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Até ao fim

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Até ao fim

Ideias

2025-04-23 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Que destino é suposto que cumpramos? Destino, que uns procuram lobrigar em consciência, para que de seus passos não falhem ou dele paradoxalmente se afastem por descuido. Destino, que em seus impasses, reveses e contravoltas tantos de nós se amarguram. Mas destino, também, de que outros desdenham, porque seja conceito parvo e risível, impróprio de há séculos, porque contrário a boa e esclarecida filosofia de vida.
Destino, que compõe por colagem conceptual com atitude religiosa, com vocação, ou com manigâncias divinatórias, com aderência a crenças benévolas ou ao obscuro de superstições, com resignações tranquilas de quem dá tempo ao tempo ou, inversamente, com paralisias de vontade, com fantasmagorias e diluições da pessoa enquanto sujeito afirmativo e batalhador.
Destino, enfim, como coerência ou incómodo ofensivo, como algo que nos prende ou liberta, como conto próprio que acolhemos ou amaldiçoamos. Quem não se revolta contra o que lhe vai parecendo o seu destino? Quem não se veria melhor noutras vestes, noutro bairro, noutro emprego ou em nenhum, mas com carteira inve- jável e vida airosa por prato do dia?
Aceitemos o conceito no que encerra e revejamo-nos no destino de Francisco, em vida sua, levada até ao fim como acto de vontade. Digamos, portanto, que partiu na hora escolhida, tranquilamente, sem drama de maior. Digamos que Francisco não se cumpriria em seu destino se tivesse colapsado antes da Páscoa, menos ainda no dia gloriado da Ressurreição. Sabia que teria de resistir e isso se terá imposto. Sabia que teria de comparecer por vez derradeira com o poder intemporal da sua bênção, despedindo-se, como quem prossegue marcha, mas com os olhos postos na alma e em horizonte celestial.
Revejamo-nos do destino de Francisco, que partindo em segunda-feira de Páscoa nos transmite não os negrumes da morte, mas os alvores da ressurreição, de tal forma que o cantamos, que o gloriamos, mais do que o choramos, que o triunfamos, acima do que julgamos que deixou inacabado, por efeito da transitoriedade que era a sua, que é a nossa.
Fórmulas vãs, dirá quem não se comove com estas coisas, mas fórmulas carnudas e cristalinas para quem professa o cristianismo, ainda que de modo imperfeito. Cristianismo, ou catolicismo mais concretamente, que tanto se quer soterrado sobre os erros de quem o serve, ou de quem dele pecaminosamente se aproveita, e incontáveis são os arqueólogos da desvirtude e da infâmia, porque haja sempre um padre em seu corrompido carácter, ou um serventuário de qualquer obra afecta à Igreja da mesma igualha, que tenha praticado o que hoje nos escandaliza e abertamente se reprova, e assim há quem remonte tão longe como aos anos cinquenta. Para quê: para que fiquemos mais pobres, confusos e desprotegidos?
Faltas individuais tomadas por faltas de corpo. Igreja, religião, clero, que cada um verá pelo prisma que lhe convém, mas igreja, religião e clero que não cabem nas reduções vulgares em que por aí tanto se incorre. Francisco que pelo melhor dos melhores podemos tomar, a despeito de quantas falhas ou faltas de tacto que lhe possam ser levantadas.
Vivemos nas nossas imperfeições e para além delas. Tudo sentimos, e tanto é o que relegamos, e vemos, mesmo o que logo por maldição parece que se varre das nossas consciências. Somos infinitamente grandes, de facto, e desfeia-nos quanto subtraímos à mesa comum, porque não vingue para nós nem frutifique para os outros. Possa o sucessor de Francisco ser o Pastor que o Mundo tanto precisa. Possamos nós auscultar os nossos espíritos e vencer a corrente erosão de Sentido.

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