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Braga, quinta-feira

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Até sangrar

A viagem entre a primeira e a última página de um livro

Até sangrar

Ideias

2020-06-12 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

De cobarde para cima ou para baixo, que nunca sabemos de que forma se empiora a ode com que sangramos um desgraçado. Definha, Centeno, com os venenos da tua ambição. Banco de Portugal? Jamais! E meta-se a pronúncia francesa, por cunho caricatural.
Resumo da vida do senhor de que não disponho, mas bons anos teria servido na instituição a que quereria regressar, não por birra de quem se deseje arrumado com reforma dourada, mas por currículo. Consta que teria querido sair, concluída a campanha de 15-19, mas que o orago magno da Nação lhe solicitara a graça do suplício, prolongamento de pena contra a promessa de dispensa honrosa, assim no horizonte despontasse a quinta sonhada do algarvio, um tudo-nada mais apresentável do que outro que já tivemos na crista.

Finca-pé que o Ronaldete não faz, drible que não tem para treteiros de topo. Talvez Costa o tenha a modos que despromovido, talvez Centeno o tenha sentido e não sentido, isto por andar assoberbado com o Eurogrupo. Talvez se tenha degradado o tu cá, tu lá, talvez tivesse descurado os dotes de grilo falante, para brilho do subsapientíssimo António Costa. Eis que uma Catarina, qual jornalista que incauto Costa pega de emboscada, pergunta por uns soldos para banco-sumidouro. Que não haveria pilim, sentencia o senhor chefe do governo, dinheirame em causa que de rubrica orçamental constava, com data vencida, obrigação a que o solícito ministro das finanças despachara, conforme decisão do conselho de ministros, presidido por um Costa ausente de espírito.

Equívoco que evolui em tragédia. Centeno que condescende em retractar-se pelos mínimos, percebendo nós que, quem mal andara, fora Costa, e que, quem triste figura fizera, fora Marcelo. Chaga insarável. Amor-próprio de Costa e de Marcelo que só com a brisa de velas soltas de Centeno perderia purulências. Mas fique um nadinha, senhor ex-ministro, que temos o vírus, mais o rectificativo.
Presta-se o mago das finanças à derradeira encenação. Urge o parlamento na aprovação de medida legislativa que inviabiliza ou torna abjecta a etapa profissional almejada por Centeno. Aque-d’el-rei que é necessário um período de nojo, para garantir a independência do nomeado perante o nomeador. Independência? Seja: mas não foi por não andar aos caídos que se digladiou, Centeno, com Costa e Marcelo?

Moral da história, de uma história de gentes sem moral, sendo que em tal categoria artes tenha de incorrer quem Centeno flagele, poupando o duo que lhe passa por cima. É óbvio que era Centeno quem teria de sair, porque não há memória de que se remodele um primeiro-ministro por deslizes de língua de palmo e meio, nem que a resignação de um presidente da república se peça por dislates de similar natureza.
Vivemos de glórias miniaturais, exaltamo-nos nos bodes expiatórios que levamos a sacrifício, competimos por calhau, tanto como estamos prontos para um beija-mão, para nos alistarmos num desfile de “sabenças” por troco de migalhas.

Em resumo, não é a Centeno que nos aprestamos a virar as costas, mas a nós, por não vituperarmos o amadorismo popularucho, o discurso de chavões e de inversão de argumentos acusatórios. Quanto a Centeno, o mais certo é que encontre conforto noutras paragens. Penso que o próprio Costa o quererá entretido numa instância internacional, não vá o génio ficar por cá, e saltar-lhe a tampa, uma vez por outra. Não é que Centeno tenha o dom da palavra, não é que o veja a incendiar audiências. Mas nunca se sabe. Entretanto, ficam os umbigos a salvo, aconchegados em seu cotão.

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