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As oportunidades da economia circular no setor vitivinícola

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As oportunidades da economia circular  no setor vitivinícola

Ensino

2020-10-07 às 06h00

Ana Cristina Rodrigues Ana Cristina Rodrigues

Éinquestionável a importância do setor vitivinícola para a economia nacional. Nos últimos anos, as empresas deste setor fizeram importantes investimentos que se traduziram no seu equipamento com tecnologia de ponta, no desenvolvimento de novos produtos e na consolidação das suas marcas em mercados nacionais e internacionais. Para além dos desafios diários colocados pela economia global e outros inerentes ao caráter sazonal da sua atividade, atualmente, a indústria do vinho depara-se ainda com o desafio da transição para uma economia circular, esperando encontrar, neste novo modelo económico, um conjunto de novas oportunidades de negócio.
O Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC), aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 190-A/2017, define um modelo estratégico de crescimento e de investimento assente na conceção de produtos, serviços e modelos de negócio que minimizem a produção de resíduos e a poluição, no alinhamento com outros compromissos já assumidos em planos e estratégias nacionais e internacionais, como o Acordo de Paris e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. De acordo com o PAEC, “a economia circular, preconizada no Programa do XXI Governo Constitucional, é uma componente da mudança necessária do atual paradigma económico (linear), cujo uso pouco eficiente e produtivo dos recursos extraídos conduz a prejuízos económicos e ambientais significativos (cerca de 63% dos custos de danos ambientais, representando 13% do PIB a nível mundial).”
Para responder a este desafio, as empresas do setor vitivinícola têm vindo a fazer um esforço crescente na reconversão dos seus processos produtivos, integrando processos de reutilização, reciclagem e valorização de subprodutos e águas residuais, com o objetivo de aumentar a sua ecoeficiência e minimizar os impactes ambientais que possam resultar da sua atividade.
As instituições de ensino superior têm desempenhado um papel importante para o alcance deste desígnio, promovendo projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico em parceria com as empresas. É verdade que as operações de vinificação geram volumes elevados de resíduos, como engaços, películas e grainha, que devido à sua composição e cargas orgânicas associadas, ainda representam um encargo socioambiental e um desperdício de recursos na fileira agroalimentar, não apenas em Portugal, mas, também, em muitos outros países produtores de vinho. A adoção de estratégias de valorização destes resíduos, assentes num efetiva segregação e transformação em produtos de valor acrescentado, promovendo a circularidade e sustentabilidade do setor, tem vindo a assumir um interesse crescente. O projeto WAW – waste around the wine contribuiu para a introdução do conceito de economia circular em 12 empresas do setor vitivinícola, incentivando a utilização de resíduos como recurso através da reciclagem e valorização em novos processos produtivos. Os estudos de caracterização de sementes de uvas de diferentes castas confirmaram o seu potencial para obtenção de produtos de valor acrescentado. O óleo de grainha de uva, pelo seu conteúdo em ácidos gordos essenciais e muitos outros compostos bioativos, torna-se bastante atrativo para a indústria alimentar, cosmética e farmacêutica.
Como óleo vegetal alimentar, chega a atingir no mercado o valor de 18 € por litro, se for extraído mecanicamente por prensagem a frio, a partir de uvas produzidas em modo biológico. Os mesmos estudos revelaram ainda que sementes de uvas de castas da região dos Vinhos Verdes podem ser uma matéria-prima promissora para o desenvolvimento de outros produtos com valor nutricional e ricos em compostos fenólicos, reconhecidos pelas suas propriedades antioxidantes, como farinha de grainha. Os engaços e bagaços foram utilizados como substrato para produção de cogumelos de Pleurotus ostreatus, com propriedades nutricionais e organoléticas distintas, em função das castas utilizadas, seguindo exemplos de casos de sucesso inspiradores noutros países produtores de vinho reconhecidos pelo enoturismo, como França e Itália. Este conhecimento abre um conjunto de oportunidades, não só para a indústria vinícola, mas também para outras empresas dos setores agroalimentar, farmacêutico e cosmética. Importa agora definir modelos de simbiose industrial e criar economias de escala que viabilizem a implementação destes processos de valorização de subprodutos, como forma de alcançar o tão desejável crescimento económico, sustentável e inteligente.

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