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As praxes, ainda!

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Ideias

2014-01-26 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Por estes dias, voltamos a ouvir falar de praxes por dois casos diferentes, mas que descobrem uma realidade que convém debater. No Meco, morreram seis estudantes que pertenciam a uma estranha Comissão de Praxes.

Na Universidade do Minho, um docente fez circular esta semana um email interno dizendo-se alvo de uma praxe que tentava impedir que se desenrolasse no interior de um dos Complexos Pedagógicos. Os estudantes, entretanto, contrapõem uma versão diferentes dos factos. A Reitoria abriu um processo de averiguações do que se passou, mas há uma matéria que convém que não passe ao lado de cada um de nós: a legitimidade de certas praxes.

Um ponto prévio: não sou anti-praxes. Olhando para trás, guardo uma memória feliz do meu tempo de estudante. Todas as iniciativas em participei foram sempre integradoras dos colegas novos que chegavam à academia. Hoje, caminhando por qualquer campus de uma universidade portuguesa, encontro com facilidade práticas que me envergonham. Passando num avenida de uma das nossas cidades, não raramente sou confrontada com grupos de estudantes que vexam os mais novos, atirando-lhes uma linguagem obscena e obrigando-os a gestos indignos. Que universidade é esta que estamos a construir? Que estudantes universitários são estes que se mostram nas ruas das nossas cidades entoando canções indecorosas?

Estamos na véspera das provas académicas do primeiro semestre. Este é tempo de estudar, de fazer trabalho de campo, de desenvolver investigações. Com ciclos de estudos cada vez mais comprimidos devido à transformação dos cursos segundo a reforma de Bolonha, não sobra muito tempo para grandes distrações. Como podem os estudantes dedicarem-se às praxes nesta altura do ano letivo? Outra questão: será legítimo invadirem os campi universitários com palavras indecorosas, gritadas em voz estridente, quando se exige concentração máxima?

A Universidade não incorpora a praxe como uma atividade estruturante da vida dos estudantes. Tal não é possível. Nenhum professor e nenhum estudante é capaz de defender isso. A Universidade também não pode admitir práticas que atentem contra a dignidade humana. Nenhum professor e nenhum estudante é capaz de defender isso. A Universidade não pode ser um espaço para uma linguagem ultrajante e para comportamentos obscenos. Nenhum professor e nenhum estudante é capaz de defender isso.

A Universidade não abusa dos seus estudantes, nem maltrata os seus docentes. Nenhum professor e nenhum estudante é capaz de defender isso. No entanto, há determinadas práticas que ganham, de quando em vez, alguma expressividade e fazem caminho. Por vezes, trágico, como parece ter acontecido no Meco.

Apesar de as praxes serem da responsabilidade de um grupo muito restrito de alunos (muitos deles sem frequência regular das aulas) e de as práticas exageradas serem reduzidas, o certo é que são em número suficiente para merecerem a nossa preocupação. Não basta uma universidade produzir regulamentos a impedir esta e aquela manifestação. É preciso mais. Muito mais. É preciso criar um movimento transversal de repúdio por praxes que atentem contra a dignidade das pessoas e que correspondem apenas a momentos em que meia dúzia de estudantes adoptam práticas totalitárias, completamente indefensáveis num Estado de Direito.

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