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Autonomia

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

Ideias

2013-01-16 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Durante o último fim-de-semana alguém me dizia que o desenvolvimento natural e normal de um ser humano seria a progressão para a autonomia e independência. Não consigo afirmar se concordo ou não com esta afirmação, mas, sem dúvida, assumo que me fez refletir sobre as diferentes facetas da autonomia. E o que a mesma significa nas nossas vidas.
Existe uma associação quase inevitável entre a autonomia e a responsabilidade, na qual a nossa sociedade muitas vezes se molda, nem que seja nos diversos “chavões” que são passados aos jovens em crescimento. Realço que, desta dicotomia advém a liberdade - e esta sim, poderá trazer consequências se não for corretamente utilizada ou até estimulada.
Este estímulo, se não for efetuado de uma forma escrupulosa e adequada, poderá ajudar a desenvolver, quiçá, cidadãos despreocupados e sem vontade para a mudança nas suas comunidades. Porque, honestamente, assusta-me a mais o desinteresse por aquilo que atualmente as diversas sociedades vivem e o mau uso dessa mesma liberdade para decidir e intervir, do que o excesso de uso da autonomia.
A cidadania deve ser exercida de igual maneira na vida pessoal e social, assim como na vida profissional. Em Enfermagem, esta cidadania é espelhada na relação que existe entre os enfermeiros e as pessoas que necessitam dos seus cuidados. Não há como fugir dela. São as pessoas de quem nós cuidamos as melhores avaliadoras deste exercício, tendo o direito de exigir a autonomia com responsabilidade das nossas decisões enquanto profissionais de saúde - porém igualmente fazendo justiça à nossa importância e qualidade de intervenção em saúde.
Pergunto-me muitas vezes se os cidadãos não enfermeiros (e alguns daqueles que também o são…) têm este conhecimento de direito e dever. E ainda se reconhecem o valor da Enfermagem, com o seu grande contributo na área da saúde, tanto a nível da função pública como no âmbito privado. Espero que sim. Aliás, acredito que sim, com toda a liberdade que me é permitida.
Em 1996 (com algumas alterações posteriores em 1998) surgiu o Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros, vulgarmente designado por REPE, que constitui um dos documentos jurídicos mais importantes, em Portugal, no âmbito da Enfermagem. Este documento preconiza seis focos de atuação dos enfermeiros que são a assessoria, a formação, a gestão, a prestação de cuidados, o ensino e a investigação - inerentes a todos os enfermeiros que cumpram funções em território português.
A autonomia dos enfermeiros está igualmente explícita no REPE, assim como a sua complementaridade de atividades com outros profissionais de saúde. Esta autonomia é fundamentada em conhecimento científico, no desenvolvimento de capacidades relativas às relações humanas e, sobretudo, no conhecimento daquilo que é a própria Enfermagem. Porque todos os enfermeiros possuem a responsabilidade de conhecer a sua profissão e o que a direciona, apresentam a liberdade de tomar decisões relativamente ao seu espaço de atuação, e têm o dever de exercer a cidadania profissional. Para a melhor qualidade de cuidados. E para o bem maior da pessoa que necessita destes cuidados.
Após esta reflexão é necessário uma nova questão, que se prende com o fato de querermos, ou não, exercer a autonomia. A nossa vontade é essencial para esta prática e, sem ela, não conseguimos realizar nada mais do que uma cópia do que os outros também realizam. Cópia essa sem conteúdo, por vezes somente com uma forma, sem raciocínio e que se esquiva à responsabilidade. Também nós, enfermeiros, devemos refletir sobre o querer do exercício da autonomia. Exercerá o querer algum impacto sobre a forma como cuidamos daqueles que necessitam da Enfermagem?
Embora ainda não conseguindo totalmente garantir que o ser humano caminha no sentido da autonomia, posso assegurar que esta se encontra presente durante e com os seus diversos percursos - e nesses percursos que compõem as diferentes facetas das nossas vidas. Porque o ganho da autonomia também se demonstra, e são necessários alicerces sociais, familiares e de conhecimento para que exista esta demonstração e prova de que se merece ser autónomo.
Para a Enfermagem, esta demonstração poderá ser estabelecida com heterogeneidade, visto que os nossos focos de atuação igualmente são vastos. Existe por vezes um reducionismo daquilo que são as atividades de Enfermagem, não conseguindo precisar se por falta de manifestação da nossa autonomia, capacidades e competências, ou porque as comunidades assim o pretendem, por simples conforto relativo aos papéis sociais que os enfermeiros apresentam.
Independentemente das razões para este reducionismo, cabe-nos a nós, como Enfermagem, o querer e a iniciativa para a mudança nas nossas atuações, sendo esta cada vez mais pertinente e necessária nos tempos difíceis em que vivemos. Porque não nos podemos despreocupar ou conformar, pois possuímos todos os instrumentos necessários para exercer a nossa autonomia com liberdade. E com toda a responsabilidade que estas pressupõem.

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