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Ideias
2023-05-28 às 06h00
Segundo os dados do Conselho das Finanças Públicas, publicados em 25 de maio deste ano, o sistema de Proteção Social de Cidadania da Segurança Social, que atribui subsídios ou apoio social a pessoas mais carenciadas, registou um défice de 108 milhões de euros em 2022. Este saldo negativo não era observado desde 2016.
Esta ajuda a pessoas em situação de carência revela o crescente aumento de cidadãos com dificuldades económicas no nosso país. Trata-se de uma situação que deve ser preocupante para uma sociedade evoluída e moderna, como aparentemente é a nossa.
Esta realidade leva-nos a recuar 100 anos, a fim de compreendermos como estava então a nossa sociedade no que diz respeito ao apoio aos mais carenciados.
Em 1923, foi publicado o "Elucidário do viajante em Braga", da autoria de João Pereira do Rio, considerado um bom filho de Braga naquela época, e que atualmente nos serve como fonte de apoio. Nessa obra, ficamos a saber que há precisamente 100 anos existiam em Braga 11 casas de caridade.
Pela importância que estas instituições sociais tiveram, passo agora a recordá-las, de forma breve:
- Asilo dos Inválidos de São José, situado no Largo de Santa Teresa. Este Asilo acolhia os pobres inválidos que existiam em Braga e na região. Foi fundado em 1850 por Francisco de Oliveira Guimarães, com o apoio do Governador Civil de Braga, Visconde de Vila Pouca. A primeira sede deste Asilo foi a casa onde se situava a escola de S. Lázaro, na rua da Água. Em finais do século XIX, após a morte da última freira, o Asilo dos Inválidos de São José passou para o edifício onde funcionava o Convento das Teresinhas.
- Asilo da Infância Desvalida de D. Pedro V, situado na Avenida Central, acolhia todas as crianças órfãs do sexo feminino. Este Asilo foi instalado no antigo Convento de Nossa Senhora da Penha de França, a 12 de maio de 1897, após a morte da sua última freira. Com a proclamação da República, foi anexado a esta instituição o conservatório das Orfãs do menino Jesus, Deus da Tamanca. O nome da instituição passou então para Infância Desvalida.
- Asilo da Mendicidade Conde de Agrolongo, situado na Praça Conde de Agrolongo. Este Asilo foi construído no antigo edifício do Seminário de S. Pedro, a 30 de maio de 1884. Com a morte da última freira que vivia no Convento do Salvador, a 7 de fevereiro de 1893, o Estado cedeu estas instalações ao Asilo da Mendicidade Conde de Agrolongo. Até 1908 foram estas as instalações do Asilo, altura em que o Conde de Agrolongo o mandou demolir, para aí construir um novo edifício, verdadeiramente soberbo para a época. Ainda hoje é um dos mais imponentes edifícios de Braga.
- Colégio dos Órfãos de S. Caetano, situado no Largo da Madre Teresa. Destinado a crianças órfãs do sexo masculino, este colégio foi fundado em 1790 pelo Arcebispo de Braga D. Frei Caetano Brandão. De início funcionou num prédio em frente à Câmara de Braga, onde posteriormente foi instalada a “Farmácia dos Orfãos”. A construção do edifício novo iniciou-se em 1888, no terreno da quinta dos “fidalgos Falcões”, em Maximinos. Neste colégio, eram ensinados vários ofícios, como o de sapateiro e marceneiro, aulas de música e ainda tinha uma destacada banda de música.
- Creche da Associação Católica – Visconde de Nespereira. Esta casa de caridade, que acolhia crianças durante o dia, foi instalada num edifício próximo do Asilo Conde de Agrolongo. As crianças passavam neste edifício a maior parte do dia, sendo-lhes servidas refeições. Esta atividade era apoiada pelo Conde de Agrolongo e ainda por D. José Sanches de Deon Moreno.
- Assistência aos Tuberculosos, situado na então Avenida Visconde de Nespereira. Esta instituição foi criada pelo Conde de Agrolongo com a finalidade de prestar assistência aos tuberculosos. De início colocava à disposição dos doentes alimentação, medicamentos e ainda cuidados médicos, mas devido à crise económica, passou a fornecer apenas assistên- cia média aos tuberculosos.
- Oficina de S. José, criada a 8 de dezembro de 1889, por iniciativa do Arcebispo D. António José de Freitas Honorato e ainda o cónego António Lopes de Figueiredo e José do Egito Vieira (em 1923 abade de S. João do Souto) e que funcionou inicialmente na Praça Mouzinho de Albuquerque. Logo na abertura entraram para a instituição nove “vadios”, cinco deles “retirados dos calabouços da polícia” e os restantes quatro retirados da “cadeia onde estavam condenados”! A 18 de outubro de 1892 esta instituição passou para uma casa na rua do Souto, doada pelo benemérito Manuel Esteves Ribeiro. Tal como o Colégio dos Orfãos de S. Caetano, de início tinha oficinas de carpintaria, sapataria e alfaiate, e ainda aulas de música, desenho e instrução primária. A esta instituição chegavam permanentemente “cidadãos vadios”!
- Escola João de Deus, situada na rua dos Pelames, instituição criada em 1920 para instrução de crianças externas do sexo feminino. Estas alunas aprendiam a ler e ainda a trabalhar em rendas de bilros. Às crianças mais pobres, era-lhes servida uma refeição ao meio-dia!
- Assistência aos pobres, criada em 1922 e situado na rua dos Mártires da República. Foi uma instituição criada por alguns “cavalheiros da nossa terra” e tinha como objetivo retirar da rua algumas crianças que deambulavam pelas ruas de Braga, mendigando!
- Hospício dos Expostos, criada em 1698 pelo arcebispo D. João de Sousa e ocupando posteriormente vários edifícios de Braga. Em 1897 foi instalada num edifício situado na rua do Souto. Tratava-se de uma instituição que acolhia crianças recém-nascidas, abandonadas na “Roda dos Expostos”. Funcionou também num prédio junto da Praça do Município. Esta casa de caridade teve o nome de “Casa da Roda” até 2 de maio de 1871, altura em que a Junta Geral do Distrito acabou com este tipo de casas, passando desde aí a chamar-se “Hospício dos Expostos”. A 8 de janeiro de 1888 este hospício deixou de pertencer à Junta Geral do Distrito e passou para a posse da Câmara de Braga.
- Colégio da Regeneração, situado na Rua dos Pelames, foi fundado por João Pedro Ferreira Airosa. A 18 de agosto de 1869 passou para uma casa cedida por Ana Emília de Jesus Vieira e situada na rua do Areal, ficando com o nome de “Casa do Abrigo”. A 14 de dezembro de 1883 esta instituição mudou para o extinto Convento da Conceição, que foi cedido pelo Estado a 20 de maio de 1880. Na época uma das mais importantes instituições de caridade do país, nas suas instalações encontravam-se oficinas de sapataria, lavandaria, engomadoria, tecelagem, costureira e agricultura.
Todas estas instituições desempenharam, há 100 anos, um papel muito importante, resgatando das ruas e das prisões centenas de crianças órfãs e delinquentes, transformando-as em cidadãos plenamente integrados na sociedade da época. Com o crescente aumento do número de pessoas pobres que atualmente existe em Portugal, que imagem terão de nós daqui a 100 anos?
24 Setembro 2023
24 Setembro 2023
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