Certamente que, no decorrer do ano anterior, ouviu falar da candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura. Braga’27 estava por diversas partes, desde outdoors, até às notícias nos jornais. Contudo, apesar de toda a confiança no processo de candidatura, no final do ano Évora foi a cidade eleita para 2027.
Mas o que aconteceu afinal, a todo o portefólio do processo de candidatura? Apesar de Braga não ter sido a cidade eleita, houve um projeto desenvolvido que não deve ficar esquecido no tempo. Fomos uma das cidades selecionadas para ser capital portuguesa da cultura, e devemos trabalhar tal nomeação com brio e orgulho. Afinal, independentemente dos títulos, quem mais beneficia de ter uma boa estratégia cultural é a cidade e os seus cidadãos.

Estamos a alguns dias de viver um dos “momentos maiores” da nossa cidade, e falamos, claro, da Semana Santa de Braga. Uma semana que é vivida intensamente na cidade que se veste de roxo e emana o cheiro a incenso. Mas será que preparamos culturalmente a Semana Santa, atribuindo-lhe a verdadeira importância?
Sendo considerada, por todos, um dos cartões-de-visita da cidade, nesta época Braga inunda-se de turistas e os seus cidadãos saem à rua para participar em todo o seu quotidiano.
Numa breve análise pelo Programa Cultural, percebemos que está recheado de concertos e exposições alusivos à Semana Santa, e que decorrem durante cerca de um mês, culminando a 15 de Abril com o Concerto de Pascoela. Contudo, achamos que existe uma grande oportunidade de melhoria do programa no que à cidade diz respeito.

Talvez a criação de um roteiro temático, quer para quem nos visita, quer para quem cá vive, possa dar a conhecer mais de perto as nossas tradições. Também a ausência de visitas guiadas é notória no programa cultural, onde apenas são mencionadas em três monumentos: a Igreja de S. Victor, a Igreja da Sra-a-Branca, e a Capela de Guadalupe, e que decorrem durante a Semana Santa, sendo uma excelente oportunidade de aproximar a cidade das pessoas.
Acreditamos, também, que para uma época que dá um elevado retorno financeiro a toda a cidade, parece-nos que o investimento por parte da CMB de 40 mil euros, poderia ser majorado, acompanhando a estratégia turística a cultural, podendo daí advir retorno.
Afinal o município investe muito mais em atividades mais efêmeras que não trazem o mesmo prestígio à cidade, nem tão pouco o mesmo retorno, como é, por exemplo, o caso da Noite Branca de Braga.

Acreditamos que o programa cultural de uma cidade, independentemente dos títulos da mesma, deve ser cuidadosamente planeado e pensado de forma estratégica. Os investimentos devem ser medidos, sempre considerando o retorno. Apostar na Semana Santa é, na nossa opinião, apostar num dos principais cartões-de-visita da cidade, é apostar em tradição e em história. Enquanto apostar, por exemplo, na Noite Branca, é apostar num programa que tem sido culturalmente cada vez mais pobre, destacando apenas os concertos. É, também, apostar num programa que não nos distingue, pois são inúmeras as cidades que nos dias de hoje têm uma “Noite Branca”.

Ressalvamos que não estamos contra a cidade ter uma Noite Branca, principalmente, quando recordamos a primeira edição, no ano de 2012, repleta de vida. Em 2012, existia um percurso cultural que convidava todas as pessoas a percorrê-lo. Nesse ano, foram inúmeras as escolas e associações envolvidas na iniciativa, algo que, infelizmente, se foi perdendo. A cidade estava decorada a rigor e transbordava cultura. Parece, contudo, que os nossos representantes políticos já esqueceram as primeiras edições, ou simplesmente optaram por atribuir um novo conceito à Noite Branca de Braga.
O importante é, acima de tudo, que pensem em Braga como uma cidade cultural, uma cidade que está repleta de oportunidades. Afinal, independentemente do título, Braga irá sempre viver 2027; Braga’27 irá sempre acontecer, só depende de nós!