Correio do Minho

Braga, segunda-feira

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Aquela casinha...

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2015-07-04 às 06h00

Escritor Escritor

Graça Hota

Abriu a porta e de imediato a gatinha tentou enroscar-se nas suas pernas, roçando lenta e pausadamente o seu frio focinho rosa.

- Tas mal habituada Perdita... não perdes uma oportunidade... sempre à procura de atenção... que chata...deixa-me!!! E sorria sacudindo a gata que girava inconsolável em volta de suas pernas.

Nesse Outono que teimosamente ia ficando, uma parafernália de folhas, espalhadas numa mistura indefinida de formas e cores quentes, abraçavam o vento, encenando uma dança sem tempo, a tarde despedia-se lentamente. Isadora apreciava deliciada através da janela de seu quarto, a dança das folhas envoltas em pequenos tornados. Sentia-se tão feliz que perdera a vontade de emigrar.
Tinham descoberto aquela casinha, fora da cidade, escondida entre frondosas árvores de um extenso e velho jardim, mal cuidado, por mero acaso, numa das várias incursões à procura de um lugar para ficar não muito longe da cidade, para onde se deslocavam diariamente, ela e sua amiga.
Era pequena, mas à sua volta uma enorme quantidade de terreno por cuidar, fazia parecer ainda menor.
O seu dono, um senhor de oitenta e nove anos algures emigrado no Brasil há anos sem conta, não a querendo vender, colocou-a para alugar a quem prometesse tratar da terra. O responsável por esse negócio tinha algumas propostas de compra, recusadas sucessivamente pelo dono, por não querer desfazer-se dela. Assim, resolveu alugá-la com uma cláusula vinculativa. Só o poderia fazer a quem prometesse cuidar da casa e do terreno envolvente, impondo a seguinte condição:
- O aluguer seria gratuito durante um ano se o interessado prometesse cuidar de tudo como se fosse seu; A casa e o terreno circundante, de modo que se observassem resultados imediatos, quer no aspecto da casa, quer do jardim e terreno envolventes.
Escolher a pessoa indicada não foi tarefa fácil. A casa permaneceu inabitada durante largos anos. Os interessados que foram aparecendo nenhum se mostrara à altura do pretendido pelo dono. Os anos foram passando e a casa ia ficando com aquele aspecto de abandono permanente...
Porém numa tarde de verão fugindo do bulício da cidade, Isa e Vera, amigas inseparáveis, optaram por ir até ao campo e numa dessas deambulações eis que subitamente lhes surge, no meio do nada, aquela casinha... espreitando, escondida, por entre frondosas arvores de um enorme jardim. Mistura de ficção e realidade de fantasiadas memorias de infâncias felizes!!! Que deslumbramento!
- Impossível... tás a ver bem??! Gritaram ao mesmo tempo. Um mês depois mudavam-se para aquela casa. Seus sonhos, finalmente começavam a concretizar-se. As aulas de música dadas por Isadora, não chegavam para os gastos e Vera amiga de infância, também não estava melhor. O curso de arquitetura não lhe garantira um emprego estável. Trabalhava no que ia aparecendo, aproveitando para ganhar algum dinheirito. Juntaram suas economias e com a ajuda de familiares e amigos a casinha de aspecto rústico e abandonado, foi-se transformando num palácio... a ajuda do proprietário, não exigindo o aluguer, durante um ano, foi preciosa. Cada pequeno progresso era fotografado e enviado ao “Seu Quim” com quem mantinham frequente contacto através do twitter. Um ano se tinha passado e o Senhor Joaquim convidou ambas a fazer-lhe uma visita.

- Minhas queridas já tou velho... fiz tudo que gostava na vida, vou morrer por aqui, junto de meus filhos que não precisam de mim para viver bem. Essa casa, a casa onde nasci, não quero vender... quero deixa-la a alguém que a trate bem. Encontrei em vós as filhas que não tive, quero que venham me visitar... Radiantes de entusiasmo aceitaram.
Três meses depois Seu Quim deixa em testamento a propriedade, de alguns hectares e aquela casa, às incrédulas jovens. Anos mais tarde a propriedade transforma-se numa quinta de produção biológica, de referencia, com a marca patenteada “ Seu Quim”.

Aquela casinha tinha transformado positivamente as suas vidas para sempre, graças à desprendida generosidade de Seu Quim.

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