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Ideias
2024-05-28 às 06h00
O clima que rodeia as eleições europeias tem sido sereno e centrado na discussão sobre os temas com verdadeiro impacto na relação entre Portugal e a UE e entre esta e o mundo.
Talvez por força da proximidade com as eleições legislativas, os candidatos têm-se contido em balizas de debate muito razoáveis, sem prejuízo das habituais incursões por temas (puramente) nacionais.
A razão maior deste súbito amadurecimento prende-se obviamente com o momento político atual e com o facto de o Governo estar em funções há muito pouco tempo. Dir-se-ia, se de tubarões se tratasse, que as candidaturas e os partidos que as suportam ainda provam as águas tentando evitar atos falhados que não só claudiquem as suas possibilidades de bons resultados nas eleições, mas sobretudo possam comprometer os partidos na sua liberdade estratégica no futuro mais próximo.
E isso é particularmente sensível no PS que apresenta uma candidata com reduzidíssimo impacto carismático e curtíssimo alcance político. A escolha de Marta Temido é uma opção por um currículo, uma forma de estar e um perfil que misturam a incompetência (sobretudo em temas de latitude europeia) com uma ausência de liderança gritante, tudo encapsulado num comprimido de marca branca, de difícil toma e de soporífero efeito. Se bem que mais placebo do que real, o reflexo dessa escolha, ao contrário do que aparenta, é uma desvalorização da importância das eleições e um atestado de que o PS de Pedro Nuno não é revolucionário, não é sequer evolucionário, é mesmo estacionário, está onde sempre esteve: entre o artificialismo anabolizante e o imobilismo típico do incremento da gordura do Estado.
Se havia momento de afirmação de um modelo distinto e dilacerador do passado recente, até pelo contido risco que as Europeias representam, esse era o destas eleições. Essa dimensão de ambição e novidade que se queria obviamente concentrada nas políticas e na política (e não na imaturidade onde Pedro Nuno já não tem provas a dar) fica naturalmente prejudicada, mas o fenómeno é agravado pela ousadia da contraparte.
A manifesta audácia de apostar num candidato jovem, independente e nascido no berço de um Portugal descomplexadamente europeu e geneticamente democrático, dá à AD um capital de coragem, ousadia e refrescamento que torna claro aos olhos do eleitorado quem vem para mudar e quem vem para que tudo fique na mesma.
A jogada de risco de Luís Montenegro é uma marca que o Primeiro-Ministro já ostenta com a certeza de uma medalha, agora que se torna num padrão a forma destemida e, também por isso, genuína com que tem vivido a liderança do PSD.
Lembramo-nos da forma desabrida como arriscou nas eleições regionais da Madeira (a sua primeira vitória como presidente dos laranjinhas); ato repetido nas eleições regionais dos Açores, com ainda melhor resultado; e está à vista de todos como este é o padrão de atuação por que entendeu orientar a sua vida política, no esteio de um dos mandamentos Sá Carneiristas mais repetidos mas menos praticados – “a política sem risco é uma chatice, sem ética é uma vergonha”.
A diferença entre os dois candidatos dos principais partidos é notória e a es-tratégia delineada para cada um deles ainda mais óbvia a torna: Sebastião Bugalho é para ostentar com orgulho; Marta Temido é para esconder para que não fale muito.
Para lá dos candidatos e do (muito) que eles dizem da visão dos partidos para o futuro do país, não é certo nem líquido que os temas europeus marquem nos portugueses a urgência do voto e a imperiosidade de uma escolha que ditará muito do que será Portugal nos próximos anos.
Claro que, ainda assim, a um europeísta convicto como me declaro, custa que não se sintam palpitações políticas quando se discute o federalismo europeu, que não arregimentem multidões quando se debata a regulação da inteligência artificial ou que se entusiasmem os povos quando se projetam os futuros alargamentos.
Sim, os fortes movimentos pendulares de população imigrante e a forma como a UE lida com este fenómeno é um dos temas críticos, como igualmente crítica é a dimensão puramente económica do aproveitamento dos fundos provindos da Europa.
Mas não nos devemos acantonar numa visão monotemática e maniqueísta que facilite a vida dos extremistas e dificulte a perceção completa deste espaço comum de direitos fundamentais. Uma união de Estados que ao longo de muitas décadas e no seguimento da última grande guerra estabeleceu as bases políticas, económicas e sociais para se tornar um espaço de paz e intrusão entre povos tradicionalmente desavindos.
Reconheço que essa “lição” que a Europa soube dar ao mundo nunca esteve tanto em perigo como hoje. E é sobretudo por isso que é preciso dar vida e ânimo ao projeto europeu. Um entusiasmo que não vive da fadiga de políticos estafados, mas que precisa como de pão para a boca de gente diferente, disposta a ver na coragem de arriscar a verdadeira herança dos pais fundadores da UE.
15 Junho 2025
15 Junho 2025
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