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Ideias
2023-01-22 às 06h00
A presidente da Comissão de Mães de Soldados da Rússia, Valentina Melnikova, referiu, a 12 de janeiro de 2023, que os soldados feridos com gravidade são novamente enviados para a frente de batalha na Ucrânia, ainda antes da sua recuperação.
O sofrimento provocado pela guerra na Ucrânia, há quase um ano, tem reavivado a memória dos piores anos que se viveram durante as duas guerras mundiais.
No primeiro conflito mundial, os jovens soldados minhotos que participaram eram, esmagadoramente, oriundos de famílias humildes e ficaram, durante esse período, praticamente abandonados e sem o contacto dos seus familiares e amigos. Na altura, uma das únicas formas de contacto era através de cartas que escreviam aos familiares e ou a amigos fictícios.
A 14 de abril de 1917, Vicente Braga descrevia no “Commercio do Minho” o ambiente que os pobres soldados portugueses viviam na frente de Guerra ao referir que “já estão combatendo nas trincheiras, ao lado das tropas britânicas, os soldados portuguezes”.
Vicente Braga acrescentava ainda que “os soldados minhotos deixavam “a alegria do campo, onde tudo lhe sorria, onde para elle a vida era de sublime encantamento”.
O apelo à participação de soldados portugueses na Guerra foi feito de forma desesperada, pois “A patria chamou-o n’um lamento angustioso de mãe afflicta; e elle lá foi, deixou a aldeia querida, a sua casinha humilde a alvejar por entre a romaria do arvoredo, vendo rachar a fonte que lhe ouvira trenos de ventura”.
No dia 8 de setembro de 1917 o “Echos do Minho” publicou uma carta de um bracarense que se encontrava na linha da frente, na Flandres, integrado no exército inglês. A carta escrita no dia 20 de julho de 1917, dizia que «No dia 20 (de julho) tornamos a dar entrada nas trincheiras».
O militar bracarense referia que «Nos arredores de onde se combate estão boas casas no chão, egrejas, arvores partidas, e até cemitérios bombardeados e revolvidos de artilharia». Acrescentava ainda que o “sector portuguez é actualmente muito difícil por o avanço nos ter colocado em frente de um bosque.”.
As notícias da participação dos EUA na Guerra eram animadoras, a crer nas palavras desse militar bracarense: «Consta que os americanos vêem também combater ao nosso lado. Se fôr verdade, então é que os alemães apanham uma derrota, devido ao grande numero de aparelhos e aeroplanos que eles tem».
O uso de gás, neste conflito mundial, também foi abordado pelo militar, ao referir que “Os inglezes deitaram gazes asphyxiantes para o inimigo. Os gazes asphyxiantes são muito perigosos, mas nem sempre se podem aceitar”. Ingenuamente alarmado, referiu ainda que “Nós só os podemos deitar quando o vento estiver a nosso favor: e o inimigo também o deita, quando o vento está do lado d’elle. Se isso não fosse, bastavam gazes para darem cabo de nós todos”!
Por fim, refere que em povoações onde se verificavam combates, e ainda restavam algumas pessoas vivas, “o culto religioso ministra-se nas casas particulares, por as egrejas terem sido destruídas pela artilharia inimiga”!
Foi neste contexto de grande sofrimento que surgiram em França, em janeiro de 1915, mulheres e meninas que correspondiam através de carta com soldados na frente da batalha. Para além de cartas essas “madrinhas”, como então ficaram conhecidas, também enviavam aos soldados pequenos presentes tais como alimentos ou fotografias.
A “Assistência das Portuguesas às Vítimas de Guerra”, liderada por Sophia de Carvalho Mello Breyner, foi a associação que em Portugal criou as “madrinhas de guerra”, que surgiram em março de 1916.
A partir desta altura, algumas mulheres bracarenses e minhotas tornaram-se madrinhas de guerra de soldados portugueses que se encontravam na frente de batalha, principalmente na Flandres.
Nesses meses terríveis da Guerra foram muitos os soldados que procuravam em Portugal madrinhas para manterem correspondência sendo a imprensa a principal fonte de procura.
Em Braga, o “Echos do Minho” foi um dos veículos que deu voz a esta ansiedade de soldados e madrinhas de Braga e da região. Assim, foi publicada uma carta vinda de França e datada de 7 de setembro de 1917, de Idalino de Oliveira, n.º 319; João da Silva, n.º 283, Armindo da Costa Araújo, n.º 402, e Camilo Carvalho Tinoco, n.º 425, “rapazes muito conhecidos nesta cidade” de Braga, que pedem “às gentis damas bracarenses que se queiram oferecer para suas madrinhas de guerra escrevam para o seu batalhão”.
No dia 28 de setembro de 1917 o mesmo jornal publicou uma carta de António Rodrigues Lima, escrita em Paris a 11 de setembro desse ano, o qual apelava a uma mulher que fosse sua madrinha de guerra.
A humilde carta começa desta forma: “Saúde e mil felicitações é o que eu do coração desejo a V… como a sua família que eu e todos os camaradas ficamos perfeitamente bem graças a Deus”.
A carta escrita por esse soldado, de Roriz, concelho de Barcelos, revela bem o estado de espírito do jovem, ao referir que “Tem esta por fim rogar-lhe a fineza de no seu jornal apelar para o coração de qualquer senhora que queira tomar o encargo de ser minha madrinha de guerra. Encontro-me presentemente bem, e estou nas trincheiras onde muito necessitamos de notícias dadas não pela família que se encontra inconsolável mas sim por uma pessoa que melhor que ella nos possa enviar o balsam consolador de que carecemos e que são as notícias da terra que nos deu”.
O soldado acrescenta ainda: “Sou natural da freguesia de Roriz concelho de Barcellos, estimava mais que a senhora que se encarregasse de ser minha madrinha fosse do dito concelho, mas se não fôr, valerá o mesmo”.
O militar termina dizendo que “A minha direcção é António Rodrigues Lima, soldado sinaleiro n.º 494 da 2.ª companhia de Infantaria 8 C.E.P França, mas na terra da minha naturalidade sou conhecido por “O Vinagre”.
A identificação dos soldados bracarenses, que apelavam a madrinhas de guerra para que estas elevassem o seu espírito e moral de guerreiro e de homem, merece ser estudada e divulgada, pois muitas destas madrinhas de guerra acabaram por se tornar namoradas e/ou esposas dos soldados com quem tinham mantido esta correspondência!
19 Março 2024
18 Março 2024
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