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Ano novo, problemas velhos

Segurança na União Europeia: desafio e prioridades

Ano novo, problemas velhos

Voz aos Escritores

2024-12-27 às 06h00

Fabíola Lopes Fabíola Lopes

Final do ano, um último suspiro antes do adeus eterno. Etéreo, desejar-se-ia o que se avizinha, num abrir de olhos vagaroso e melindroso ante o que já carrega às costas, sempre um acumulado do anterior e de todos os outros, construídos, empilhados, carregados de misérias humanas, como nós as gostamos de colecionar sem vergonha ou mudança no rumo.
Por terras ucranianas, até 30 de novembro, cerca de 12,304 civis foram mortos. Perdas de militares entre os 60 e os 100 mil, de acordo com o The Economist. A BBC estima que tenham sido mortos entre 128 mil e 185 mil soldados russos até 17 deste dezembro. Se adicionarmos os feridos, não devemos estar longe do milhão de pessoas diretamente afetadas desde o início da invasão, sem contabilizar os desalojados e refugiados.
Noutras paragens não menos desgraçadas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, cerca de 44 mil palestinianos foram mortos até 3 de dezembro, embora haja muitos corpos desaparecidos ou debaixo dos escombros, pelo que o número real pode ser bastante maior.
Evidentemente que há outras guerras e males no mundo, mas estas são as que estão no nosso radar diário de informação.
E há guerras maiores e não menos importantes para o desenlace das relações entre os povos do mundo, como a literacia, a numeracia e a resolução de problemas.
No Inquérito às Competências dos Adultos de 2023, Portugal teve resultados que nos deviam envergonhar a todos: 40% dos adultos só conseguem compreender textos simples e resolver aritmética básica.
No Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA) de 2022, os alunos portugueses tiveram uma queda significativa de 15 pontos na leitura e 21 pontos em matemática, comparando com 2018. Sim, tivemos uma pandemia pelo meio, mas os outros países também. É preciso rever currículos, avaliações, a carreira docente, as prioridades das escolas. É urgente bussolar o foco para onde ele é importante.
E se pensam que os problemas da educação não são assim tão graves ou iminentes, deixo-vos os números sobre a violência doméstica em Portugal: 18 vítimas mortais (15 mulheres e 3 homens); aumento de 8,75% de queixas relativamente ao ano anterior; 1204 medidas de coação de afastamento a agressores pelo crime de violência doméstica só no terceiro trimestre de 2024, com 1460 pessoas a serem acolhidas na Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, sendo 51,1% mulheres, 47,5% crianças e 1,4% homens.
Fico a pensar que nestes casos, como nos de maus tratos e perseguições em contexto escolar, é sempre a vítima que tem de se mudar, de ser extraída do seu ambiente, das suas relações afetivas, um castigo último a carregar por uma qualquer audácia de ser e de existir. E exemplos não faltam, numa qualquer escola perto de si.
Por isso, 2024 finda-se moribundo, farto em misérias e sem comiserações. Aqui e ali, rasgos de luz sobre a fétida e permissiva desatuação de uma realidade sofrida e continua, mas claramente insuficiente. Como o manto de Penélope, a perfídia humana parece não ter fim. Em 2023 foram registados 223 casos novos de mutilação genital feminina em Portugal. Apenas em Janeiro de 2024 foram 15 os novos casos registados. A cultura ou religião não podem ser manto protetor para os atentados aos direitos das crianças e dos jovens. Onde está a atuação da Proteção de Crianças e Jovens em Risco? Quantos mais casos iremos permitir em 2025?
Então… bom 2025, sim?

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