Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2021-01-12 às 06h00
O novo ano entrou em grande. Provavelmente não tem sido é grande coisa: Janeiro tem apresentado determinados pormenores que, se acumulados, virão trazer estragos monumentais. E aí também vai ser em grande, infelizmente. Estes pormenores vão desde a vida política ao mundo da saúde, do clima à democracia. São pormenores (abaixo explanados) que nos deviam fazer parar e pensar, refletir no futuro que queremos – ou não queremos, talvez seja mais adequado.
1. A liberdade da altura do Natal está a apresentar consequências. Os números relativos à infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2 têm vindo a aumentar de forma assustadora, quiçá fruto da lassidão permitida há umas semanas atrás. Não me entendam mal: penso que cada um é livre para decidir de acordo com o que considera mais adequado e, friso, em consciência. Ainda assim, como profissional de saúde tenho vindo a assistir à exaustão dos meus colegas que trabalham nos hospitais e nas unidades de saúde comunitárias, pessoas que não tiveram férias e que o descanso (quando existe) tem sido reduzido para umas horas por semana. Não, não é justo. E, embora me encontre do lado daqueles que acham que os nossos governantes têm feito, em geral, um bom trabalho relativamente à pandemia, na altura não concordei com as permissões estabelecidas para a época festiva e, ainda agora, considero que foi um grave erro. Não é justo para os profissionais de saúde que se encontram, literalmente, a dar a vida para cuidar daqueles que acharam por bem fazer jantares com a família ou que mantiveram hábitos passados de ajuntamentos em cafés e afins.
2. A vacina não nos vem libertar da máscara, do distanciamento social e dos cuidados de higiene. Desengane-se quem assim pensa. A vacina visa a nossa proteção individual e a preservação da saúde pública, mas os cuidados que tivemos até este momento (uns mais do que outros, é certo) devem ser mantidos, e reforçados, pois parece-me, pelos números atuais, que algumas pessoas ainda não entenderam muito bem a necessidade dos mesmos. Talvez esteja a ser demasiado crítica em relação aos comportamentos da população em geral, mas, na realidade, continuo a ver pessoas de diferentes agregados familiares a ter comportamentos de risco: almoços em conjunto sem cuidados, passeios em que uns estão com máscara e outros sem ela, o não-uso do desinfetante,… É doloroso assistir a isto, especialmente porque o nosso Sistema Nacional de Saúde encontra-se em rutura devido à falta de cuidado dos cidadãos portugueses, razão pela qual esse sistema existe.
3. As eleições presidenciais estão aí à porta. Deviam ser adiadas. Sim, já foi dito: existem barreiras anticonstitucionais. Todavia, se até ao momento foram «contornados» determinados aspetos pelo bem da saúde pública, essa é uma atividade que igualmente devia ser ponderada. Volto a referir: estamos perante um descontrolo, e as eleições não irão ajudar ao bem da nossa saúde coletiva. Se as taxas de abstenção têm sido elevadas nos últimos anos, então arrisco-me a dizer que a taxa de abstenção nestas eleições não será diferente. Eu, que considero que todas as pessoas deviam votar (e em particular as mulheres, visto que nos foi negado esse ato durante muitos anos), encontro-me a ponderar seriamente se o irei fazer desta vez, como forma até de protesto perante uma decisão com a qual não concordo. E esta reflexão tem-me deixado com uma certa angústia, pois vejo o ato de votar como um dever.
4. Le Penn veio a Portugal. Não veio passar férias ao Algarve, nem fazer um cruzeiro no Douro. Veio apoiar um partido português, que tem apresentado um crescimento exponencial. Confesso que esta foi uma situação que não me deixou nada confortável: à semelhança de outras realidades europeias, alguns extremos têm ganho poder no nosso país, no entanto sem espelhar doses de sensatez ou prudência. Nada contra os extremos, mas considero que o equilíbrio é algo muito interessante, em especial na política. Sim, é verdade que devemos ser combativos quando necessário, mas o zelo perante os mais frágeis é algo de belo, que o povo português tem sabido preservar ao longo dos séculos. Volto a repetir: Le Penn veio, com um propósito, a Portugal. Nem todos deram conta deste pormenor. É provável que esta seja a grande razão que me faça ir votar.
5. Longos têm sido os dias nos Estados Unidos da América. Terra dos livres, é certo, mas a invasão do Capitólio foi uma gota ínfima de água para o transbordar de um copo há já muito cheio. Confesso que fiquei algo nauseada quando vi as imagens dessa intrusão, em especial aquela que surge com um indivíduo de pelo e chifres numa manifestação de força em plena sala principal do edifício. Mais agoniada me senti quando soube do número de mortos e feridos que resultou dessa pequena excursão, qual visita de estudo. Mr. Trump, esse número é sua pertença, legado que também deixa após a sua (des)governação.
Tem sido um Janeiro bastante completo, e ainda nem quinze dias passaram desde que 2020 terminou. Vamos aguardar as cenas dos próximos episódios, pois, perante o cenário atual, com certeza que há uma certa tendência à sequela. Peço, por favor, para que mantenham os cuidados: usem máscaras, distanciem-se, higienizem as mãos e tudo o mais necessário. Se for um esforço de equipa, o resultado será mais animador.
13 Junho 2025
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