A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2014-03-23 às 06h00
A um mês do 25 de abril, a Assembleia da República ainda não tem um programa fechado para as comemorações da implantação da democracia em Portugal. Poderia ser uma falha irrelevante, não se desse o caso de se assinalarem, este ano, os 40 anos da Revolução dos cravos, uma efeméride que mereceria, decerto, outra atenção. Na Universidade do Minho, as comemorações iniciam-se a 10 de abril, na Reitoria, com uma encenação protagonizada pelos capitães de Abril e uma conferência que se propõe pensar o futuro da democracia, iniciativas abertas a todos.
Logo que se pensou o ciclo de conferências para assinalar os 40 anos da Universidade do Minho, celebrados no passado 17 de fevereiro, o tópico da Revolução de Abril surgiu como obrigatório em qualquer proposta de programa. Lembro-me que tudo foi desenhado a partir de setembro com o sentimento de que o tempo era escasso para a preparação de tão importante celebração. Faltavam cinco meses para o nosso aniversário e tudo nos parecia demasiado perto. Por isso, é com incredulidade que constato que o Parlamento vai atirando para data incerta os festejos do 24 de abril. Como é possível?
Primeiro lançou-se a possibilidade de as iniciativas terem patrocínios, atirando-se para o domínio público o conceito de mecenato, como se fosse aceitável uma marca ou uma instituição pagarem as comemorações de uma revolução que fez inverter o rumo do país! Cedo se percebeu o disparate da proposta e recuou-se. Depois veio a possibilidade de colocar chaimites da época à porta do Parlamento, mas o exército rapidamente elucidou acerca dos custos que isso implicaria e lá se recuou novamente. Em seguida, aventou-se a hipótese de envolver Joana Vasconcelos, mas a artista plástica recusou-se a participar. Neste momento, anunciam-se dois eventos: um concerto de Rodrigo Leão na escadaria de S. Bento a 26 de abril e uma peça de teatro na Sala do Senado a 30 de abril.
Quem viveu a transição dos regimes sentir-se-á desiludido com tudo isto. Então não há mais nada? Haverá uma conferência intitulada “Portugal nas rotas de abril”, organizada pela Presidência da República, haverá um conjunto de eventos promovidos pela Câmara Municipal de Grândola, haverá o livro de Adelino Gomes e Alfredo Cunha intitulado “Os rapazes dos tanques”, haverá iniciativas das escolas e das autarquias, haverá muitas reportagens, mas não haverá nenhuma entidade que congregue tudo isto e faça de abril um mês que engrandeça aquilo que significou a revolução de 1974 para Portugal.
Na Reitoria da Universidade do Minho assinalaremos a data a 10 de abril com alguns dos seus protagonistas, os capitães de Abril, que reconstituirão momentos da revolução. Seguir-se-á uma conferência onde Adelino Gomes e José Pacheco Pereira irão discutir o futuro da democracia, tendo na plateia os tais rapazes dos tanques que deram nome ao livro que também aí se apresentará.
É claro que o 25 de Abril mereceria muito mais do que isto. No próximo mês serão certamente os media quem melhor celebrarão a revolução de abril, tal como há 40 anos ajudaram o país a melhor entender a mudança que chegava a Portugal: “Às sete da manhã, um amigo telefona-me: ‘Ouça a rádio’. Ouço sem entender: rebentou a Revolução. A Revolução? Que Revolução? Por fim lá vou compreendendo. Toda a manhã a rádio nos vai esclarecendo com notícias. Passámos o dia à escuta. Será possível?” Era assim que Vergílio Ferreira recordava a alvorada de abril em “Contra Corrente”. Quarenta anos volvidos, apetece também dizer: abram os jornais, oiçam a rádio, sintonizem a TV. É aí que estão pedaços da revolução que nos mudou a vida.
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