Correio do Minho

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As Novelas do Sistema Nacional de Saúde

Portugueses bacteriologicamente impuros

Escreve quem sabe

2016-01-12 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Sempre admirei muito quem trabalhava com pessoas e para as pessoas. São trabalhos com uma responsabilidade nas funções que implica uma grande dose de honestidade, de paciência e de compaixão. As pessoas envolvem empenho, dedicação e uma determinada força de vontade para simplesmente estar. Desengane-se quem considera fácil trabalhar com seres humanos - será que cada um de nós estava preparado para, eventualmente, lidar com alguém que tem os defeitos, virtudes e, quiçá, manias semelhantes ou iguais às nossas? Afinal é disso mesmo que falamos: esforçar-se por estar com alguém que é muito parecido consigo, quase semelhante a si.

Os jornalistas e a comunicação social encontram-se num lugar privilegiado na sociedade. Ali, no meio e entre as pessoas. Fazem um trabalho brilhante, quando elaborado com clareza e sem sensacionalismo. Nos últimos tempos têm-nos colocado ao corrente de alguns dramas, quase tragédias, que têm vindo a acontecer nas organizações ligadas ao Sistema Nacional de Saúde.

“Têm vindo a acontecer” não é bem a expressão adequada... “Têm vindo a ser notícia e do conhecimento público” é uma expressão mais acertada - pois os dramas e as tragédias já têm tido os seus cenários fixos nos centros hospitalares e nos cuidados de saúde primários a nível nacional. Apenas, nos últimos tempos, têm sido mais conhecidos…

A verdade é que nos é apresentada uma crise (entre tantas outras…) ao nível dos recursos humanos das organizações de saúde. Ao nível dos recursos materiais, similarmente, existem algumas questões, mas estas ficarão para outras escritas - que dão panos para mangas. Um dos grandes problemas que surge, ou foi surgindo ao longo dos anos, é o número de profissionais que exercem funções nas organizações ligadas à saúde. São poucos, alguns grupos quase escassos, encontram-se cansados e sentem-se negligenciados. Quando abordamos a palavra “cansado”, podemos dizer que alguns se encontram quase em exaustão. E existirá, assim, qualidade dos cuidados de saúde?

Esta realidade deve preocupar, deixar alarmar, fazer mexer. O contexto verdadeiro mostra-nos que a proporção entre enfermeiros e utentes se encontra largamente fora das condições consideradas seguras e normais. Esses contextos apresentam, por exemplo, 20 utentes internados, dependentes, com a presença de 2 ou 3 enfermeiros (este último número já considerado como exorbitante), num turno de manhã, quando seriam necessários, no mínimo, 5 ou 6 destes profissionais. Não entramos dentro dos contextos comunitários, onde se verifica que as consultas de Enfermagem (feitas por atacado, eventualmente por falta de pessoal) são autênticos sprints, um corre-corre que não ajuda aquilo que podemos considerar como cuidados de Enfermagem adequados e competentes. Abordando as questões da saúde mental, temos parcos Enfermeiros Especialistas nesta área - tanto ao nível dos cuidados comunitários como dos cuidados diferenciados. Não se contratam, não se dão oportunidades de formação, não se investe. Ainda assim, consideramos que as gestões e chefias esforçam-se ao máximo para tentar compensar estas perdas, ou eventualmente, estes nunca existentes ganhos humanos com profissionais especializados.

A quantidade - sem falar da qualidade - de enfermeiros que, ou já emigrou, ou se encontra a emigrar, seria essencial para que cada um de nós sentisse mais confiança no Sistema de Saúde que nos é disponibilizado. Vão embora, alguns não voltam, mas todos fazem falta. Com a sua presença, os rácios e proporções entre enfermeiro/utente seriam compensados e o avanço na saúde seria igualmente alcançado. Não é que não o seja neste momento - porém não seria às custas do contínuo esforço, monumental, dos nossos colegas.

Entretanto vão chegando até nós notícias preocupantes e que deixam a população geral quase assustada quando se menciona uma ida, por necessidade, ao hospital. Após a inicial preocupação, o que devemos fazer - além de ir e confiar em quem lá se encontra, pois acreditamos que sejam os melhores profissionais possíveis - é “forçar a barra” governativa e administrativa. Não há energia maior do que aquela que advém dos povos e das comunidades. Cada um de nós, como mero e simples cidadão, pode pressionar, à sua maneira, quem manda e dispõe dos recursos humanos da saúde deste país. Aí, nesse patamar, igualmente demonstram conhecimento os jornalistas e a comunicação social, a realizar aquilo que podem fazer de melhor: o apoio e voz daqueles que ou dele necessitam ou que não a podem utilizar.

Vamos aguardando os capítulos dos próximos episódios que é esta novela da vida real. E vigiando para que o enredo não seja daqueles que se arrasta por um inúmero tempo e inexatas circunstâncias. E vamos igualmente esperando que, quem tem posse de decisão, a adeque às reais necessidades dos utentes - que no fundo somos todos nós.

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