamento sistémico a esse nível. Precisamos de políticas que projetem os espaços a partir do gosto que temos em habitá-los, reclamando deles traços que ambicionamos que sejam também nossos. Porque queremos fazer deles lugares de pertença. Ora, é isso que nos falta quando andamos a pé...
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