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Braga, segunda-feira

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Big Brother Institucional

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2013-09-15 às 06h00

Escritor Escritor

Graça Santos

Passo a passo, olho para trás e vejo que nos últimos dias, um misto de alegria e mistério pairava no ar naquela instituição de acolhimento infanto-juvenil. Eram risos, eram cochichos segredados aos ouvidos confidentes, acompanhados de largos sorrisos apalhaçados, sempre que tentavam adivinhar quem viria a ser escolhido, entre todos os participantes, como o “Grande Irmão” ou Irmã, o mais Amigo ou Amiga, o mais Companheiro ou Companheira, já que esta era uma instituição que não diferenciava o acolhimento por sexo.

O Jogo do Big Brother Institucional havia sido sugerido numa reunião de Equipa formada pelo Psicólogo Henrique, a Socióloga Teresa e a Técnica de Serviço Social, Dra. Sara. Foi esta quem levou a ideia com o objectivo de limar os muitos problemas de integração que vinham a sentir por parte dos jovens recentemente acolhidos. Pretendia tornar os adolescentes e jovens daquela pequena Casa mais íntimos, mais companheiros, mais irmãos dentro da “família” acidental e forçada a que foram votados.

Postos de acordo quanto aos objectivos e regras do grande Jogo a dinamizar, cada membro da Equipa propô-lo na sessão de mini-grupo semanal. A Dra. Teresa, depois de escutar as alegrias ou problemas que cada um desejou partilhar, de anotar as diligencias a fazer para resolver algumas delas, de se informar e de os informar das visitas ou contactos familiares, dos compromissos institucionais, de verificar o desempenho das tarefas individuais atribuídas, de fazer o acompanhamento escolar, entre outras coisas,… no final, propôs-lhes a actividade geral para o próximo mês: O Big Brother Institucional. Definiu o Grande Jogo nestes termos ao seu grupinho:
- Sabem, como muitos de vocês gostam de seguir o Big Brother na televisão, da gente comum ou dos famosos, não importa, à semelhança desses, nós pensamos propor-vos um Big Brother Institucional. Afinal vocês também vivem, a maior parte do vosso tempo fechados numa casa, sem contacto livre com o exterior. Vocês também convivem, dormem, comem ,… com gente desconhecida que não é a vossa família biológica, mas a família acidental que vos tocou nesta Casa e com quem devem aprender a conviver harmoniosamente para poder prosseguir a vossa educação e crescimento saudáveis. Assim, em vez de pensarem na revolta, tristeza ou injustiça que assolou a vossa vida, propomos que imaginem que vocês também são “famosos” e que durante um mês têm as “câmaras de vigilância” a registar todos os vossos actos, para no final do mês elegerem, entre todos e todas, o Grande Irmão ou Irmã, Companheiro ou Companheira o mais Amigo ou Amiga, o mais Solidário, o mais em tudo nas relações dentro desta Casa! … Que acham desta ideia? Alguma dúvida?

A Joana, uma das últimas a ser integrada, levantou a mão para perguntar:
- Onde estão as câmaras de vigilância?
- As câmaras serão os olhos, a mente e o coração de todos vós. Tereis de “registar” todos os gestos, atenções, comportamentos de cada um nas diversas relações que ocorram entre vós para, no final, elegerdes o melhor!
A Joana baixou o braço, descaiu a cabeça e emudeceu num silêncio pensativo enquanto o restante grupo irrompeu num burburinho entusiasta, de risinhos contidos e comentários marginais.
- Então, aceitam ou não este Jogo? - Perguntou a Dra. Teresa.
- Sim, disseram todos, em uníssono, até a Joana.

Começado o Jogo foi muito agradável ver a alegria, o aprumo com que todos “representavam” o papel de “famosos” para as “câmaras”. Nariz empinado e andar de peito inchado, passo medido como na passarela, dar primazia aos colegas para se servir à mesa, ajudar os colegas de quarto a esticar a cama pela manhã, ajudar nos trabalhos de casa ou nas tarefas individuais, entrar na intimidade de um ou outro mais tristonho para se solidarizar com a sua mágoa. No fundo, no fundo foi olhar mais para o outro, do que para si próprio e este esquecimento de si, das suas revoltas e tristezas permitiu a magia de transformar estes sentimentos negativos em bonomia.

Passada uma semana, o Jogo poderia ter terminado porque os objectivos tinham sido atingidos, dado o forte empenhamento com que todos os participantes se envolveram nele. Mas durou até ao final do mês, como o previsto. Já não se via nenhum desintegrado na instituição, já ninguém se dava conta se a família tinha falhado o contacto esperado!

Havia chegado o dia da grande final. Combinaram ir vestidos a “rigor”, (quanto o possível, dado a exiguidade de meios disponíveis), isto é, com a roupa mais bonita, adereços, sapatos engraxados ou sapatilhas lavadas. As meninas tinham maquilhagem à disposição e foi um “ai-jesus” na busca do batom a combinar com as unhas ou a t-shirt…

No grande salão, postos em círculo, desfilaram, um a um as eleições e as razões de cada qual. (Sim eleições e não expulsões. A Equipa introduziu esta nuance em relação ao modelo televisivo. Preferiu que o Grande Irmão fosse sendo seleccionado pelos aspectos positivos e não que restasse entre os candidatos menos negativos). Assim foram sendo colocados no centro do círculo todos os escolhidos e sempre que bisavam, trisavam, quatrisavam… a escolha era-lhes dada uma flor. No fim o jovem que possuísse o maior ramo era o Grande Irmão. Nem foi preciso contar as flores.

Acompanhada por uma enorme ovação a Joana tinha sido a laureada. O Dr. Henrique elevou-a no ar, todos correram para a felicitar, a roda fechou-se à sua volta como num jogo de râguebi e aquele calor humano nunca mais largou o corpo da Joana que chorava compulsivamente de alegria.
- Afinal, não temos um Big Brother mas uma Big Sister - a JOANA MELO, proclamou, emocionada, a Dra. Sara, satisfeita por ter sido a mentora desta ideia com sucesso!

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