Correio do Minho

Braga,

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As células gulosas e orgulhosas

Uma primeira vez... no andebol feminino

Conta o Leitor

2016-08-24 às 06h00

Escritor Escritor

David Lima

- Olha aqui, olha. Vê bem o “post” que um amigo do facebook editou agora mesmo…
- Ai, que horror!!! Deus do céu!
- E da Terra…
- Acho que não deviam pôr dessas coisas no “face”. Haja bom senso! Mas ele tem raízes nas mãos, como as plantas? E essas excrescências monstruosas na cara e na barriga… É mesmo horripilante!
- Uma vez vi um programa da televisão com coisas espantosas deste género. Até me vi forçado a mudar de canal… Felizmente são exceção à regra… O corpo humano, no geral, é uma obra maravilhosa, saudável, perfeito, belo…

O nosso corpo é constituído por muitos milhões, biliões de células. E, tirando essas raras exceções de pessoas com deficiências, elas estão organizadas de forma perfeitamente harmoniosa. O corpo humano é uma máquina espantosa e funciona na perfeição… O homem foi criado com muita sabedoria, muita ciência. Aliás, como todas as restantes coisas.

Pensando bem, estou em crer que as células são mais inteligentes que o ser humano.
- Essa tirada filosófica é que eu já não estou a entender.
É que os países, os governos, as sociedades, a Humanidade, no seu todo, também podiam e deveriam funcionar de maneira harmoniosa, como o corpo. Mas era preciso, claro, que todos quisessem, que não houvesse corrupção, ganância, crime, guerra.

É ver as células do corpo; todas querem o bem geral, o bem do todo, todas trabalham para isso. Todas cumprem os mandamentos, está-lhes no código genético, no genoma… Todas respeitam o cérebro e lhe obedecem. Todas acreditam nele, mesmo nunca o tendo visto, e lhe enviam as suas orações através do seu sistema religioso, o sistema nervoso…

- Olha que pode haver médicos a ler estas coisas… De células percebem eles!
Isso é o menos. Nem todos os médicos são iguais, também há os que são crentes, que são inteligentes, os que sabem o que são metáforas…
Pois, como dizia, a humanidade das células é mesmo uma unidade. Uma unidade verdadeiramente fraternal, em que cada uma se preocupa com o bem comum, com o bem geral, com o bem de todas as outras, com o bom funcionamento do todo, do corpo todo.

- Como é isso de acreditarem no cérebro, mesmo nunca o tendo visto, e lhe enviarem “orações”?
É que nunca se viu uma única célula, seja da tíbia ou do perónio, seja da bílis ou da pele, seja do do reto ou do tornozelo, a dizer “eu nunca vi o cérebro, se calhar não existe, vou deixar de cumprir as orientações supostamente emanadas dele, as convenções… Vou passar a fazer a minha vontade e não a dele. De agora em diante, sou agnóstico em relação a isso de cérebro, ele não existe… Vou deixar de lhe enviar orações, ou seja, informações de sensações…”

- Mas naquele corpo tão deformado, da foto do facebook…
Pois aí terá havido, de facto, uma ou outra célula que se lembrou de se revoltar contra o órgão lá do altíssimo, com o que tem o poder, e tornou-se corrupto, egoísta, cruel, passou a fazer a sua vontade e não a do omnisciente cérebro. E convenceu muitas células à sua volta a aderirem às suas ideias erradas, suas ideias diabólicas. “Vamos açambarcar, vamos desviar, vamos reter aqui muita gordura e muito sangue e muitos nervos, só para nós!” Enfim, um escândalo, coisa nunca vista. Que orgulhosas! “E se for preciso, até nos tornamos cancerosas!” Ora, escusado será dizer que serão condenadas.

- Realmente sem os erros calamitosos dos homens, dos governantes… a vida na terra podia ser um paraíso…
Sim, todos viveríamos felizes, certamente tudo funcionaria bem… O coração cumpre a sua função de modo escrupuloso, bombeia o sangue sem parar, distribui-o com perfeita equidade por todos os órgãos… Estaria certo que meia dúzia de células coronárias se lembrassem um dia de “vamos, mas é, ficar com o sangue todo só para nós” e o resto da população celular ficasse condenada, sem nada? É lícito que governantes sem escrúpulos se apoderem por meios ardilosos de metade do orçamento e o povo continue sempre na miséria? Sem assistência médica, sem apoios mínimos, sem dignidade?
- Ora, escusado será dizer que serão condenados.

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