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As tarifas de Trump afetam Portugal?

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As tarifas de Trump afetam Portugal?

Ideias

2025-05-10 às 06h00

António Ferraz António Ferraz

O aumento elevado de tarifas (taxas aduaneiras) impostas por Trump às importações de bens dos Estados Unidos (EUA) a nível mundial, nomeadamente os bens importados com origem na União Europeia (UE) não deixará de afetar Portugal em termos do comércio externo bilateral (entre os dois países). Na verdade, segundo a Agência para o Investimento e Comércio de Portugal (AICEP), entre janeiro e novembro de 2024, os EUA representaram um dos principais destinos das exportações portuguesas de bens, situando-se mesmo no quarto lugar do total das exportações de Portugal, dado que, por exemplo, em 2023, as exportações portuguesas para os EUA representaram cerca de 2,0% do PIB português. Sendo assim, dada a importância dos EUA na aquisição de bens nacionais, poder-se-á se questionar sobre o impacto das tarifas de Trump na economia portuguesa. Note-se, que os EUA foram o “principal parceiro extracomunitário de Portugal, absorvendo 7,7% das exportações portuguesas”, apenas superado pelos parceiros da UE, Espanha, França e Alemanha. Por sua vez, os EUA foram apenas o 11º fornecedor de Portugal (importações portuguesas de bens provenientes dos EUA).

Mais ainda, segundo a AICEP, as exportações portuguesas para os EUA, entre janeiro e novembro de 2024, registaram um valor de 9,4 mil milhões de euros, tendo importado 3,4 mil milhões de euros. Portanto, verificou-se um saldo positivo da balança comercial bilateral de Portugal de 6 mil milhões de euros, equivalente a mais de 86% do superavit total da balança comercial nacional para o período em análise de 7 mil milhões de euros. Ora, o Produto Interno Bruto/PIB (em volume) corresponde numa ótica da despesa ao somatório da procura interna (consumo e investimento) e do saldo da balança comercial (exportações menos importações). Quer dizer, por hipótese, se for dada a procura interna e as importações de um país, então, a PIB do país dependerá do comportamento das exportações. Logo, um aumento de tarifas sobre as importações dos EUA provocará um menor volume de exportações de Portugal provocando uma deterioração do saldo da balança comercial bilateral nacional e, como tal, podendo conduzir a economia portuguesa a uma contração do PIB, a um aumento do desemprego, a uma baixa do rendimento disponível e a um menor consumo das famílias. Se a isso, se adicionar o provável aumento da inflação mundial resultante da imposição de tarifas de Trump e prováveis medidas retaliatórias dos restantes países (as importações dos países tornarem-se mais caras). Então, poderá surgir um clima generalizado de estagflação (recessão económica mais inflação), o que se traduzirá num panorama fortemente desfavorável à Portugal e mesmo à escala global.

Os principais bens exportados por Portugal com destino aos EUA referem-se aos produtos de base de que a economia norte-americana necessita, sendo previsível, por isso, que as tarifas de Trump sejam, nesse caso, mais baixas do que a tarifa geral imposta à UE de 20%. Destacam-se, aqui, as seguintes atividades menos prejudicadas: (a) medicamentos produzidos por multinacionais norte-americanas, britânicas e também portuguesas, por exemplo, os casos de Eli Lilly, Hikma e Havione; (b) combustíveis e polímeros elaborados pela Galp e Repsol, respetivamente; (c) produtos de borracha, cortiça ou celulose, de que são exemplos, a Continental Mabor, do Grupo Amorim e da empresa Navigator. Porém, o mesmo não se poderá dizer de setores de produção nacionais onde existe uma forte concorrência internacional e que correspondem as exportações menos relevantes para as necessidades dos EUA. Sendo assim, será expetável que um impacto negativo das tarifas de Trump sejam mais gravosas nessas atividades económicas, caracterizadas pelo predomínio das pequenas e médias empresas (PME). Traduzem, entre outras, as seguintes atividades: mobiliário, calçado, têxtil, alimentar, bebidas, flores e produtos minerais não metálicos (vidro, cerâmica e cimento). Por fim, refira-se que um recente documento de trabalho do Banco de Portugal estima que o “impacto global” em Portugal, com base numa tarifa geral de 20%, conduziria a uma “redução cumulativa” do PIB em torno de 1,1% ao fim de três anos, com os efeitos concentrados nos dois primeiros anos”.

Concluindo, a ofensiva protecionista de Trump pretende acima de tudo impulsionar o investimento dentro dos EUA mesmo que seja feito à custa de criação de um verdadeiro caos mundial. Então, face ao panorama exposto o que poderá Portugal fazer visando mitigar os previsíveis impactos perversos das tarifas de Trump? Dentre as possibilidades, pode-se destacar:
(1) O reforço das exportações portuguesas nos mercados mundiais tradicionais que não os EUA, em particular, no contexto dos países da UE, bem como, diversificar as suas exportações para outros mercados alternativos, nomeadamente a China;
(2) As empresas exportadoras poderão reduzir o impacto reduzindo os seus preços de venda assumindo a compressão da sua margem de lucro;
(3) No caso das empresas multinacionais através da “criação de capacidade produtiva nos EUA, com a formação de instalações de produção neste país”, nesse caso, indo de encontro com a estratégia de Trump de recuperar a indústria dos EUA;
(4) As empresas também podem ser afetadas de forma indireta, mesmo que não exportem para os EUA. Na verdade, ainda se está num “mundo globalizado”, em que a produção de muitos bens encontra-se dispersa por vários países, com cada país a especializar-se numa dada área produtiva. Por exemplo, o caso da indústria automóvel onde “um carro pode ter componentes que são fabricados em diversos países, e pode ser montado noutro país”. Torna-se paradigmático o caso da AutoEuropa em Portugal.
Assim, os fornecedores de componentes automóveis, mesmo que não transacionem com os EUA, podem ver a procura pelos seus produtos baixarem. Então, Portugal poderá criar incentivos de investimento interno pelas melhores empresas mundiais com tecnologias avançadas como a inteligência artificial (IA), sobretudo, quanto a UE e China (por exemplo, empresas da indústria automóvel chinesa).

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