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AV PRES WILSON

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AV PRES WILSON

Ideias

2025-07-06 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Valham as apostas: afinal de quem era o apartamento na avenida presidente Wilson? Quem aplica Euro perdedor em como fosse do amiguinho obscuro, desse impedido para todo o serviço, desde o leva e traz de fotocópias à escolha requintada de parquets e revestimentos cerâmicos?
Valham as apostas: alojava-se o Sr. Sousa em apartamento alugado, mas do qual não suportava aluguer, porque lhe viesse com a mesma gratuitidade do ar que se respira, do sol que ilumina e da sombra que refresca, porque capitais sem renda investisse o amiguinho obscuro, dando mostra de não saber fazer dinheiro, o que viria a contrassenso, em atenção aos patrimónios que teria?
Valham as apostas: as comodidades do senhor Sousa, para lá do que os seus proventos permitiam, vir-lhe-iam de abonos da mamã, e abençoada fosse em suas abastanças, mas tão modesta que ninguém lhe suspeitasse os cabedais?
Enfim, arredondemos, um apartamento da av. pres. Wilson não cai do Céu, nem vem por mão de compincha que reclame a Génio um desejo para amigo do peito, porque de sua parte fique servido com dois. Um apartamento em tal avenida, na Montaigne que lhe é contígua, na Georges V, não é para quem se estica, não é para quem faz montinhos de dinheiro a ver se dá, não é para quem esvazia o saco do aspirador com a ilusão de recuperar para apuro uma nota de 50 entrada no cano.
Um apartamento na av. pres. Wilson não é cantinho em que homem maduro, no seu quanto para o teso, em reconversão e estudos, descanse os ossos e coma uma baguete com pobre conduto entre jornadas de debate juvenil na Escola de Ciências Políticas. Aliás, dada a fauna de Sciences Po, até chega a ser absurda a combinação de ambiente tão à esquerda desconstruída com aluno de semelhante encadernação, do sapato por medida a cómodos no super-chique de Paris.
Um apartamento na av. pres. Wilson é um marcador de status, é uma declaração aberta de rendimentos e património no mínimo 10 a 20 vezes superior, é um cartão de visita que suscita deferências e portas abertas ao primeiro contacto. Assim, nos cálculos do senhor Sousa, um apartamento na av. pres. Wilson favorecia-o, mas em quê? Pretenderia entrar na alta-roda da administração bancária e de empresas? Se sim, a que conclusão chegaria quem o investigasse antes de entronização: que as assoalhadas eram do amigo obscuro? Que o condomínio era pago pela mamã?
Se, dando tempo ao tempo, procurava o senhor Sousa uma carreira na política internacional – por exemplo a presidência da Comissão Europeia, da Unesco, ou de uma unidade de missão planetária – e se com esse intuito uma passagem por Sciences Po não destoaria, tanto mais se pelo seguimento viesse um MBA em que em tese rasgasse linhas de futuro, porque boas e realizáveis ideias não há muito quem as tenha, pois nessa hipótese não lhe seria a ostentação da av. pres. Wilson contraindicada?
Por certo daremos que precisasse o senhor Sousa dos ares da estranja, porque lhe fosse um martírio viver às pinguinhas com tanta massa calada. Nada ele tivesse, além do consentâneo, e discreta passagem por Paris ter-lhe-ia aberto futuros, porque ninguém de boa índole morre definitivamente para a política, ver A. J. Seguro.
Quanto à substância: o Tribunal pode não chegar a provar as manigâncias que tanto fruto aportaram, mas o que não consegue, o senhor Sousa, é passar a ideia de que tudo lhe chegou de trabalho honesto, de umas mesadas da mamã e de umas franquezas ou liberalidades de um amigo dos quatro costados.
PS Entretanto, com estadistas tão bons, com gestão tão justa, sucumbem nascituros, porque na Margem Sul não há resposta. Deus nos ajude.

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