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Bolsonaro e as vanguardas esclarecidas

O fim da alternância

Bolsonaro e as vanguardas esclarecidas

Ideias Políticas

2018-10-09 às 06h00

Hugo Soares Hugo Soares

A eleição quase certa de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil tem feito correr muita tinta em Portugal. Articulistas, comentadores, políticos e utilizadores das redes sociais não se têm coibido de deixar a sua opinião expressa com mais ou menos veemência. Quase todos os que se vão manifestando – ou mesmo todos – apresentam as suas reservas, os seus medos e inquietudes face a eleição de Bolsonaro; quando não a sua revolta.
A verdade é que os resultados eleitorais do passado domingo no brasil merecem, creio eu, uma reflexão mais profunda e menos imediatismo. O Brasil vive uma crise social quase sem precedentes, com níveis de pobreza extremos e com índices de criminalidade e insegurança sem igual no passado recente. A tudo isto, soma-se uma classe política corrupta, condenada ou com acordos com a justiça para não haver condenações, em que a dificuldade estava em encontrar políticos de renome sem estarem envolvidos em escândalos de corrupção. É neste caldo explosivo que surge Bolsonaro. Não que seja uma lufada na política brasileira (é político há décadas), mas com um discurso foram do “main streaming”, de quando em vez xenófobo, racista e homofóbico, mas capaz de dizer um conjunto de verdades insofismáveis que abalaram o status quo no Brasil.

Apresenta-se com “ficha limpa” e com vontade e intenção de defender as causas disruptoras que o sistema instalado nunca aceitou. Numa sociedade em que o cidadão tem medo de sair à rua, apresenta-se com altamente securitista; numa sociedade em que a classe média/alta está carregada de impostos aposta na abertura da iniciativa privada, na desburocratização do estado. Num país manifestamente multicultural, escreve no programa eleitoral a necessidade da sociedade se desenvolver sem "diferenciação entre os brasileiros" e sublinha que "qualquer pessoa, mesmo não sendo cidadã brasileira, tem direitos inalienáveis." Critica fortemente o regime de Maduro, mas defende a abertura do Brasil a outros mercados, reduzindo barreiras comerciais e fomentando acordos bilaterais. Estas linhas gerais do seu manifesto eleitoral podem colher maior simpatia ou maior rejeição pela avaliação política/ideológica que cada um tem do que deve ser uma sociedade. Podemos ter, cada um de nós, uma visão concordante ou não com o programa eleitoral sufragado.

Podemos até ter, todos, uma visão manifestamente critica das posições que, como disse, raiam o racismo e xenofobismo defendidas por Bolsonaro. Mas será que temos a legitimidade pessoal de pôr em causa a consciência individual de milhões de votantes (e convém lembrar que a maioria esmagadora dos brasileiros residentes em Portugal votaram em Bolsonaro) que deram a votação maciça no candidato da Direita no Brasil? Pois era este o ponto a que queria chegar: eu creio que não. Não aceito vanguardas esclarecidas, nem alvarás passados pela esquerda a ninguém como se fossem carimbos de autorização para governação. A democracia fez-se e constrói-se da vontade livre de um povo. Das maiorias que o compõe e do confronto de ideias. Os atestados de inferioridade intelectual que alguns querem passar às maiorias que escolhem o que eles não querem são, esses sim, um perigo paras democracias porquanto parecemos viver tempos em que umas certas minorias querem impor a todos o seu como o pensamento dominante. Mas se é aceitável que qualquer minoria procure, democraticamente, impor o seu pensamento como o mais valioso, os tempos em que vivemos é o dessas minorias querem impor o seu pensamento como o único e sobretudo como o único correto. Os que pensam de forma diferente não servem. Estão errados.
Da minha parte, não cederei nunca a vanguardas esclarecidas que não passam de resquícios de regimes que renego. Como renegaria Bolsonaro.

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