Segurança na União Europeia: desafio e prioridades
Voz às Bibliotecas
2024-12-26 às 06h00
A história das bibliotecas antecede a própria história do livro. Recuemos a 4.000 anos a.C. aquando das diferentes formas de comunicação humana nas quais se faziam as inscrições nas rochas (exemplo das pinturas rupestres) e nos troncos de árvore, existentes na natureza. Os registos de memória e de comunicação foram encontrando novos suportes e formatos, novos abrigos e arquivos em tábuas de argila (“bibliotecas minerais”) na Mesopotâmia em escrita cuneiforme, assim como em pergaminhos (peles de animais tais como cabras, cordeiros, carneiros, ovelhas) e rolos de papiro (planta). Foram aparecendo as bibliotecas que no seu tempo se iam dispersando por terras dos egípcios, persas, babilónicos, chineses. O papel foi surgindo a partir do elemento natural das árvores, onde muitos árabes e chineses foram arquivando os seus acervos nas bibliotecas. Duas das bibliotecas mais referenciadas na história do livro e das bibliotecas datam da Antiguidade: Ebla (Mesopotâmia) e Alexandria (Egipto). Os seus acervos eram constituídos por placas de argila escritas em carateres cuneiformes datados de 2.500 anos a.C. (Ebla), assim como 40 a 60.000 manuscritos em rolos de papiro num total de 700.000 mil volumes (Alexandria). Nesta segunda biblioteca, sabemos que o seu acervo era organizado em rolos, etiquetados com os nomes dos autores e títulos das obras, dispostos em pilhas.
O livro enquanto objeto que hoje reconhecemos com capa e cadernos com folhas é um objeto mais recente que encontramos só a partir dos séculos XV-XV com os chamados incunábulos, impressos nos primeiros tempos da imprensa com carateres móveis. O desenvolvimento da imprensa e da facilidade em reproduzir textos, foi mais difundida a partir de 1450, na chamada era de Gutenberg. Estas obras vinham imitar os manuscritos, forma mecânica mais vulgarmente usada pelos copistas, muito ligados ao clero e à nobreza. Os incunábulos mais conhecidos são a Crónica de Nuremberg (Liber Chonicarum) de 1493 e a Bíblica de Gutenberg, impresso da tradução em latim da Bíblia por Johann Gutengerg. Das cópias feitas posteriormente, encontramos registo de existência também em Portugal, de dois exemplares na Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa) e Biblioteca Joanina (Coimbra).
As bibliotecas da Idade Média foram sendo criadas e seus espólios preservados sobretudo em Mosteiros e Conventos, por ordens religiosas. O seu papel foi muito importante para a salvaguarda das coleções que hoje nos permitem mergulhar no passado mais distante. As bibliotecas eram as “guardiãs” dos livros e do conhecimento. Nessa altura mais restritos ao clero e à nobreza. De destacar o papel da Ordem dos Beneditinos que segue a mais famosa regra beneditina com a obrigação da leitura da Sagrada Escritura e da cópia manuscrita dos textos sagrados. Estabelece que em cada mosteiro deverá existir um scriptorium (ao jeito de “escritório”) e uma biblioteca. A Ordem de São Bento veio a propagar-se por vários territórios da Europa, tendo também ajudado a multiplicar as bibliotecas e os espaços de escrita e de leitura
Entre os séculos XIII e XVI, na Europa, decorreram importantes mudanças técnicas, comerciais, sociais e de ensino, tendo sido uma delas o surgimento das universidades e das suas bibliotecas. Em finais do século XIII, as universidades criam as suas próprias bibliotecas. Uma das mais citadas foi a Universidade de Paris (chamada de “Sorbonne) que cria a sua biblioteca com a doação de livros de Robert de Sorbon. No Renascimento, assiste-se à procura crescente de livros por parte de nobres e mercadores, pois estes atribuíam-lhes um estatuto social, pelo seu valor estético e patrimonial e pela imagem de apreensão do saber neles constante. A produção mais massiva do livro impresso proporcionou a descida de preços dos documentos e as transações comerciais do livro foram intensificadas. As bibliotecas assumem um papel importante no apoio à educação e à integração social. As bibliotecas vão-se transformando, estando mais acessíveis à população, assumindo-se enquanto espaços de apreensão intelectual, mas tendencialmente de formação cívica e de participação democrática. A informação foi sendo fortemente registada em diferentes áreas de saber.
As Bibliotecas Públicas têm a sua origem no século XIX, com as chamadas “bibliotecas populares”. Foram criadas em vários países da Europa, para dar assistência às populações e à educação. Em Portugal, com a revolução liberal e na sequência da confiscação de bens ao clero, cria-se, em 1834, o Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos, organismo público que irá receber as livrarias expropriadas, sendo este a entidade responsável pela sua redistribuição às bibliotecas. Muita história se pode adicionar a esta grande história do livro e das bibliotecas em Portugal.
As bibliotecas públicas a partir de meados do século XX recebem orientações de várias organizações internacionais e nacionais convidando-as a focar-se no desenvolvimento pessoal do cidadão no seu todo, quer intelectual, cultural e social, tendo suporte não só nas coleções documentais que oferece (físicas impressas e digitais), quer na disponibilização de espaços físicos acessíveis, acolhedores, com ações multiplicadoras de partilha de boas práticas, saberes, formando pequenas comunidades de aprendizagem por núcleos de interesse. As competências de cada cidadão e as áreas em que este pretende melhorar capacidades e saberes estão agora na missão das bibliotecas, sobretudo nas de natureza de leitura pública.
As bibliotecas constituem assim das instituições culturais e sociais mais importantes do sistema de comunicação da memória humana, sendo responsáveis pela preservação e transmissão da cultura ao longo dos últimos séculos. As bibliotecas são o melhor presente que a história nos deu, para a conservação das memórias sensorial, de curta e longa duração. Boas festas para todos. Não se esqueçam de visitar as guardiãs da memória humana mais próximas de si. Presenteie-se.
06 Fevereiro 2025
30 Janeiro 2025
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