Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2017-10-24 às 06h00
A demência surge com o desenvolvimento de défices cognitivos múltiplos que incluem obrigatoriamente um compromisso da memória recente e, pelo menos, mais uma perturbação cognitiva, como por exemplo a afasia, um distúrbio da comunicação que interfere na capacidade de processamento da linguagem; ou a apraxia, que se carateriza pela incapacidade de executar movimentos coordenados; a agnosia, que consiste na deterioração da capacidade para reconhecer ou identificar objetos, pessoas, sons, formas; ou até uma perturbação na capacidade executiva e funcional.
Estas perturbações devem ser suficientemente graves para terem repercussão nas atividades de vida diária da pessoa e podem ocorrer na ausência de síndrome confusional. Este problema de saúde leva ao declínio progressivo do funcionamento do indivíduo, nomeadamente no que diz respeito à perda da memória, da capacidade intelectual, do raciocínio, das competências sociais e, quiçá, a uma flutuação do humor. A sua forma mais prevalente é a Doença de Alzheimer, responsável por 50 a 70% dos casos clínicos, e que pode aumentar com a idade, duplicando a cada cinco anos após a sexta década de vida.
O artigo “Epidemiologia da Demência e da Doença de Alzheimer em Portugal”, de 2015, projetou para a população portuguesa valores de prevalência de demência da Europa Ocidental. De acordo com este artigo, em 2012, registaram-se 1 740 óbitos associados à Doença de Alzheimer, porém a carga de morbilidade associada a custos diretos e indiretos tem um maior impacto.
Em 2013, para uma população total portuguesa de 10 427 301 pessoas, estimaram-se aproximadamente 160 287 pessoas com demência, o que corresponde a 5,91% da população acima dos 60 anos de idade. Pudemos verificar, partindo deste valor, que existem entre 80 144 e 112 201 indivíduos com Doença de Alzheimer. Além disso, cerca de 176 250 doentes foram diagnosticados e consumiam antidemenciais, o que representa um encargo financeiro de cerca de 37 milhões de euros/ano.
Ao cruzarmos o resultado de 176 250 pessoas a serem tratadas com fármacos especificamente dirigidos para a vertente cognitiva da demência, com o número total de casos de Doença de Alzheimer (entre 80 144 e 112 201), concluímos que esta doença está ainda sub-diagnosticada. Porém, é necessário esclarecer que existe uma classe de fármacos que tem uma indicação relativamente restrita à Doença de Alzheimer, todavia, estes fármacos podem constituir o tratamento de outras formas de demência.
De forma a obtermos dados mais recentes, recorremos ainda ao estudo de Poirier & Gauthier, que indica que em 2016, em todo o mundo, 15 milhões de pessoas apresentavam Alzheimer e mais de 50% dos indivíduos portadores da doença não recebeu o respetivo diagnóstico ou não foram tratados. A somar aos números apresentados, já considerados alarmantes, existem apenas oito países em todo o mundo com um plano de atuação para as demências, sendo de extrema importância a procura de soluções e abordagens que impulsionem o diagnóstico precoce, que sensibilizem a opinião pública sobre a doença, que reduzam o estigma e que proporcionem um melhor atendimento e mais/melhor apoio aos cuidadores.
Não podemos assumir a demência como parte integrante do envelhecimento, nem assumir que a perda de capacidades é algo normal e inevitável no desenvolvimento do ser humano. É imprescindível que se inicie uma luta no sentido de melhorar esta realidade, dando a conhecer a todos as inúmeras formas de prevenção das demências.
Como enfermeiras, consideramos importantes estes valores no sentido de repensarmos a nossa forma de atuação perante este tema. Os profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, são os responsáveis pela sistematização do cuidado e os que permanecem mais tempo junto aos indivíduos/famílias, pelo que devemos considerar a família como foco de estudo e possíveis intervenções e, não apenas, a pessoa com Doença de Alzheimer e o seu cuidador principal, para que as estratégias de cuidado alcancem mudanças significativas e de realce.
E agora, perante o cenário apresentado, perguntamos: vamos, todos juntos, combater estas realidades?
*texto elaborado com a colaboração de Cindy Pereira e Vânia Lago
13 Junho 2025
06 Junho 2025
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