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As Presidenciais interessam aos partidos?

Automatocracia

As Presidenciais interessam aos partidos?

Ideias

2025-02-19 às 06h00

Artur Feio Artur Feio

Há uns dias escrevi sobre a surpreendente azáfama em torno das eleições presidenciais. Eleições presidenciais, em que os partidos políticos não apresentam formalmente listas, embora nelas nunca se tenha falado com tanta antecedência e de forma tão intensa. E tal acontece praticamente a meio ano das próximas eleições autárquicas. Porque será?
Tem sido interessante assistir ao número de horas e de artigos já escritos para falar sobre eleições que chegam apenas em 2026. A existência de inúmeros protocandidatos nos espaços da direita e da esquerda (alguns assumidos, outros não) ajuda a explicar este fenómeno. A curiosidade de saber que tipo de presidente teremos, depois de Marcelo Rebelo de Sousa, também. Ainda assim, não deixa de ser difícil de perceber a ansiedade nacional e sobretudo partidária em torno deste ato eleitoral.
Mas também se torna interessante compreender o problema que as eleições presidenciais colocam aos principais partidos do arco do poder. O Partido Socialista começou por incentivar todos aqueles com vontade de se afirmarem como protocandidatos para o fazerem o mais rapidamente possível, tendo Pedro Nuno Santos avançado com o desejo de haver apenas um candidato da área socialista. Os nomes mais falados, António Vitorino e António José Seguro, já admitiram que só o farão “…talvez lá para a primavera ou início do verão…”, mantendo o estado de tabu e ignorando a pressão que a direção do partido está a fazer para que se definam. Permitem assim que diversos dos seus apoiantes possam esgrimir argumentos entre si, entre outros mimos públicos, talvez na expectativa que apareça uma candidatura natural, que salve o partido de ter que se obrigar uma vez mais a uma divisão. Nesta fase política, aquilo que mais importa a Pedro Nuno Santos parece ser a expectativa de uma escolha que evite uma… escolha!
Já o PSD viu o seu mais que anunciado candidato apresentar a sua candidatura de forma natural, após praticamente 12 anos de intensa campanha televisiva. Assim começou Marcelo Rebelo de Sousa, numa fórmula que se revelou vitoriosa, assim tentou replicar Marques Mendes. Mas foi nesse espaço de intervenção semanal que o antigo líder do PSD acabou por emitir diversas opiniões sobre barões do partido, muitas em tom bastante crítico, que agora reclamam outras alternativas. A protocandidatura de Gouveia e Melo está a servir de refúgio a diversas personalidades do PSD, nomeadamente sobretudo autarcas, que vão desde Santana Lopes, Isaltino Morais, Carlos Carreiras, Ribau Esteves e até Rui Rio, que equacionam apoiar Gouveia e Melo em vez de Marques Mendes.
As sondagens deviam deixar muita gente a refletir. O país mostra que poderá estar interessado num presidente com passado militar, algo impensável há uma década. O que diz este aparente agrado nacional pela farda? Cansaço dos políticos e da sua forma de estar? Cansaço gerado pela intensidade de um presidente que não gosta do recato e apela à informalidade?
Mas o mais relevante é que Portugal terá importantes eleições autárquicas ainda este ano. Tendo em conta que mais de um terço dos autarcas estão de saída, estas eleições não deixam de ter um tom diferente, pois vão mudar a dinâmica do poder local, num ciclo político renovado. Sobre este tópico, também é surpreendente que o PS e o PSD, partidos com maior implementação local, dediquem tão pouco tempo à discussão, análise e debate do ato eleitoral mais próximo em contraste com o que sucede com outro temporalmente mais distante.
Outro dado interessante é perceber como é que um presidente que imprimiu mudanças tão vertiginosas na forma de representar a instituição permitiu que se esteja a falar da sua sucessão à distância de dois anos do fim do seu mandato. Mediaticamente, Marcelo é cada vez mais passado do que presente. Não deixa de ser uma reflexão interessante para um homem que fez da Presidência o maior palco de comunicação do país.
O que tudo isto parece indicar é a mudança drástica do paradigma nacional. Os ciclos políticos são cada vez mais curtos, a instabilidade do sistema veio para ficar e os portugueses querem mostrar um cartão vermelho à classe política ao procurarem o sucessor para Belém nos recantos militares.
Sinal da mudança dos tempos e da turbulência política que nos assola.

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