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Bela é a lição deixada...

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Bela é a lição deixada...

Ideias

2025-04-28 às 06h00

Filipe Fontes Filipe Fontes

Abril ´25, mês pascal e mês da liberdade, vivido e sentido por todos de modos diversos e com diferentes intensidades, mas, não se duvida, sem indiferença. Afinal, é mês simbólico de ressurreição e plenitude, assumidas em plena liberdade e convicção. A outra comanda a vida e o seu usufruto, que todos ambicionam alcançar.
Todavia, este mês fica também marcado pelo desaparecimento físico de alguns de nós e que, ao longo do respectivo percurso de vida, independentemente da abrangência, intensidade, importância, projecção e impacto, foram fixando marcas e incrustando a si próprios um selo de luta, convicção e perseverança na defesa dos seus valores, ideias e princípios que se assinalam e sinalizam!
De muitos, o autor deste texto destaca três: o Papa Francisco, o engenheiro João Cravinho e o Sr. Manuel (nome intencionalmente fictício). O primeiro assumiu-se como líder da igreja católica há mais de uma década, iniciando um processo de mudança e ajustamento (dir-se-á) ideológico e político, há muito desejado por alguns, temido por outros, pela maioria reconhecido como necessário e inevitável. Apresentou-se como primeiro Papa fora do quadro geográfico europeu e construiu ao redor do seu sorriso e da sua palavra uma aura mágica de esperança e renovação que, é convicção, perdurará no coração de tantos e tantos…
O segundo foi político pleno em Portugal e na Europa, foi dirigente partidário, governante, deputado, fixando dois temas centrais para a sua acção: regionalização e corrupção, concretização efectiva da primeira, mitigação e eliminação da segunda. Constituiu-se voz avisada e atenta que alguns desperdiçaram, outros relativizaram, mas a ninguém deixou indiferente…
O terceiro foi cidadão anónimo, igual a tantos outros, pai e marido, trabalhador e membro da comunidade local, materializando um quotidiano de esforço, labuta e opções, transmitindo os seus valores e princípios bons àqueles que o sucede(ra)m, honrando o saber e valores ensinados por quem o precedeu…
Dir-se-á estranha a menção a estas três “figuras”, aparentemente tão distintas nas suas causas e efeitos, projecção e impacto, tão distintas na relevância da actuação para os outros, tão valorizados e atendidos pelos outros.
Sem prejuízo da dimensão inerente a cada um, algo os une e os torna familiares e referenciados à mesma matriz: os três lutaram pelas suas convicções, pelos seus pensamentos e ideais que foram moldando como bons, pela ética que julgavam, convictamente, dever presidir a qualquer acto ou tempo, independentemente do lugar, da hora e do contexto. Cada um, à sua maneira e feitio, soube resistir à tentação do facilitismo, soube ser resiliente e volver sempre à “essência das coisas”, soube ser pertinente na defesa do melhor e do mais justo, vencendo a oposição do imobilismo e do interesse, a tentação do conforto e do egoísmo, a atracção leve da generalização e da tergiversação. Cada um, à sua maneira e feitio, soube identificar o que de importante e prioritário se revelava para a comunidade – fosse local, nacional ou mundial – e lutar por tal, independentemente de tudo o mais, aceitando a probabilidade grande de “nunca alcançar” e de “ficar aquém”, mas nunca resignando, sabendo que um passo dado em frente, por muito curto que fosse, já seria conquista… e valeria a pena!
Na verdade, dir-se-á que as mudanças efectivas e disruptivas na igreja ficaram muito mais aquém da força intrínseca da multiplicidade dos discursos e palavras do Papa Francisco; que as acções, oralidade e projectos do engenheiro João Cravinho não conheceram “luz do dia”; que a atitude respeitosa e cumpridora do Sr. Manuel, fosse a nível laboral, social ou fiscal (ou outras) contrasta, ainda hoje, com o sorriso irónico de tantos que, à sua volta, não entendiam a rigidez do princípio, quando um pouco de flexibilidade e maleabilidade traria “tanto mais”… Na verdade, dir-se-á que pouco conquistaram e concretizaram em “pedra e cal”, mas não há dúvida de que muito deixaram como exemplo e semente para alimentar e germinar.
Se o legado e a herança são passíveis de medição em função de tudo o que deixamos de material, não há dúvida que existe uma componente intangível, inegavelmente qualificadora desse legado e dessa herança. Chama-se exemplo, exemplo na luta, na opção, na coerência e convicção, na ética!
Este terá sido o “mais do mais” dos três agora mencionados: nunca desistir nem envergonhar, nunca abdicar ou tornear, sempre lutar, e de modo convicto, pela “essência das coisas”, pelos nossos valores e ideias, pelo que interessa e importa à comunidade. Não importa se ganharam ou perderam, se abdicaram ou se poderiam ter sido “bem mais do que o que foram” … Não importa porque souberam ser grandes na ética própria de cada um e, assim, serem maiores na ética comum a todos nós! Foram probos e, assim, maiores!
Que saibamos entender o legado. E melhor o praticar… porque bela é a lição!

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