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“Bons e maus Papeis”

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“Bons e maus Papeis”

Voz às Escolas

2018-09-17 às 06h00

João Andrade João Andrade

No passado dia seis deste mês, apesar de o ano letivo ainda não ter começado, mas como a Educação é uma missão permanente e as oportunidades educativas não se devem desperdiçar, um grupo de cerca de vinte alunos do ensino secundário do nosso agrupamento esteve na Universidade Católica do Porto com Philip Zimbardo, mentor de um projeto que abraçamos o ano transato, o Heroic Imagination Project.
Philip Zimbardo, Professor Emeritus da Stanford University, na Califórnia, é considerado um dos psicólogos mais influentes do mundo. A sua notoriedade surge a partir da conhecida Experiência da Prisão de Stanford, que inspirou, em 2015, o filme The Stanford Prison Experiment, de Kyle Patrick Alvarez, no qual foi consultor.

As investigações de Zimbardo sobre os processos de legitimação da violência levaram-no recentemente a procurar estudar o reverso da medalha, ou seja, os processos que conduzem ao comportamento altruísta e heroico. Recentemente, fundou o Heroic Imagination Project (HIP), https://www.heroicimagination.org/, um projeto internacional do qual a Universidade Católica do Porto é parceira e que visa combater a indiferença social, fomentando atitudes e comportamentos prossociais, através da educação para o heroísmo quotidiano.
É precisamente através de uma parceria com a Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto (um particular agradecimento à Dr.ª Mariana Reis Barbosa, Coordenadora Nacional do HIP e Professora Auxiliar da Faculdade, pelo apoio) que o nosso agrupamento está a ser pioneiro na implementação do HIP em Portugal, tendo, no ano letivo transato, quatro turmas do 10.º ano participado num estudo piloto de implementação deste projeto.

No encontro no Porto, os alunos da ESAS tiveram fantástica ocasião de, num contexto informal e por cerca de meia hora antes da sua palestra, terem toda a atenção de Philip Zimbardo, que nuns lúcidos 85 anos, com eles interagiu e desafiou a apresentarem questões.
Na palestra subsequente, o Emérito Professor deixou claro o objetivo do HIP: Treinar Heróis do Dia a Dia, para, mesmo nas mais pequenas situações do quotidiano, abandonarem o estatuto de passantes indiferentes e auxiliarem o próximo, ainda que desconhecido.

Na altura, foi-nos impossível não fazer a ponte com outra palestra superior que teve lugar na ESAS há cerca de um ano, ministrada por Werner Reich, sobrevivente de Auschwitz. Também nela e também do alto de uns lúcidos 92 anos, Werner Reich urgia-nos, como mensagem final, a deixar o papel de “boa gente que nada faz” para assumirmos o papel de Justos como forma de proteger as Vítimas e combater aqueles que constroem horrores, numa assunção coletiva do mal.
É gratificante perceber, em ambos, que a idade nos traz a clareza de perceber a necessidade da urgência de cada um deixar de ser mais um dos indiferentes e tornar-se, ao invés, em agente ativo na defesa do próximo.
Já presente na fase inicial do trabalho de Philip Zimbardo, na Stanford Prison Experiment, bem como agora no HIP, é o condicionamento que a assunção de papéis nos faz, bem como somos levados a assumir diferentes comportamentos, bons e maus, conforme os exemplos que assistimos. Na experiência, a um grupo de estudantes voluntários foram atribuídos aleatoriamente papéis de carcereiros e prisioneiros numa prisão simulada nas caves da Universidade de Stanford.

A experiência, destinada a durar duas semanas, termina ao fim de somente cinco dias precisamente pelo extremo condicionamento e afetação que o papel que assumiram estava a causar em cada um dos intervenientes, incluindo o próprio Zimbardo, que tinha assumido o papel de superintendente da prisão simulada.
Uma das dimensões centrais do nosso Projeto Educativo é precisamente a necessidade de cada um, neste caso na Escola, não assumir acriticamente o papel que lhe é destinado, mimetizando ações, mas sim refletir o impacto de cada uma das suas ações para o fim que se pretende atingir.

Entendemos que a comunidade diária da Alberto Sampaio (pais, alunos, professores, não docentes, equipa diretiva e entidades próximas) tem sabido responder com qualidade e entrega a esse desafio. Eventualmente, será essa a razão por que cada vez mais famílias tem confiado a esta comunidade o sucesso educativo dos seus filhos. Tudo faremos para estar à altura dessa confiança. A toda a nossa comunidade (e à grande comunidade educativa de Braga), os votos de um excelente ano!

Numa nota final, menos positiva, relativa a um papel eventualmente menos bem executado: numa área prioritária, entregue, dia a dia, ao pessoal não docente, que é garantir que as crianças e jovens estudam num ambiente de segurança e integridade, o Poder Central tarda em garantir os recursos humanos que a própria legislação que publica define como necessários. Principalmente na nossa escola secundária, é muito significativo o número de assistentes operacionais em falta, obrigando os restantes a um esforço acrescido, do qual não se sabe o fim. Um dos papéis assumidos pelo Estado é o de Pessoa de Bem. Poder estar, eventualmente, a pôr em causa a aprendizagem de crianças e jovens num ambiente seguro e higiénico, é garantidamente não estar à altura desse papel.

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