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As eleições francesas

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As eleições francesas

Ideias

2024-07-17 às 06h00

J.A. Oliveira Rocha J.A. Oliveira Rocha

Há duas semanas não havia nenhum comentador dos diversos canais televisivos que não afirmasse que a Senhora Marine Le Pen ganharia as eleições, muito provavelmente por maioria absoluta, já que havia obtido mais de 30% na primeira volta. Verificou-se no domingo, dia 7, que se tratava de uma ilusão e que as forças de extrema-direita haviam ficado em terceiro lugar. Como explicar esta ilusão?
Para alguns cientistas e economistas, trata-se de um fenómeno que os britânicos chamam de “Wishful Thinking” que se traduz para português como pensamento desejado. Significa tomar os desejos pela realidade e basear as decisões não em factos reais, mas numa realidade fictícia. Trata-se duma falácia que toma a seguinte forma: “Desejo que P seja verdadeiro/falso, portanto, é verdadeiro/falso”.
Este fenómeno é bem mais frequente e comanda a comunicação social, como no caso da guerra da Ucrânia e do conflito de Israel. Em boa verdade, não se pode acreditar em nada do que dizem.
Uma outra explicação pode ser encontrada na ignorância do sistema eleitoral francês, o qual não se pode confundir com o português. Trata-se de um sistema maioritário de duas voltas e não de um sistema proporcional. Assim, o candidato que tiver maioria absoluta no círculo eleitoral, na primeira volta, ganha a respetiva eleição. Se nenhum dos candidatos tiver maioria absoluta, convoca-se uma segunda volta, Este processo leva à desistência de um determinado candidato em favor de outro, exponenciando a possibilidade de ganhar. E foi o que aconteceu. Em muitos dos círculos eleitorais, os centristas de Macron acordaram com a esquerda a desistência em favor de quem tinha maiores possibilidades de ganhar.
Trata-se de um fenómeno há muito estudado e que ficou conhecido por Lei de Duverger, a qual pode ser enunciada da seguinte forma: o sistema proporcional, como o português, tende para formação de muitos partidos independentes; o sistema maioritário de duas voltas, como o francês, tende para a formação de vários partidos que tendem a aliar-se , sobretudo na segunda volta; o sistema de maioria de uma só volta, como o britânico, tende a produzir um sistema bipartidário.
Depois desta explicação simplificada, resta uma pergunta: e agora, como vai funcionar o sistema político francês, tendo em conta que se trata de uma forma de semipresidencialismo, próxima do presidencialismo?
A primeira hipótese consiste em garantir a continuação de um governo centrista e liberal da confiança de Macron (168 deputados), aumentando, porventura com os 46 deputados republicanos; ou, então, entregar a formação do governo à Nova Frente de Esquerda, indigitando um primeiro-ministro moderado, nomeadamente, do Partido Socialista, já que Mélenchon não é facilmente aceite pelos liberais de Macron.
Uma coisa é certa, Macron perdeu as eleições e o seu golpe saiu frustrado, sendo que a estabilidade política francesa corre sérios riscos.
Por cá seria interessante falar da entrevista delambida e preparada da Procuradora-geral da República que passou ao lado dos assuntos importantes e ainda e ainda do ato de fé do ministro da economia que pretende reindustrializar o país com sessenta medidas. Mas fica para aproxima vez.

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