Março é leitura
Escreve quem sabe
2022-12-24 às 06h00
Preocupações com a sustentabilidade fazem hoje parte de praticamente todos os domínios de atividade humana. Sustentabilidade significa a capacidade de manter esses domínios de atividade em funcionamento, sem que os recursos materiais empregues nos mesmos se esgotem ou sem que tenham um impacto ambiental pernicioso, quiçá irremediável.
No caso das atividades ligadas à prática do desporto, dada a sua dimensão global, a situação tornou-se particularmente alarmante, porque a indústria e o comércio de materiais, produtos e serviços para as mesmas, pelo seu enorme volume e externalidades negativas geradas, parecem estar a contribuir significativamente para a morte do planeta.
Os circuitos da ATP e da WTA, por exemplo, são mundiais, envolvem os cinco continentes. O que quer desde logo dizer que os jogadores e as jogadoras que neles participam, com as equipas que os acompanham (treinadores, preparadores físicos, massagistas, psicólogos, etc.), fazem muitas viagens aéreas poluidoras da atmosfera o ano todo. Mas há igualmente o público que assiste a esses torneios, nomeadamente aos do Grand Slam, que se reparte pela Oceânia (Open da Austrália), Europa (Roland Garros e Wimbledon) e América do Norte (Open dos Estados Unidos). O número de pessoas que participa anualmente nesses quatro maiores torneios do circuito tenístico andará perto do das pessoas que visitaram o Qatar entre 20 de novembro e 18 de dezembro para assistirem à 22ª edição do campeonato mundial de futebol: cerca de 1,5 milhões, chegados em 160 voos por dia ao aeroporto internacional de Doha. E, claro, os complexos desportivos e os courts, os sapatos de ténis, as roupas e uma parafernália de acessórios, as raquetes e os sacos para transportá-las, e as bolas.
Atente-se nas últimas, as bolas de Ténis. Nos E.U.A., onde se realizam mais torneios anualmente do que em qualquer outro país, desde que a primeira bola foi produzida em 1874, calcula-se que tenham sido usadas e atiradas para o lixo mais de 7 mil milhões de unidades. De acordo com a Wilson, a conhecida marca desportiva estadunidense, são consumidas atualmente, por ano, no país, por volta de 125 milhões de bolas de Ténis. Para se ter um termo de comparação, se empilharmos umas 300,000 caixas com aproximadamente 400 bolas cada, atingiremos uma altura de uns 50,000 metros, ou seja, a Estratosfera da Terra. E em todo o mundo, têm sido manufaturados em cada ano na última década perto de 360 milhões de bolas de Ténis.
Que acontecerá a esta colossal montanha de borracha fundida com lã ou náilon não biodegradável? Irá acabar em aterros sanitários e levar 400 anos até alcançar completa decomposição. Parece, pois, urgente e, ao mesmo tempo, uma boa oportunidade de negócio, projetar bolas de Ténis recicláveis e reutilizáveis, em vez de destinadas a uso único e descartáveis. O mesmo se diga em relação às latas pressurizadas usadas para armazená-las, qualquer coisa como 120 milhões de unidades por ano se considerarmos que cada uma leva tipicamente 3 unidades. Estas terão de deixar de ser de metal ou plástico, como até aqui, e passar a ser eventualmente de papelão, fabricado com fibras 100% naturais e biodegradáveis. E outro tanto para as raquetes de Ténis, o encordoado que levam e as manoplas.
O Ténis apresenta-se, pois, no presente, como um desporto prejudicial para o ambiente, que terá de evoluir no sentido de se tornar (mais) sustentável. Ainda assim, possivelmente não um dos piores, se pensarmos que cada carro de fórmula 1 emite 50 toneladas de CO2 por ano, o equivalente a 8 voos de ida e volta entre Porto e Tóquio.
21 Março 2023
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