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Braga, quarta-feira

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Braga ama os TUB, mas não há serviço de qualidade!

A armadilha da gratuidade universal

Braga ama os TUB, mas não há serviço de qualidade!

Ideias

2023-10-22 às 06h00

Mário Meireles Mário Meireles

As fronteiras entre concelhos não estão sinalizadas, mas sabemos que estamos em Braga quando vemos um autocarro ou uma paragem dos TUB - Transportes Urbanos de Braga
Não há dúvida de que os TUB chegam a todo o concelho e, enquanto serviço público, considero importante que o façam. Praticamente toda a população tem uma paragem dos TUB a menos de 300 metros de sua casa. É uma realidade. Mas só isso não é suficiente. É preciso que haja serviço. Haver serviço é ter frequência nas linhas, isto é, o autocarro passar várias vezes na paragem a horas, sem atrasos e sem adiantamentos. 
Mas o que é que se considera um serviço atrasado, adiantado ou inaceitável? Um serviço atrasado é aquele que chega à paragem para lá da hora prevista num máximo de três minutos. Um serviço adiantado é aquele que chega à paragem antes da hora prevista, num máximo de um minuto. O autocarro que passa na paragem mais de um minuto antes da hora prevista ou um autocarro que passa na paragem mais de cinco minutos depois da hora prevista, então considera-se inaceitável. Isto são os indicadores de qualidade de serviço de transportes urbanos em cidades europeias. Uma empresa certificada em vários normativos sabe isto.
Hoje temos mais de 90% das linhas regulares dos TUB com níveis de serviço inaceitáveis.
O motivo não são as obras da cidade, nem os mais 20 mil carros que passaram a circular este ano em Braga. O motivo é a inexistência de vias BUS reservadas e com prioridade semafórica para os autocarros.
A via BUS da Rua do Raio, depois da remoção dos mecos, passou a ser uma via de circulação de automóvel, pois a via da esquerda serve de estacionamento em 2.ª fila, desde a sede do PSD até à Vodafone. A via BUS do colégio D. Diogo de Sousa não vai de rotunda a rotunda para dar prioridade a estacionamentos automóveis. A via BUS na Avenida 31 de janeiro só existe temporariamente e nem a conseguiram fazer em toda a sua extensão.
Podemos, portanto, dizer que a cidade de Braga não tem vias reservadas ao transporte público, que o tornem competitivo e garantam que este cumpre os horários.
O trânsito automóvel leva os TUB a níveis de serviço inaceitáveis, não cumprem qualquer horário. Mas isto só acontece porque o Município não cria as condições necessárias para que o transporte público seja efetivamente competitivo e atrativo. Qual é o resultado? Perda de clientes e de credibilidade.
A população de Braga aumentou. A taxa de crescimento, de 2011 para 2021, foi de 6,52%. Mas passamos a ter mais pessoas a usar o autocarro? Não.
Olhar para o indicador “Passageiros Transportados” é olhar para uma falácia. Porque simplesmente a partir dele sabemos quantos títulos foram validados num determinado período. Ora se uma pessoa que usava o autocarro 4 vezes por dia e passou a usar 6 vezes por dia, isso vai traduzir-se em “mais passageiros transportados”, mas na verdade, não há mais pessoas a usar o transporte público.
E mesmo assim, se olharmos para número de passageiros transportados por km, nunca houve um valor tão baixo, desde 2008, como o de 2022 (ignorando os anos da pandemia Covid19). Em 2008 os TUB já transportavam 2,10 passageiros por quilómetro percorrido, em 2022 regrediram para 1,79 passageiros por cada quilómetro percorrido.
A explicação para a falta de atração de passageiros e uma maior quota modal do transporte público é simples: falta de infraestrutura dedicada.
Um exemplo: das Camélias à Senhora-a-Branca são 2 quilómetros, um percurso de 10 minutos de autocarro e de 30 minutos a pé. Uma pessoa que entre ao trabalho às 9h, tem que apanhar o autocarro das 8h para ter a certeza que chega a horas, porque, numa linha que passa de 15 em 15 minutos, como a Linha 74, não tem garantias que o autocarro passa mesmo às 08h45 nas Camélias, e não tem garantias que às 08h55 chega à Senhora-a-Branca. No regresso pode demorar uma hora e meia! Inaceitável.
A Avenida da Liberdade, a Avenida 31 de Janeiro, a Avenida Padre Júlio Fragata, a Avenida João Paulo II, a Avenida João XXI, a Avenida Imaculada Conceição, a Avenida Frei Bartolomeu dos Mártires, já deveriam há muito tempo ter vias dedicadas ao transporte público e ciclovias. Não têm porque a Câmara Municipal de Braga não quer.
Não podem continuar a atirar-nos areia para os olhos dizendo que o serviço de transporte público agora está muito melhor. Não está, e se não fizerem nada rapidamente ao nível da infraestrutura, mesmo antes de um qualquer “BRT”, o serviço dos TUB continuará a degradar-se. 
Braga precisa de mudanças rápidas e eficientes na infraestrutura. Pequenas vitórias para os modos sustentáveis. Não basta ter o discurso afinado, é preciso ter a ação afinada também.
Um serviço de qualidade é um serviço que atrai mais pessoas. A mobilidade induz-se.

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