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Ano Novo, Mundo Novo

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

Ano Novo, Mundo Novo

Ideias

2024-12-26 às 06h00

Bruno Gonçalves Bruno Gonçalves

Com a ordem internacional que marcou as últimas décadas em declínio palpável, a segurança coletiva e a interdependência económica que caracterizaram este período estão em risco. O cenário que a Europa enfrenta em 2025 é duro e a União não pode gastar mais tempo em suspiros pelo passado ou agir em função de um Mundo que já não existe.
Neste novo paradigma, a autonomia estratégica da UE não pode ser um conceito teórico, mas uma realidade prática. Não é viável - nem desejável - qualquer modelo paranóico de autarcia, que se assemelhe ao "orgulhosamente sós", mas sim um exercício de reformismo que seja simultaneamente responsável e ambicioso.

Por um lado, à medida que se arrasta a guerra na Ucrânia, mais os Estados-membros parecem ganhar consciência da necessidade de cooperar mais em matéria de defesa nacional. Cresce o número de vozes que defende investimento comum, através de fundos europeus, na nossa segurança. Individualmente, a maioria dos nossos países não consegue enfrentar a Rússia; cenário que se inverte quando pensamos nos 27 unidos.
O Mundo mudou e a Europa precisa de se adaptar. Não é um caminho desejado, antes uma necessidade. Sem perder de vista o objetivo máximo da paz, nem inviabilizar o primado da diplomacia, mas cientes de que Putin não trava o imperialismo de livre vontade e de que não podemos depender de Donald Trump.

Por outro lado, a recuperação da nossa base industrial continua a ser um horizonte sinuoso. É verdade que a Comissão Europeia está a preparar a apresentação do “Pacto da Indústria Limpa” para o início do próximo ano, com o duplo objetivo de acelerar a descarbonização do segundo setor, ao mesmo tempo que reverte a perda de competitividade face às congéneres americanas e chinesas.
Porém, sabemos que a nova composição parlamentar europeia abre oportunidades de coligação entre a direita tradicional e a extrema-direita. Oportunidades que, infelizmente, não têm sido desperdiçadas pela liderança alemã do Partido Popular Europeu (PPE), integrado pelo PSD e CDS. Manfred Weber - o mesmo que já defendeu sanções na força máxima contra Portugal - tenta empurrar o seu grupo político e o eixo de governação tanto para a direita quanto possível.

Sabendo que pode contar com os votos da direita ultraconservadora e da extrema-direita, o PPE já se propõe a rever metas climáticas aprovadas nos últimos anos. Não se trata de uma crítica gratuita: em política também é preciso reconhecer quando temos de ajustar o quadro legislativo, quando existem caminhos melhores. O problema é a utilização perversa dos compromissos climáticos como bode expiatório para as dificuldades da indústria.
Sou sensível aos argumentos dos nossos empresários que pedem margem ou flexibilidade para conseguir cumprir com as metas. Priorizo que a transição seja socialmente justa, assegurando estabilidade para os trabalhadores dos diversos setores, assim como oportunidades de formação ou reconversão profissional. Mas a ponderação destes fatores não implica subscrever a teses negacionistas.

Antes da crise financeira, o PIB da Zona Euro era equiparável ao americano. Hoje representa apenas, cerca de, 60%. Os relatos que conhecemos são, por isso, o resultado de um lento processo de erosão e não um acontecimento que mudou a realidade de um dia para o outro. Apontar o dedo à política climática como responsável pela falta de competitividade da Europa não só é errado, como desvia as atenções de temas fundamentais.
Fomos ingénuos na abertura internacional e deixámos empresas europeias altamente expostas a concorrência desleal. Abdicámos de ter uma política de desenvolvimento industrial e de inovação, remetendo tudo para a mão invisível do mercado. Não criámos motores de estímulo económico ou investimento público estrutural a nível europeu - imaginemos onde estariam os EUA se não tivessem o poder de fogo económico do seu Governo federal.
Reduzir os encargos ambientais até pode aliviar a pressão sobre a indústria no curto-prazo. Mas tratar-se-ia de mero efeito analgésico, que atua sobre os sintomas e não sobre os problemas de fundo. Sem essa reflexão profunda e sem a coragem de tomar decisões reformistas, a Europa de 2019 terá sido melhor que a de 2024; e a de 2024 melhor que a de 2029. E assim sucessivamente, seguindo um caminho de agonia lenta e prolongada.

Normalmente, diz-se que as tendências políticas e económicas chegam ao nosso país com alguns anos de atraso. Contudo, no caso da política industrial, a campanha do Partido Socialista para as eleições legislativas (e europeias) já identificou a importância desta dimensão, colocando-a no centro de uma estratégia de desenvolvimento económico para o país, escolhendo uma via simbiótica com os compromissos climáticos.
Portugal pode e deve colher benefícios da reindustrialização verde. Temos um elevado potencial renovável e uma geração jovem altamente qualificada. Mas esta transformação só pode acontecer se o Governo tiver ambição e um horizonte claro para o país na sua orientação política. Infelizmente, tem imperado o situacionismo, fruto da maioria relativa frágil no Parlamento, que permitiu a Luís Montenegro demonstrar habilidade para a gestão corrente.
Só que em 2025, e por aí adiante, vai precisar de muito mais do que isso.

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