Fala-me de Amor
Escreve quem sabe
2022-06-12 às 06h00
Que seria de nós, miúdos, sem os graúdos que nos dizem como as coisas são, como elas foram e até como serão, sendo que ao miúdo invariavelmente aperta e ao graúdo vai correndo.
Desabafa, Merkel, em pranto contido, que sempre soube que Putin queria destruir a Europa, e isto a compasso dos negócios que faziam. Ora bem, uma coisa não barra a outra, que melhor se acordam criaturas de poucos escrúpulos. E pobre do ingénuo que caia entre eles.
Sabemos que Merkel teria que vir a público pelo suposto dano derrogado à economia alemã. Conhecemos os dados da equação, a famigerada e três vezes amaldiçoada dependência do gás russo. E parta o carrossel ao contrário: o gás russo era bom, porque era barato; era bom, porque havia o imperativo de descarbonizar, e desnuclearizar. No fundo, o gás russo era bom porque era saudável e fazia festinhas na carteira, contas em que não entra o progressivo acúmulo de riqueza que Putin investiu em disponibilidade bélica e, por força do arsenal, em megalomanias imperiais.
Merkel diz o que quer, e nós ouvimos o que queremos. Histórica, culturalmente, que grau de verosimilhança atribuímos à ideia de que os sistemas apodrecem do interior? A que sismos não resiste edifício calculado a preceito, com robustas fundações e vias de dissipação da convulsão? Todos o sabemos, e nem preciso é que sejamos engenheiros.
Não é preciso que esteja tudo mal, enfim, para que apareça quem apouque até o que merece louvor. Ele abunda quem torce e contorce a pontos de mente pacata ficar mareada, o que pela inversa, no caso vertente, não significa que não haja erros e equívocos na construção europeia, que não haja formalismos excessivos, regulamentos e metas quiméricas que blasfemo é questionar. Por exemplo, este imperativo de electrizar em pleno a indústria automóvel, e seja o que deus quiser, mas certamente em prejuízo europeu. Ou será que conseguiremos ultrapassar a China em baterias, no que reside o máximo do valor acrescentado da nova tecnologia?
Assim, Merkel fez bem em negociar com Putin, em comprar para vender, em patrocinar o surgimento de empresas mistas, se foi o caso. Merkel esteve bem, a seu tempo, ao não caucionar qualquer forma de adesão da Ucrânia à NATO, como mal esteve, de conluio com Hollande, quando em 2013 insistiram com Yanukovitch para que assinasse um acordo com a UE, episódio que redundou em golpe de estado e na confusão que grassa a leste.
Hoje, nos reservados do seu espírito, acredito que Merkel opere com a convicção de que a URSS caiu de podre, por ineficácias próprias, por não conseguir acompanhar os adversários em padrão de vida. E se eu, se Merkel, se milhões de pessoas por puro bom senso operamos com esse postulado, qualquer ameaça e desagregação do projecto europeu só pode vir de dentro, só pode despontar e ganhar alento a partir de parvoíces similares àquelas que trouxeram o ocaso do raiar socialista.
Ingénuo eu seja, quanto por escroque Putin e os seus passem, mas nós só nos viciamos no nosso próprio veneno à força de lhe espetarmos a responsabilidade dos abalos que nos saem das entranhas. Viciamos e insensibilizamos, de tal forma que nada nos mancha e tudo neles é nódoa. Isto cheira-me a irrazoável, cheira-me a anestesia oficial, a dogma passível de auto-de-fé e fogueira.
O problema é que sempre que os nossos embelezam o caminho com fotografias do demónio, nós, por pudor, viramos os olhos, e vamos indo, sem bem sabermos para onde. E eles também não, diga-se de passagem.
Quanto à senhora Merkel, que não entenderá a imagem: Putin não é touro de lide que se esvaia a cada curto.
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