O que há em nós é um supremíssimo cansaço
Ideias
2013-05-13 às 06h00
Foi há 96 anos que ocorreram, na Cova da Iria, concelho de Ourém, as primeiras aparições de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos (Francisco, Jacinta e Lúcia).
Ao longo destes 96 anos, a área geográfica que envolve o santuário de Fátima deixou de ser um pequeno local, desconhecido, para se transformar numa das áreas portuguesas de culto onde anualmente se concentram mais pessoas.
No entanto, as referências às ‘Aparições de Fátima’ sofreram, nos primeiros anos, fortes acções de oposição e até de descrédito, vindas quer das estruturas religiosas, quer das estruturas políticas do nosso país. Basta recordar que quando os dois pastorinhos morreram (Francisco, em 1919, e Jacinta, em 1920) o silêncio das autoridades religiosas e políticas foi quase total.
Apesar do jornal ‘O Século’ ter sido o primeiro jornal nacional a referir-se a estas aparições (23 de Julho de 1917), o certo é que nos quatro anos seguintes as notícias sobre estes acontecimentos foram praticamente inexistentes.
Interessa, pois, entender a forma como em Braga, baluarte do catolicismo português, viu as aparições de Fátima.
À semelhança do país, durante os quatro primeiros anos das aparições de Fátima, as referências feitas pela imprensa de Braga foram praticamente inexistentes. Só ao quinto ano após este fenómeno (1922) é que os bracarenses começaram a ser informados com mais regularidade e alguma profundidade acerca do que se passava na Cova da Iria.
O jornal ‘Diário do Minho’ informava, na sua edição de 14 de Maio de 1922, que “Para Fátima partiram ontem bastantes peregrinos que vão em piedosa romaria Á Senhora de Aparecida”. No entanto, este jornal informava ainda que em Lisboa, “na praça de D. Pedro IV e noutros pontos foram afixados prospectos de protesto contra a peregrinação”.
No dia 24 de Maio de 1922, o mesmo jornal referia que mais de 40 mil pessoas concentraram-se, num dia de chuva, no alto da serra e junto “à capelinha sacrilegamente derrocada”, referindo-se desta forma à capela que tinha sido construída em 1919 e destruída em 1922.
O ano de 1922 foi, desde as aparições, o ano em que mais emoções se verificaram junto à Cova da Iria, uma vez que, apesar do tempo de chuva, permanentemente chegavam multidões a esse local, nomeada- mente “grupos de camponezes e camponesas, a pé e em burros, que estanceiam algum tempo no largo e partem na direcção da Cova da Iria”. (1)
Ao local das aparições, chegavam peregrinos oriundos de vários pontos do país e vindos das mais variadas formas. Para além de “valentes burros de transportes”, chegam ainda vários “carros, carroças, enormes «galeras», como para aqui lhe chamam, que chegam, desentranhando a gente que trazem empilhada”. Mas não eram só os camponeses e transportes rudimentares que chegavam à Cova da Iria. Também chegavam vá-rios “camions, as camionetes, os side-cars, as motas, as biciclettes, os luxuosos automóveis, que vem de Lisboa, de Thomar, de Abrantes, de Gavião até!” (1).
O ano de 1922 foi de facto marcado pela maior multidão a que a Cova da Iria tinha assistido. O célebre jornalista bracarense Constantino Coelho questionava: “Irá o povo por causa da Capela? E lembrava que as pessoas devotas tinham edificado ali uma pequena ermida, tão pequenina que nem podia celebrar a Santa Missa dentro d’ela.”. No entanto, no início de “fevereiro d’este ano, uns infeli-zes cuja má acção a Virgem Santíssima perdôe, foram lá, de noite e com bombas de dinamite destruíram-na, lançando-lhe em seguida o fogo.” (2)
Ainda nesse ano de 1922, o Bispo de Leiria solicitou que estas aparições fossem analisadas com rigor, para se provar a veracidade das mesmas. A partir do ano seguinte, e devido à diminuição da repressão das autoridades, a veneração a Nossa Senhora de Fátima aumentou exponencialmente, devido à colaboração quer das entidades religiosas quer das entidades públicas e políticas.
Apesar disso, só em 1927, passados 10 anos das aparições, é que o Bispo de Leiria presidiu à primeira cerimónia religiosa na Cova da Iria e só em 1931 é que participaram nas cerimónias religiosas todos os membros do Episcopado Português.
No dia 14 de Maio de 1933, o jornal ‘Correio do Minho’ noticiava que estiveram nas celebrações de 13 de Maio cerca de 200 mil pessoas, e que “a procissão das velas, que foi imponentíssima” decorreu sem qualquer registo de alguma anormalidade. Para esta multidão, muito contribuíram as peregrinações vindas de vários pontos do país, e também de Viana do Castelo e de Braga.
À medida que as dificuldades económicas e sociais dos portugueses aumentam, maior é o número de peregrinos que se desloca ao santuário de Fátima. Tal como acontece hoje com os milhares de fiéis que estão concentrados na Cova da Iria.
1) Jornal ‘Diário do Minho’, 24 de Maio de 1922.
2) Jornal ‘Diário do Minho’, 14 de Maio de 1922.
24 Janeiro 2021
24 Janeiro 2021
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