A responsabilidade de todos
Ensino
2022-10-30 às 06h00
O mês de outubro está a ser marcado por constantes dias de chuva, por vezes intensa, contributo indispensável para minorar a seca que tem atingido o nosso país nos últimos meses.
Se atualmente há explicações científicas para as alterações climáticas, houve épocas em que surgiam posturas populares e religiosas que tentavam solucionar o problema. Assim, é importante recordar que Braga foi, durante muitos anos, um local onde os populares e os clérigos faziam preces sempre que as condições climáticas não eram favoráveis.
Neste contexto, irei recordar três desses momentos sendo que o primeiro ocorreu nos anos de 1521 e 1522, marcados por uma enorme seca em Portugal. As pessoas mais pobres do país, na altura, acorriam a Lisboa, com toda a sua família, para ver se o Rei ou os grandes Senhores os podiam ajudar. Na altura o Rei D. João III, a iniciar o seu reinado, desesperado, ordenou que de todas as regiões do país levassem o escasso centeio e milho que existia, para acudir à fome que grassava em Lisboa. Por essa razão, o Minho ficou ainda com mais dificuldades, propagando-se aqui a fome, a miséria e a peste!
O segundo momento ocorreu dois anos antes do terramoto de Lisboa de 1755, e ficou marcado em Braga por um prolongado período de seca que originou imensas preces e romarias para que a chuva se fizesse sentir. Durante os meses de abril, maio, junho e julho não houve qualquer pluviosidade nesta região, motivo que levou a população a apelar à intervenção divina.
Um manuscrito da altura, transcrito pelo “Commercio do Minho” de 18 e abril de 1896, referia que “Em 31 de maio do dito anno (1753) foi dia da Ascensão de Nosso Senhor. N’este dito dia veio o Bom Jesus da Magdalena Santa, e a mesma Santa para preces de agua, e houve procissão da Misericórdia”.
No dia 20 de junho veio o Bom Jesus do Monte para S. Victor, para as mesmas preces de água, e houve uma grande procissão no dia 6 de julho, e sermão ao recolher, que fez o Padre Duarte.
No dia 13 de julho desse ano “houve outra procissao para o mesmo acima, com o Bom Jesus dos Passos, com sermao ao sair, que fez um Frade Loyo.”
A 20 de julho houve nova procissão, que saiu do Carmo, levando Nossa Senhora do Carmo e Santo Elias, havendo sermão ao recolher.
No dia seguinte realizou-se uma nova procissão, “agora do Senhor das Necessidades de S. Victor, e chegando a Congregação, estava à porta a Senhora das Angústias e alli se fez um sermão, e continuando a procissão, na volta, ao recolher, outro sermão. Estas procissões foram todas realizadas de noite”.
No dia 27 de julho realizou-se uma nova procissão, agora de Santa Cruz, “em que foram os Passos do Senhor e também os Apóstolos pregando, e vindo a procissão pela rua Nova, começou a chover, para delírio dos fiéis”!
Nesse ano de 1753 os bracarenses não se renderam aos efeitos do clima e colocaram toda a sua força, convicção e fé em Deus, não desistindo até conseguirem fazer a chuva regressar!
Depois de meses marcados por procissões e preces por parte dos bracarenses, o poder divino consolou mesmo as populações, premiando-as com a tão desejada chuva!
O terceiro momento ocorreu durante o Inverno de 1895/1896 e a Primavera de 1896. Nesse período praticamente não choveu em Braga, ficando a agricultura, base da economia e da alimentação das populações da época, muito afetada. Era certo que, se num ano houvesse seca ou demasiado frio e chuva, a fome pairava de imediato sobre todas as pessoas.
A 18 de abril de 1896 o “Commercio do Minho” referia que “São grandes os clamores por todo o paiz, acerca da presente estiagem, que tem já causado graves prejuisos á agricultura e ameaça converter o anno corrente n’um verdadeiro anno de fome”.
Nesses meses, em todas as dioceses foram celebradas “preces ad petendam pluviam”, procissões de penitencia e outras “rogações publicas á Providencia” para que acudissem a este pobre povo. Em Braga reuniram-se milhares de crentes, em vários templos, fazendo “supplicas á Virgem e aos Santos da sua particular devoção”.
O mês de abril desse ano, extremamente seco, não sossegou o humilde povo, pois este sabia que “Abril molhado, enche o celeiro e farta o gado”, e “Em abril aguas mil, coadas por um funil” eram essenciais para bons anos de colheitas.
A 21 de abril de 1896 a fonte atrás referida mencionava que “Os horrores da fome, os gemidos das victimas, as lagrimas dos infelizes, são as consequências inevitáveis que se anteveem da acentuada estiagem que vamos atravessando”. Contudo, se os bracarenses não se unirem “todos em fervorosas preces e orações ao Altissimo, por intermédio da Santíssima Virgem Immaculada, para que nos obtenha as graças e favores do céu”, a fome e a miséria não desapareciam! Por isso, mais uma peregrinação ao Sameiro, realizada a 25 e 26 de abril desse ano, e ainda ao Bom Jesus, e mais preces em várias igrejas de Braga!
A 3 de maio de 1896, um domingo, uma procissão comovente atravessou a cidade de Braga. As populações de Padim da Graça, Panóias e Parada de Tibães, atravessaram as ruas da cidade, durante a madrugada, em procissão de penitência em direção ao Sameiro, para pedirem à Virgem remédio para a falta de chuva!
A 7 de maio, à noite, realizou-se mais uma procissão de penitência, agora a partir da igreja dos Terceiros, composta por cerca de quatro mil pessoas, a maioria mulheres!
A 27 de maio a chuva regressou, finalmente, ao Minho e a Braga. A trovoada e a chuva foram intensas, regando um solo que se encontrava totalmente árido.
Em todos estes momentos, as preces dos bracarenses apenas terminaram quando a chuva regressou à nossa região. Por isso, a dúvida: foram as preces que trouxeram a chuva, ou foi a chuva que acabou com
14 Março 2024
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