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Aproximam-se “os frios”

Braga - Concelho mais Liberal de Portugal

Aproximam-se “os frios”

Ideias

2019-11-26 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

O outono surge no nosso clima temperado como período de adaptação ao inverno onde o rigor do tempo frio é mais sentido. A natureza vai-se assim paulatinamente preparando para tempos mais difíceis, diminuindo progressivamente a atividade, abandonando excessos, ou alterando processos e metabolismos da vida que lhe permitem preservar parte da energia que lhe pode fazer falta quando chegarem as condições difíceis. Todos sabemos o que acontece quando surgem as mudanças imprevistas das condições de tempo, desastres, que geram enormes prejuízos.
A economia tem comportamentos semelhantes. Com exceção de crises inesperadas mais conhecidas por “crash”, os relatórios de evolução da economia, com a análise das suas tendências e previsões, são os sinais que permitem aos decisores e aos cidadãos adaptarem-se em tempo oportuno, possibilitando-lhes a procura de respostas mais adequadas aos sinais anunciados. Também aqui os acontecimentos em contraciclo podem acontecer, afetando seriamente quem não prestou atenção aos indicadores económicos conhecidos e divulgados amiúde, trazendo consequências graves para todos.

O que temos vindo a observar, de há uns meses a esta parte, são sinais evidentes da mudança da evolução da economia mundial, todos eles apontando para tempos mais difíceis. Os mais avisados e prudentes dão boa conta dessa informação, preparando-se para a mudança que, mais cedo ou mais tarde, chegará. Porém, os nossos governantes continuam a gozar tempos de verão, numa atitude a que alguém já se referiu como comportamentos perigosamente otimistas. Para eles, os sinais importantes são os resultados do momento - défice controlado, crescimento económico acima da média europeia, desemprego estabilizado. Boas novas que melhor ficam com mais alguns incentivos ao consumo. Os bancos precisam de disponibilizar dinheiro e, as grandes multinacionais os bens de consumo precisam vender.
Os grandes sinais de mudança de tempo, anunciados nas fragilidades estruturais da nossa economia e da nossa organização administrativa são ignorados, ou empurrados para a frente com a barriga cheia pela refeição do dia. O envelhecimento da população, a inadequação do nosso ensino às necessidades da empregabilidade, a baixa confiança na Justiça, a persistência da organização industrial em produtos de baixo valor acrescentado, a aposta nos serviços de balcão de baixos salários e a ausência de incentivos ao investimento reprodutivo, são preocupações infundadas dos pessimistas e invejosos - dizem eles.

Não querer ver que o ritmo elevado do crescimento do envelhecimento da população portuguesa e nas implicações desastrosas que terá na sustentabilidade financeira da segurança social, no aumento das despesas com saúde, no aumento das necessidades de equipamentos de assistência social de serviços de apoio dedicados, resultará em desastre no futuro. Não basta adiar a idade da reforma apenas pensando no tamanho e duração do caixa de tesouraria da Segurança Social. É preciso ousar e procurar alternativas possíveis e sustentáveis.

Não olhar para o Sistema de Ensino que temos, formatado para nos tirar dos índices mais baixos da formação académica básica e para capacitar os cidadãos para empregos que à data exigiam um mínimo de quadros qualificados, que agora não serve porque tem formação desajustada à realidade da economia atual, é um erro que vai libertando pessoal qualificado para empregos que não existem, atirando os jovens licenciados para serviços de baixos salários. Não bastam incentivos ao primeiro emprego, antes mudanças na própria formação que responda à procura das necessidades dos empregadores e não à satisfação dos índices de estrutura interna dos estabelecimentos oficiais de ensino, preocupados com aumento de números de alunos e respetivos professores, em vez da satisfação resultante do sucesso de quem qualificou. É preciso coragem para enfrentar uma organização fortemente dotada com os melhores cérebros, mas instalada na sua autonomia do saber.

O recurso à Justiça não trás equilíbrios entre o correto e o seu inverso, entre o permitido e o ilegalmente conseguido, antes, serve de seleção entre os cidadãos de maiores rendimentos que conseguem pagar a bons advogados, e os que aguentam prejuízos por acreditarem num Estado de Direito acessível e tendencialmente gratuito. O Sistema de Justiça encontra-se embrulhado em mares de leis que servem mais das vezes para conseguir iludir quem busca justa resposta, protegendo prevaricadores nas redes do formalismo jurídico, cujos resultados se somam nas prescrições dos processos, defendendo assim os sabedores da impunidade ou a desavergonhados de enriquecimento fácil. Não basta reclamar por mais gente e melhores condições técnicas de trabalho, é preciso reformar o formato do exercício da justiça e o seu suporte objetivo na lei e não no deleite das doutas interpretações de formalismos técnicos.
Sem estas três grandes reformas estruturais as outras fragilidades não serão revertidas.
Temos que nos preocupar com a substituição das pessoas de maior idade por jovens quadros.

Temos que nos preocupar com a mudança do ensino para a formação de inteligências que criem empreendedores e inventores de novas respostas de valor, com qualidade reconhecida.
Temos que nos preocupar em orientar a Justiça para a reposição de equilíbrios, defendendo quem se sente prejudicado e punindo quem beneficia da esperteza saloia e do prejuízo dos outros.
Quem terá a coragem de ousar reformar?
Confesso as minhas dúvidas, mas sei que não serão aqueles que apenas se preocupam em ser vencedores de disputas partidárias de eleições para isto ou aquilo, mantendo o tacanho pensamento de que os outros pensam como eles, tornando-se todos inúteis, para o país e pessoas que nele esperam viver uma vida melhor. Que fracos somos quando aceitamos ser representados pelos destruidores do futuro que de vistas curtas não conseguem olhar mais longe, apesar de se saber que o Mundo não para e que é nas estações solheiras que se preparam agasalhos.?

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