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As lições da História, ignoradas pela Inglaterra

Um batizado especial

Ideias

2019-03-30 às 06h00

Pedro Madeira Froufe Pedro Madeira Froufe

O esquecimento (ou pior, o desconhecimento) da História acaba, normalmente, por se revelar de uma forma pateticamente estrondosa: erros crassos, decisões inconsequentes ou mesmo estapafúrdias que insistem naquilo que essa mesma História nos ensinou a não fazer!
Escrevo estas linhas no dia em que a Câmara dos Comuns (o Parlamento britânico) rejeitou, pela terceira vez, o acordo de saída de Inglaterra da UE, proposto e negociado por Theresa May. Agora, aparentemente - e salvo golpes de asa imprevistos mas, apesar de tudo, desejados e, portanto, ainda possíveis – haverá mesmo um “Brexit” sem acordo, um “Hard Brexit”, a consumar no próximo dia 12 de Abril. Ou seja, um erro em cima de outro: um corte abrupto com a União, depois do primeiro erro que foi o próprio corte (“Brexit”); da parte da União um inevitável fechar da porta com estrondo e na cara, sobretudo, de quem não se quereria atingir: os cidadãos e as empresas. Tudo confuso, se ficar assim, como agora se antevê: eleições para o PE sem a participação inglesa (pelo menos, clarificou-se esse ponto); a questão da fronteira com a Irlanda…como se resolverá? As importações/exportações de cá para lá e vice -versa: como se processarão? Com ou sem taxas? E as relações políticas e diplomáticas? E os trabalhadores (nomeadamente, portugueses) residentes em Inglaterra? E os residentes ingleses, cá? Etc., etc. E – já agora, não menos importante – a situação da “city” londrina, esse grande sucedâneo mundial de “off-shore” não assumido? Como se comportará a UE, tendo em conta, nomeadamente, a recente legislação em matéria de transparência financeira e fiscal? Entretanto, pouco tempo depois de se saber o resultado do “chumbo” no Parlamento, a BMW anunciou, de imediato, a deslocalização das suas fábricas para fora de Inglaterra…Outras empresas seguirão a BMW.
Enfim, a imagem do mais antigo, prestigiado e emblemático parlamento (o inglês), com o seu “mestre-de-cerimónias” a gritar insistentemente “order, order”, também não fica lá muito bem na fotografia. Não só pelas excentricidades típicas (que até nos suscitam um sorriso britanicamente fleumático), mas sobretudo pelo enorme sentido de irresponsabilidade que manifestou, permitindo-se rejeitar sistematicamente a solução menos boa (ainda que apenas numa certa perspetiva interna), sem nenhuma alternativa, sem plano B.
E, agora aqui chegados, ao Parlamento, importa repristinar as lições da História e recuar ao contexto da II Guerra Mundial: a tendência irracionalmente isolacionista do eleitorado inglês que se permitiu afastar Churchill, enquanto primeiro-ministro e substituí-lo, após a vitória dos Aliados (e a vitória, em grande medida, da estratégia desenhada e mantida por Churchill) pelo anódino, inexperiente e irrelevante Atlee, volta agora a repetir-se. O canto da sereia do isolacionismo e da soberania (seja lá o que isso for, nos dias que correm!) fechada e intransponível, da recusa em estar onde naturalmente a Inglaterra deve geopoliticamente estar, pode comprometer o seu futuro e diminuir-lhe o seu peso relativo na cena internacional – deixando simultaneamente moça grave em toda a Europa. Europa esta que se enfraquecerá sempre sem o contributo da especificidade britânica (muito, pouco ou quase nada……não interessa, agora, tentar avaliar).
Embora noutro contexto e com outra realidade política circundante, a decisão inglesa de “brexitar” suscita-nos o paralelo com os erros históricos do eleitorado inglês, no pós-IIª Guerra….Uma narrativa coletiva e uma tendência política pró-isolacionista que abriu caminho para que os Estados Unidos se afirmassem definitivamente como superpotência, também na justa medida (à custa) do enfraquecimento de Inglaterra. Um tiro nos pés, com um tom estranho de…. “déjà vu”!


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